De Médico a Garimpeiro de Vinhos: a inquietude que fermenta sonhos
Há histórias que fermentam devagar, em silêncio. A de Reno Coelho começou muito antes de existir uma garrafa de Garimpado. Médico reumatologista de formação, com uma carreira consolidada no Brasil, Reno viveu durante anos entre a ciência e a gestão. Mas, como tantas vezes acontece, a curiosidade foi mais forte que o conforto. Depois de vender a sua clínica em 2021, procurou tempo – e encontrou no vinho uma forma de recomeçar.
“Não tinha um “plano B” de vida após a venda. Vivi dois anos “de luto”. Nesse momento entrou o vinho na minha vida. Na verdade, o vinho para mim aconteceu de forma tardia, mais precisamente em 2017, aos 41 anos de idade quando comecei a vir a Portugal. Muito curioso, sempre quis experimentar coisas diferentes e Portugal, com sua infinidade de possibilidades, era o lugar perfeito. Descobri que tinha uma capacidade sensorial de identificar aromas e sabores nos vinhos, o que me estimulou a provar e provar cada vez mais. Estudei, me formei WSET2, viajei por Portugal e pelo mundo provando vinhos. Vivendo meu “ano sabático” após a venda da empresa resolvi compartilhar minhas experiências vínicas criando um perfil no Instagram, o @gostei.vinho. De forma genuína e sem conflitos de interesse o perfil foi crescendo. Hoje somos mais de 50 mil”.
O próximo passo foi achar e dar a conhecer vinhos portugueses de excelência, criando o projeto Vinhos Garimpado. Garimpado vem do verbo garimpar — procurar tesouros com paciência e critério. A palavra, curiosamente pouco usada em Portugal, encantou a designer Rita Rivotti, que assinou os rótulos. “Garimpado é algo encontrado com esforço e atenção — raro, especial, de valor”, explica Reno. E é exatamente isso que pretendeu criar: vinhos que expressem descoberta, precisão e autenticidade.
Garimpado Branco 2022
Fruto da parceria com a Quinta do Quetzal, este branco assinado pelo enólogo José Portela nasce em solos de xisto das suaves encostas da Vidigueira. O blend, dominado por Antão Vaz (60%), Arinto e Roupeiro (20% cada), passou por 8 meses de estágio em barricas novas e usado de carvalho francês, com batonnage para ganhar complexidade.
No copo, exibe cor dourada vibrante. O nariz revela evolução e camadas aromáticas, que vão da fruta amarela de caroço à delicada nota de caramelo e madeira bem integrada. Na boca, é estruturalmente marcante, com acidez firme e final persistente, elegante e gastronômico. Combina de forma exemplar com peixes assados, arrozes de mar, queijos curados e carne de porco. Tem potencial de guarda para mais de 10 anos e é engarrafado em quantidade estritamente restrita, reforçando o caráter exclusivo do projeto.
Garimpado Tinto Reserva 2022
Este tinto surge de uma seleção requintada de castas do Alentejo, feita em parceria com a Fita Preta sob a mão dos enólogos António Maçanita e Sandra Sárria. O lote é liderado por Alicante Bouschet (55%), seguido de Touriga Nacional, Aragonez, Castelão, Trincadeira, Tinta Carvalha e Baga, vinificados a partir de vinhas em solos pobres de xisto e granito, sob forte amplitude térmica mediterrânica.
A vinificação é artesanal e respeitosa, com vindima manual noturna, seleção rigorosa, fermentação espontânea e cultivo de 40 dias. O estágio decorre por 18 meses em barricas de carvalho francês, conferindo ao vinho uma espinha dorsal de taninos finos e textura gulosa.
À mesa, impressionada pela cor violeta, equipamentos e nariz intensos, que destacam frutos vermelhos, mentolados e frutos maduros. O ataque é cheio e incorporado, com final longo e persistente. O Garimpado Tinto Reserva é vinho de guarda, com potencial evolutivo de até 20 anos. Recomenda-se servir a 16 ºC, para ser consumido a 18º C, com pratos ricos como caça ou carnes vermelhas condimentadas.
Garimpado: Filosofia e Singularidade
Os vinhos “Garimpado” mostram uma busca cuidadosa e criteriosa de algo raro e precioso contudo, “não foi fácil no início: era desconhecido, mas com a ajuda de grandes amigos conseguiu acesso a produtores de excelência. Cada vinho tem de ser aquele que na primeira prova faz alguém exclamar: “oh pá, mas isso é muito bom!” conclui Reno Coelho. E se tudo der errado, brinca, “bebemos o estoque!”.
Estes rótulos inaugurais marcam o início de uma aventura que promete mais “garimpadas” por outras regiões portuguesas, como Douro, Dão, Tejo e Bairrada. Vinhos de autor, com assinatura irrepetível: Portugal ganha nesta estreia mais dois nomes para guardar – e saborear – com tempo.
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