No dia 4 de abril participamos da maior degustação em que já estivemos até hoje: a Top Italian Wines Road Show, promovida pela Gambero Rosso, no hotel Unique, em São Paulo. O evento, que faz parte do calendário internacional dos vinhos italianos, passa também por países como Estados Unidos, Rússia, China e Índia. O objetivo é divulgar os vinhos italianos e contribuir para aumentar cada vez mais sua participação no mercado internacional.

Em São Paulo, estiveram presentes mais de 60 produtores italianos, que colocaram cerca de 300 rótulos para degustação. Claro que não conseguimos provar nem 10% disso, portanto vamos falar neste post somente dos vinhos que experimentamos. Com exceção da Allegrini, que nos convidou para o evento por meio da assessoria de imprensa da sua importadora, a Inovini, todos os demais produtores foram escolhidos aleatoriamente. A variedade era muito grande e a vontade de conhecer maior ainda.

As provas

La Poja Monovitigno Corvina Veronese 2009 e Amarone Della Valpolicella Classico 2011

La Poja Monovitigno Corvina Veronese 2009 e Amarone Della Valpolicella Classico 2011, da Allegrini

Chegamos ao evento no final da tarde e já estava lotado por um público especializado: imprensa, sommeliers de restaurantes, compradores de grandes redes. Pudemos encontrar vários conhecidos e sermos apresentados a outros tantos.

Começamos pela Allegrini, da região de Valpolicella, uma das vinícolas italianas mais premiadas e reconhecidas no mundo e que em 2016 foi eleita a vinícola do ano.

Em seu stand conhecemos dois vinhos extraordinários: La Poja 2009 e um belo Amarone Della Valpolicella Classico 2011. São vinhos marcantes, de guarda. Com segurança eles têm potencial de evoluir por, no mínimo, dez anos.

O La Poja é um vinho potente, com perceptível presença de madeira. Varietal 100% Corvina Veronese, apresenta uma cor escura e aromas de frutas negras. No paladar, um toque um tanto adocicado, mas que remete apenas à ideia de que ainda há muito o que evoluir na garrafa.

Um Amarone já é um vinho especial apenas pelo fato de como é produzido, a partir de uvas que passaram por um processo de secagem – a chamada passificação. Este apresentava uma certa acidez no paladar, mas estava muito redondo. O aroma era marcante, de ameixa em compota.

Como já comentamos, com exceção da Allegrini, que nos convidou, os outros produtores foram escolhidos aleatoriamente e o seguinte foi o Velenosi, vinícola fundada em 1984 na região de Ascoli Piceno, produtora também de azeites. A Velenosi estava representada por dois vinhos brancos e três tintos: Espumante Passerina BrutVilla Angela 2014Lacrima Di Morro SuperioreLudiRoggio.

Espumante Passerina Brut e Villa Angela 2014

Espumante Passerina Brut e Villa Angela 2014, da Velenosi

Pode até parecer um comentário muito amador, mas os vinhos chamavam a atenção de longe por diversos aspectos.

Os vinhos brancos eram brilhantes, luminosos, impossíveis de passar despercebidos, como se pode conferir na foto que tiramos.

O primeiro foi um espumante produzido a partir da uva Passerina, o Velenosi Passerina Brut. Muito brilhante na taça, tinha um toque floral nos aromas, misturado a frutas brancas, tudo muito atraente. No paladar, uma surpresa: uma acidez que faz sua língua arrepiar, para depois se perceber a elegância e persistência excelentes.

O segundo branco, o Offida Pecorino Villa Angela 2014, é um daqueles vinhos frutados, com predominância de aromas de frutas brancas e um prazer de beber que faz ótimo par com uma tarde ao lado da piscina ou na praia.

Dos tintos experimentamos primeiro o Rosso Piceno Superiore Roggio del Filare 2011. Corte de 80% de Montepulciano e 20% de Sangiovese, este vinho apresentava uma cor densa, profunda em tons roxos. Os aromas nos pareceram ligeiros, mas provavelmente por conta de sua abertura recente. No paladar, um toque “tostado”, misturado com muita fruta. Um vinho diferente, que vale a pena.

O seguinte foi o Offida Rosso Ludi 2011. Este foi especial. Se eu tivesse que descrevê-lo com uma única palavra, esta seria “elegante”. Talvez por ser produzido a partir de “uvas estrangeiras” – 60% Cabernet Sauvignon e 40% Merlot – seu paladar era mais familiar, mas o fato é que ele é um daqueles vinhos que nunca passa despercebido, mas também não causa um impacto exagerado. Uma bela cor, aromas predominantes de frutas negras, ameixas maduras. No paladar, um toque de madeira, complexo. Com certeza estará em excelente forma daqui a uns 10 anos.

Salice Salentino Rosso Selvarossa 2011, Ettamiano 2011, Don Cosimo 2013 e Canonico

Salice Salentino Rosso Selvarossa 2011, Ettamiano 2011, Don Cosimo 2013 e Canonico, da Cantine Due Palme

O terceiro stand que paramos foi o da Cantine Due Palme. Fundada no coração de Salento, em 1989, a Cantine Due Palme é uma cooperativa formada por 1.000 produtores, que dividem 2.500 hectares de vinhedos. Nasceu da ideia de Angelo Maci, terceira geração de uma família de vinicultores, e hoje produz 25 rótulos.

Na Cantine Due Palme, provamos o Salice Salentino Rosso Selvarossa 2011, o Ettamiano 2011 e o Don Cosimo 2013. A verdade é que não se encontra em um evento com tantos rótulos apenas vinhos caros e que estão normalmente no nosso campo dos sonhos. Nessa vinícola tivemos a oportunidade de degustar um vinho da faixa dos R$ 70,00, que pode não ser considerado exatamente “barato”, mas está bem abaixo de alguns que encontramos.

O Don Cosimo 2013 está em excelente forma. Muito equilibrado, aromas que chamam a atenção, esse vinho faz bonito em qualquer ocasião. Redondo, acidez e taninos equilibrados, é um belo exemplar produzido a partir da uva Primitivo.

Já o Ettamiano 2011, pouca coisa mais caro, demonstra sua juventude na taça. Precisa de um pouco mais de tempo aberto para apresentar seu potencial, mas é muito interessante. Potente, com certeza terá uma bela evolução.

O Salice Salentino Rosso Selvarossa Riserva 2011 é produzido a partir da uva Negroamaro. Outro vinho de excelente custo benefício, apresenta boa acidez e aromas persistentes. Foi o que mais demandou tempo na taça para abrir e apresentar seu potencial.

Com tantos vinhos para provar, era preciso uma paradinha para comer algo. E a organização do evento foi nota dez nesse quesito. Montou uma mesa muito completa, com vários mini sanduíches, de todos os sabores, que foi bem abastecida o tempo todo.

Sagrantino, Rosso di Montalcino, Nobile e Nobile di Montepulciano, da Fattoria del Cerro

Sagrantino, Rosso di Montalcino, Nobile e Nobile di Montepulciano, da Fattoria del Cerro

Voltando ao circuito dos vinhos, fomos à Fattoria del Cerro e provamos o Nobile di Montepulciano Riserva 2012 e o Rosso di Montalcino 2014 – La Poderina. O que nos atraiu foi o fato deles serem os produtores do Brunello que tomamos durante o nosso evento de vinhos da Toscana. A vinícola adota um estilo todo próprio de criar seus rótulos, o que os torna inconfundíveis. Infelizmente o Brunello não estava disponível nesse evento.

Começamos pelo Rosso di Montalcino. Ele já chama a atenção de saída na taça. Apesar de ser um tinto, é de cor clara, lembra muito um Pinot Noir dos mais leves. É muito aromático, com frutas vermelhas, e tem até um toque de baunilha. Na boca é um vinho leve, fácil de beber, daqueles que em uma roda de amigos se mata uma garrafa sem perceber.

Já o Nobile di Montepulciano Riserva é mais encorpado, complexo e interessante. Na taça apresentava uma cor cereja muito densa. Os aromas com toques de ameixas se completam com um paladar marcante e persistente. Vale a pena esperar um pouco para aproveitá-lo melhor.

Barolo, Barbera d'Alba Ruvei 2014 e Dolcetto d'Alba Madonna del Dono 2014, da Marchesi di Barolo

Barolo, Barbera d’Alba Ruvei 2014 e Dolcetto d’Alba Madonna del Dono 2014, da Marchesi di Barolo

Infelizmente, quando chegamos ao stand da Marchesi di Barolo, sua principal atração – o Barolo, claro – já havia acabado. Mas conseguimos provar o Barbera d’Alba Ruvei 2014 e o Dolcetto d’Alba Madonna del Dono 2014.

Nossa primeira experiência com um Barbera d’Alba não havia sido boa. O vinho parecia ácido demais e com pouca personalidade, mas este era diferente. Muito bem feito, um vinho equilibrado, brilhante, boa companhia para uma bela massa ou carne.

Já o Dolcetto d’Alba se apresentava mais complexo e interessante. Na taça tinha uma cor rubi intensa, os aromas mostravam boa complexidade com um toque de especiarias. O paladar era redondo, com um bom equilíbrio.

Chianti Cl. Ris. 2012, Valadorna 2011 e Chianti CL. Strada al Sasso Ris. 2010

Chianti Ris. 2012, Valadorna 2011 e Chianti CL. Strada al Sasso Ris. 2010, da Tenuta di Arceno

Na Tenuta di Arceno, um produtor da região de Siena, provamos mais três bons vinhos: Chianti Classico Riserva 2012, Valadorna 2011 e Chianti Classico Strada al Sasso Riserva 2010.

Os dois Chiantis são vinhos de respeito – até porque são Riserva. O Chianti Classico Riserva 2012 é muito aromático e interessante. A combinação de 90% Sangiovese com 10% de Merlot, conferem ao vinho aromas muito bons, cor e um paladar redondo.

Já o Chianti Classico Strada al Sasso Riserva 2010 é 100% Sangiovese. Um vinho com personalidade. Muita fruta no aroma, um toque de madeira, taninos e acidez equilibrados, impossível passar despercebido, como o belíssimo Castello della Paneretta Chianti Classico Riserva 2011 que degustamos no nosso evento sobre a Toscana.

O Valadorna 2011 é um excepcional Super Toscano de corte bordalês. Blend 85% Merlot, 8% Cabernet Franc e 7% Cabernet Sauvignon, passa por um estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. Complexo, apresenta aromas de frutas negras, chocolate, pimenta e um leve floral. Na boca, intensamente frutado, com ótimo equilíbrio entre acidez e taninos. É um vinho elegante e moderno, para se tomar apreciando cada momento.

Bolgheri Superior Sondraia 2012 e Dedicato a Walter 2012, projeto Poggio al Tesoro, da Allegrini

Bolgheri Superior Sondraia 2012 e Dedicato a Walter 2012, projeto Poggio al Tesoro, da Allegrini

O melhor da festa ficou para o final. Da Poggio al Tesoro, projeto da vinícola Allegrini na região de Bolgheri, experimentamos dois vinhos sensacionais – Dedicato a Walter 2012 e Bolgheri Superior Sondraia 2012. Os dois vinhos já receberam pontuações acima de 90 em todas as safras nos ranking The Wine Advocate, Wine Enthusiast, Wine Spectator, além de vários outros prêmios.

O Sondraia é uma ótima expressão do terroir da Toscana em um estilo elegante de corte bordalês. Composto por 65% Cabernet Sauvignon, 25% Merlot e 10% Cabernet Franc, o vinho passa por envelhecimento em barricas francesas por 18 meses, sendo metade de primeiro uso e metade com um ano de uso. Depois disso, mais nove meses esperando na garrafa.

Aromas exuberantes de cereja, cassis, amora, tabaco, pimenta, couro e um toque herbáceo. Na boca, encorpado, macio, elegante, acidez perfeita, um show de sabores de frutas frescas. Taninos macios. Final longo e persistente frutado.

O Dedicato a Walter foi uma grande surpresa. Nunca havia experimentado um vinho 100% Cabernet Franc com tanta personalidade e complexidade. De cor rubi intensa, extremamente concentrado e rico. Combina aromas de frutas vermelhas maduras com especiarias e notas de alcaçuz, chocolate, tabaco e um leve toque herbáceo. Textura sedosa de taninos finos. Encorpado, equilibrado e com final persistente e elegante. 

Walter Allegrini é o irmão falecido de Marilisa e Franco Allegrini. “Dedicato a Walter” é uma homenagem a ele.

Ir a um evento como esse em plena segunda-feira fez a gente sair da rotina. Foi uma tarde muito divertida. Além de ampliar muito o nosso conhecimento sobre os vinhos e as vinícolas, tivemos uma grande oportunidade de fazer networking com profissionais do setor. Agradecemos muito à Inovini pelo convite!

30 anos de Gambero Rosso

Gambero RossoO organizador do evento, Gambero Rosso, é um grupo editorial italiano especializado em vinhos e gastronomia. Seu nome significa, literalmente, “camarão vermelho”, que está presente no logo.

O grupo começou como um suplemento de oito páginas publicado no jornal Il Manifesto no dia 16 de dezembro de 1986, fundado por Stefano Bonilli. Em 1987, publicou seu primeiro guia de vinhos italianos, o Vini d’Italia, que em pouco tempo tornou-se o mais influente do país. Também foi publicado em inglês, traduzido como Italian Wines.

Em 1992, Gambero Rosso tornou-se uma revista mensal; em 1999, o grupo criou um canal de televisão, mais tarde distribuído pela Sky Italia. Em 2002, foi inaugurada em Roma a Gambero Rosso’s Città del Gusto (Cidade do Sabor), um espaço com 10 mil metros quadrados que inclui estúdios de TV, escola de culinária, wine bar e outras atividades profissionais e educacionais. Hoje existem quatro desses centros na Itália: em Roma, Nápoles, Catânia e Palermo.

 

Fotos: Emanuel Alexandre Tavares

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