Em fevereiro, viajamos novamente até a Beira Interior. Apanhamos o trem em Lisboa e seguimos para o norte de Portugal. À nossa espera estavam Lourdes e João Carvalho, proprietários da Quinta dos Termos, que nos convidaram para passar um final de semana na quinta — ou seja, na casa deles mesmo.

Situada em Belmonte, a Quinta dos Termos conta com uma área de 200 hectares, sendo 60 hectares de vinhas. Lá são produzidos os famosos vinhos Quinta dos Termos – dos quais eu e Emanuel somos grandes fãs.

 

Quinta dos Termos - Viva o Vinho

 

A Quinta dos Termos sempre foi um local muito especial para João Carvalho. Foi lá que ele nasceu, cresceu e teve seu primeiro contato com o mundo dos vinhos. Seu pai foi quem iniciou o negócio familiar, após adquirir a propriedade a um espanhol no ano de 1945. Deste então, a Quinta dos Termos se tornou uma empresa familiar destinada à produção de vinhos regionais da Beira Interior.

Porém, João não é somente um produtor de vinhos. Sua formação foi em Engenharia Têxtil e acabou se especializando na área da física e do design têxtil. Atualmente, além do negócio de viticultura, João é também um grande empresário nessa área, proprietário da Fitecom — uma fábrica de lã capaz de produzir cerca de 15 quilômetros de tecido por dia.

 

Os vinhos além dos Termos

Depois de 20 anos à frente da Quinta dos Termos, João e Lourdes decidiram ampliar seus horizontes. Em 2015, compraram a Herdade da Lousã, situada em Castelo Branco (também na Beira Interior), com 190 hectares.

A Herdade já produziu vinhos há cerca de 50 anos, porém o negócio faliu e a propriedade ficou abandonada. Assim que adquiriram a propriedade, Lourdes e João começaram a recuperar a essência do local.

Após alguns anos de trabalho replantando as vinhas, a Herdade do Lousã está agora pronta a produzir, com cerca de 30 hectares cultivados. Porém, suas vinhas não são assim tão comuns — a diversidade de castas é impressionante. Contamos pelo menos 15 castas diferentes, e não estamos falando apenas das brancas e tintas clássicas, como a Touriga Nacional, Arinto, Tinta Roriz, entre outras.

 

 

Nessa mesma Herdade, existem três outras castas que se destacam pela sua raridade. É o caso da casta grega Assyrtico, que existe somente ali em Portugal, e também da casta Callum – uma casta branca que estão tentando recuperar. Mas, o melhor ainda está por vir… Eles têm plantado nas suas vinhas a emblemática italiana Nebbiolo! Nem preciso dizer que Emanuel ficou logo entusiasmado.

Em princípio, ainda neste ano iremos ouvir falar das novidades produzidas na Lousã. Pela primeira vez, vão lançar dois vinhos Reserva – um branco e um tinto. Estamos ansiosos aguardando!

 

Projeto ambicioso no Douro

João e Lourdes Carvalho realmente não param! No ano passado, investiram numa quinta do Douro – a Quinta do Pocinho, com 25 hectares – que estão renovando totalmente.

São mais de 3 milhões de euros para a plantação de novas vinhas e a construção de uma adega, uma vez que as uvas do Douro não podem ser vinificadas na Beira Interior. A partir da propriedade de João, é possível visualizar a Quinta do Vale Meão, que fica bem em frente, do outro lado do rio. A Quinta do Pocinho já pertenceu à família Sandeman – curiosidade bastante interessante!

 

A expectativa é de que em cerca de cinco anos a Quinta do Pocinho estará produzindo 200 mil garrafas de brancos e tintos.

 

A produção na Quinta dos Termos

Já conhecíamos um pouco do trabalho desenvolvido pela quinta, mas nunca imaginamos aprender tanto sobre viticultura como nessa viagem. Foi fascinante percorrer as vinhas da Quinta dos Termos e observar a quantidade e diversidade de castas que possuem, assim como entender – na verdade – como é realizado todo o seu processo de vinificação e produção de vinhos.

 

 

Há mais de 20 anos a Quinta dos Termos é certificada em produção integrada, pois não utilizam pesticidas, herbicidas, ou qualquer outro produto que seja nocivo para o ambiente ou para a nossa saúde. Aliás, sua adega foi a primeira em Portugal a obter certificação em produção integrada e permaneceu a única durante cerca de 10 anos.

Uma das grandes diferenças entre o biológico e a produção integrada é que para produzir vinho biológico não precisa ter a adega certificada, basta apenas que as vinhas possuam certificado biológico. No entanto, na produção integrada o produtor precisa ter uma certificação nas vinhas e, também, na adega. É fundamental que a adega garanta não utilizar qualquer típico de químicos, apresente um panorama de higienização total e que esteja tudo registrado. E é assim mesmo que funciona na Quinta dos Termos e em qualquer outra propriedade que pertença a esta família.

 

 

Outro cuidado na adega da Quinta dos Termos é a verificação das caixas uma a uma. Todos os bagos são inspecionados, de modo a certificar-se que não existe nenhum bago desagarrado. João explicou que preferem esse método, pois as leveduras que utilizam são das próprias uvas — não existe qualquer intervenção química – e um bago desagarrado pode ser prejudicial no momento da fermentação do vinho.

 

Um passeio pela Adega da Quinta dos Termos

Quinta dos Termos - Viva o Vinho

Algo que nos chamou a atenção na visita à adega foi descobrir que a fermentação dos seus vinhos é feita ao ar livre. João explicou-nos que essa prática é bastante vantajosa, pois as temperaturas médias no local, no fim de setembro, são abaixo de 18 graus, possibilitando o arrefecimento das cubas de forma mais sustentável.

Também tivemos a oportunidade de observar ruínas de um lagar na propriedade, cuja origem está por volta do século II ao século X. João conta que, na época, só se produziam vinhos de bica aberta, ou seja, um vinho que não tem maceração junto das massas. Por esse motivo, as uvas correntes eram esmagadas separadamente das uvas mais “nobres”. Dessa forma, separavam o vinho que era para ser consumido e comercializado para o povo, do vinho que era destinado aos senhores. João explicou, ainda, que as massas ficavam escorrendo em um sítio específico e depois juntava-se água ao sumo restante para fazer a chamada “Agua Pé” – muito conhecida em Portugal – que era o vinho dos escravos.

De acordo com João, a Beira Interior é a zona mais rica em patrimônio de viticultura da Península Ibérica. Só nessa região existem mais de 200 lagares e lagaretas do mesmo tipo que João nos mostrou lá na quinta.

Já dentro da adega, o estoque é impressionante, podendo chegar a 1 milhão de garrafas. A Quinta dos Termos costuma fazer quatro engarrafamentos por ano, com uma velocidade que chega a atingir as 35 mil garrafas por dia. Durante uma semana, conseguem engarrafar quase 200 mil garrafas.

 

 

No futuro, João e Lourdes ambicionam aumentar a adega e explorar um pouco mais da propriedade onde produzem seus vinhos. No projeto está a construção de uma sala destinada apenas a barricas e, ainda, uma sala de provas com capacidade para cerca de 150 pessoas!

 

Quinta dos Termos - Viva o Vinho

Sem dúvida essa foi uma das experiências mais enriquecedoras que tivemos nos últimos tempos. Estamos muitíssimo gratos ao João e à Lourdes por nos terem recebido de coração aberto em sua própria casa. Na verdade, não pode haver um negócio fantástico sem pessoas igualmente fantásticas liderando o projeto.

Comentários