A agricultura regenerativa está a ganhar relevância em Portugal. Prova disso foi a segunda edição do Regenerative Wine Fest que reuniu produtores, especialistas e consumidores à volta de um objetivo comum: regenerar o solo, revitalizar ecossistemas e repensar a forma como produzimos e consumimos vinho.

O foco no equilíbrio da natureza e na saúde do solo esteve no centro do debate no evento que aconteceu este sábado, na Herdade das Servas, em Estremoz (Alentejo), onde estiveram presentes 14 produtores de vinho que já colocam em prática métodos de produção de viticultura regenerativa. Concretizou-se, assim, a segunda edição do Regenerative Wine Fest, iniciativa que nasceu pela mão de um coletivo de produtores que está a liderar a transição regenerativa em Portugal e que já anunciou a data para a próxima edição: 16 de maio de 2026.

Num diálogo aberto, entre produtores, especialistas e consumidor final, a agenda de conversas, moderadas pela atriz Joana Seixas, incidiu sobre como as práticas regenerativas ganham escala quando se transformam em movimento coletivo, o papel fundamental da comunicação na construção de confiança e literacia em torno da viticultura regenerativa, bem como a ligação entre práticas agrícolas regenerativas e a saúde humana.

Neste sentido, Francisco Alves, produtor na Herdade de São Luís, ligado ao projeto Porcus Natura, relembrou que: “Perdemos 7 mil hectares de montado por ano, devido a más práticas e às alterações climáticas. A Península Ibérica é onde há maior área de montado do mundo, um sistema único e que é necessário preservar. Todos os países querem aprender a pastorear como nós e temos de continuar a servir de exemplo”.

Envolver instituições locais, escolas e outros produtores na procura de soluções em conjunto” foi o que Marta Cortegano também sublinhou no primeiro painel do dia dedicado a canais de distribuição para maior democratização no acesso à produção regenerativa. A responsável, que lidera um projeto de Agricultura Sintrópica em Mértola, defendeu que “começa a haver uma preocupação genuína dos agricultores com o impacto das alterações climáticas e a degeneração dos solos, o que está a acelerar a transição para a regeneração, mas é fundamental que existam redes de partilha e de aprendizagem entre todos os agentes, não só os agricultores. Também é essencial que exista apoio financeiro nesta transição. Na ESDIME – Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste apoiamos os produtores a acederem a essas fontes de financiamento”.

Desincentivar o greenwashing e fomentar a criação de valor em modos alternativos foram os temas em discussão no período da tarde, no painel sobre boas práticas na comunicação ao consumidor, que contou com as intervenções de especialistas como Luís Constantino, Viticultor na Herdade dos Grous (Alentejo), que falou sobre a importância de os produtores abrirem portas para que visitantes possam conhecer – no terreno – o que está a ser feito e o impacto real da adoção de práticas de agricultura regenerativa.

A relação entre a regeneração dos solos e a saúde pública fechou a ronda de conversas desta edição, contando com o depoimento de Ana Luís, médica no Instituto Português de Oncologia (IPO), que, mesmo admitindo não existir uma cultura de formação de profissionais de saúde para aconselhamento em termos de nutrição, há um princípio fundamental a ter em conta: “A saúde humana começa na saúde do solo. O nosso organismo, tal como o solo, é um ecossistema amplo que deve viver em harmonia com o seu microbioma. Quando não estamos equilibrados, há um risco maior de doenças”. Em complemento, Paulo Coutinho, produtor na Paulo Coutinho Wine (Douro), não tem dúvidas: “Nós somos o que comemos, mas também somos o que bebemos. O vinho é um alimento em estado líquido”.

As visitas ao campo foram uma das novidades na programação deste ano e que permitiram o contacto com uma vinha que incentiva o desenvolvimento de diferentes microbiologias, algo que é, na verdade, fundamental para garantir a sua longevidade. “É como se a natureza invadisse a cultura, o que pode parecer um contrassenso. A realidade é que a vinha tem um sistema imunitário muito forte e o nosso papel é apoiar o processo natural de compensação perante as agressões externas”, explicou Luís Serrano Mira, proprietário da Herdade das Servas.

A edição de 2025 do Regenerative Wine Fest consolidou-se como um espaço de partilha e mobilização para uma nova forma de produzir vinho em sintonia com a natureza. A próxima edição já tem data marcada, dia 16 de maio de 2026, mantendo a localização na Herdade das Servas, e prometendo dar continuidade ao movimento regenerativo que está a transformar a viticultura em Portugal.

O evento contou com o apoio principal do Crédito Agrícola – Alentejo Central e outros parceiros de equipamentos para o setor agrícola e de produtos alimentares regenerativos.

Informação e programa completo do evento: https://www.regenerativewinefest.pt/

 

Comentários