Há lugares que existem há tanto tempo que parecem fazer parte da paisagem. É aquele bar da coxinha tradicional, a hamburgueria onde tudo é feito com produtos de primeira, o restaurante em que a qualidade e o bom atendimento o transformam em referência, uma aposta segura de uma refeição excelente.

Este é o caso da Vinheria Percussi. São 31 anos de história em uma cidade onde se diferenciar na gastronomia é extremamente difícil, manter-se como referência um desafio constante.

Fomos convidados por Lamberto Percussi para um bate-papo sobre a história do restaurante e o Viva o Vinho. Afinal, nada mais apropriado que dois amantes de vinhos e uma vinheria, não?

Simpático, falante como todo bom italiano, é ótimo ver uma pessoa como ele, dono de um dos melhores restaurantes da cidade, ser tão preocupado com as pessoas que o frequentam. Antes de nos receber, circulou pelo salão, cumprimentou todos os clientes, perguntou como estava a comida, o vinho, a refeição. Ele justificou de maneira muito simples: são clientes, merecem respeito, precisam se sentir bem atendidos, muitos o conhecem pessoalmente e também querem cumprimentá-lo.

Atencioso, ele estava tão curioso com nosso trabalho quanto nós pela história de um restaurante tão tradicional. Foi uma troca incrível de experiências, impressões e logo achamos um ponto em comum: somos pessoas que “vivemos para comer bem”. Graças a Deus!

Um bom almoço merece uma ótima entrada

Cardápio nas mãos, seguimos a orientação de Lamberto na escolha dos pratos do almoço. Afinal, não é sempre que se vai à Vinheria Percussi e temos um Percussi à mesa conosco.

As entradas foram polentas cremosas. A minha com creme de gorgonzola, a da Renatinha com molho ao funghi. Lamberto optou por uma Ribollita, uma sopa. Ele falou que “precisava manter a linha”, mas confesso que me deixou curioso.

As polentas estavam maravilhosas e ainda vinham com uma finíssima lâmina de polenta frita.

Como sempre, eu e a Renatinha ficamos trocando de pratos para experimentar e não foi possível definir qual era a mais gostosa.

Pratos principais que merecem esse título

Ravioli di Burrata al Pomodoro - Vinheria Percussi - Viva o Vinho

Ravioli di Burrata al Pomodoro

Para os pratos principais, a dúvida é sempre enorme. Muitas opções com descrições deliciosas nos chamaram a atenção no cardápio. Nesse momento, Lamberto sugeriu que dois pratos – um Ravioli di Burrata al Pomodoro e um Tortelle di Parma al Triplo Burro – viessem divididos. Dessa maneira, nós poderíamos provar duas opções do cardápio. Adoramos a ideia e partimos para mais essa experiência. Por isso, as porções que aparecem nas fotos são equivalentes a metade do prato – o que cada um de nós comeu.

O primeiro prato servido foi o Ravioli. Levíssimo, com um recheio de burrata suave, delicado, maravilhoso, muito equilibrado e com sabor de comida fresca feita em casa. Deve-se comer devagar, sentindo toda a sutileza dos temperos.

Tortelle di Parma al Triplo Burro - Vinheria Percussi - Viva o Vinho

Tortelle di Parma al Triplo Burro

Na sequência veio o Tortelle. Um prato muito diferente do primeiro. Fazendo uma analogia com o mundo dos vinhos, é um prato mais encorpado, presente.

A massa por si só já é uma atração à parte. Toda colorida, ela deve essa aparência ao uso de beterraba, cenoura, espinafre e tinta de lula. O resultado é um show de sabores e cores.

O recheio é farto e bem feito, um belíssimo presunto de parma. O molho é delicioso. Diferente de outros Triplo Burro, nesse a chef dá uma caprichada no creme de leite fresco e no parmesão. O resultado é o equilíbrio entre a massa marcante e o molho saboroso.

Uma presença especial

Chegou o momento de falar de mais um ponto alto do almoço. Entre um prato e outro fomos brindados com a presença da chef Sílvia Percussi.

Ela sentou à mesa, super simpática, sorridente, queria saber tudo sobre nós, o site e, claro, nossa opinião a respeito do que estávamos comendo. Para nos acompanhar, pediu a Ribollita para o garçom e foi aí que eu parei tudo para saber o que essa sopa tinha de especial. Afinal, um prato pedido pelos donos do restaurante tem de ter algo diferente. E tinha.

A Ribollita é uma espécie de sopa de legumes, um minestrone italiano, mas com diversos ingredientes especiais, entre eles uma couve negra que é plantada normalmente na Toscana. Sílvia nos explicou que localizaram um rapaz que está plantando essa couve no Brasil e que haviam comprado um lote para testar a Ribollita. Era um prato que não estava no cardápio e que estava sendo sugerido aos clientes. Servido em uma pequena sopeira de porcelana com tampa super delicada, é de deixar qualquer um com vontade de experimentar.

Essas sobremesas maravilhosas…

Tiramisu - Vinheria Percussi - Viva o Vinho

Tiramisu

Chegou o momento da sobremesa e lá fomos nós de novo seguir as sugestões do Lamberto e da Sílvia. Para mim, a sobremesa italiana favorita é o Tiramisù e para a Renatinha sugeriram um Contrasto Tra il Rosso e Il Bianco.

É uma experiência muito diferente ter a chef em pessoa explicando as sobremesas.

A minha ela salientou ser uma receita caseira, mais leve que a tradicional, e de fato a consistência lembrava um creme aerado, levíssimo. Todos os ingredientes estavam lá, como o café, o chocolate e o mascarpone, mas nada se sobrepondo. Nessa sobremesa é comum termos uma maior presença de café ou chocolate, mas nesse, como em todos os pratos, imperava o equilíbrio e a sutileza.

Abacaxi - Vinheria Percussi - Viva o Vinho

Abacaxi

A sobremesa da Renatinha era uma atração à parte. Um prato retangular é trazido com uma cesta de chocolate cheia de frutas vermelhas do bosque – daquelas bem azedinhas. Ao lado, uma pequena leiteira contendo calda de chocolate branco quente. O garçom pede licença e derrama a calda que, literalmente, cobre as frutas e amolece o chocolate escuro. É ou não de se derreter por ela? Fizemos até um vídeo desse momento para deixar todos vocês com água na boca.

Um destaque interessante foi a sobremesa da Sílvia, Lamberto dispensou a dele. Nunca havíamos visto um abacaxi tão bem cortado e bem apresentado. Realmente a arte e o trabalho diferenciado também se faz presente nas coisas mais simples.

O vinho não podia faltar

Chianti Colli Senesi Caulio DOCG 2011 “Pietraserena”Para acompanhar essa gastronomia maravilhosa pedimos uma sugestão de vinho ao próprio Lamberto Percussi, responsável pela adega da casa. Nossa ideia é que fosse um italiano, preferencialmente Chianti. Com esse pedido, Lamberto sugeriu um Chianti Colli Senesi Caulio DOCG 2011 “Pietraserena”.

Na taça é impossível não notar a belíssima cor, o brilho, a densidade no ponto. No começo me pareceu um pouco alcoólico, mas ele precisava abrir, com certeza. E isso nós pudemos verificar cerca de 15 minutos depois, quando os aromas de frutas maduras e secas apareceram.

Na prova ele tem um toque de vinho maduro, pronto para beber, mas eu não descartaria uma guarda de mais cinco anos pelo menos.

Como todo excelente vinho, evoluiu muito na taça, mostrando-se elegante, persistente, um cavalheiro. Eu particularmente adoro vinhos em que você percebe essas mudanças entre uma taça e outra. Torna a experiência ainda mais interessante.

Essa foi a nossa primeira visita à Vinheria Percussi, em um animado almoço de quinta-feira! Esperamos repetir a experiência muitas outras vezes!

Chianti Colli Senesi Caulio DOCG 2011
  • Ao abrir a garrafa
  • Na taça
  • A prova
  • Meia hora depois
4.4
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