Um dos passeios que mais gostamos em nossa viagem ao Chile, no final de 2013, foi a visita à vinícola Concha y Toro. Tudo bem que é uma vinícola grande, para turistas, mas foi a nossa primeira experiência desse tipo.
Segundo a Wikipedia, Concha y Toro é o maior produtor de vinhos da América Latina e um dos líderes globais nesse segmento. Suas propriedades, distribuídas nas maiores regiões produtoras do Chile – Maipo, Maule, Rapel, Colchagua, Curico e Casablanca – somam 10.750 hectares, o que faz da Concha y Toro o maior grupo vinícola do mundo em extensão de plantação de videiras, de acordo com o blog Paladar, do Estadão.
A nossa visita foi à propriedade de Maipo, a mais próxima de Santiago. Saindo da capital, o passeio dura cerca de quatro horas. Fomos em um ônibus turístico, apreciando a paisagem que no Chile é toda plana, sempre com a Cordilheira ao longe.
A primeira etapa foi conhecer a antiga propriedade da família. A vinícola foi fundada em 1883, por Don Melchor de Santiago Concha y Toro e sua esposa, Emiliana Subercaseaux. Os jardins estendem-se a perder de vista. A casa, do final do século XIX, era a residência de verão da família, mas só pode ser vista externamente. O lugar é lindíssimo e chamou nossa atenção pela grandiosidade e conservação impecável.
Da residência, partimos para o Jardim de Variedades e o vinhedo. Para iniciar sua produção, Don Melchor trouxe variedades de uvas da região de Bordeaux, na França. Ele começou com Cabernet Sauvignon, Sauvignon Blanc, Semillon e Merlot. Uma curiosidade: junto com as uvas Merlot, vieram mudas da Carménère misturadas.
A diferença foi notada quando um especialista foi contratado para descobrir porque os vinhos Merlot não tinham a mesma qualidade das outras variedades. Confusão desfeita, vinhas separadas, hoje temos excelentes Merlots e Carménères produzidos no Chile.
Ali aprendi também que, quanto menos água na fase de maturação das uvas, mais doce fica a fruta, gerando uma produção de vinhos de melhor qualidade. O Chile possui grandes desertos localizados entre a Cordilheira dos Andes e uma serra litorânea. Próximo a Santiago, chove cerca de três dias por ano – e isso é ideal para o cultivo, pois permite o controle da água. Na Concha y Toro, é utilizado um sistema de gotejamento, que apenas pinga gotas de água no vinhedo, “estressando” a planta para que ela gere a melhor produção possível.
Após o vinhedo, uma das melhores partes da visita: a primeira degustação! O vinho escolhido foi o Trio Reserva Sauvignon Blanc, uma interessante combinação de uvas Sauvignon Blanc colhidas em três regiões diferentes das vinícolas Concha y Toro: Casablanca, Rapel e Limarí.
De cor amarela pálida, o aroma é muito expressivo com notas minerais verdes, maracujá e frutas cítricas. Tem paladar levemente adocicado e caiu muito bem em um dia quente, em que a temperatura estava por volta dos 30ºC.
Depois de nos refrescarmos um pouco com o vinho branco, fomos conhecer as bodegas de guarda, nos porões da propriedade, onde inicialmente era produzido o Casillero del Diablo e que hoje abriga a sofisticada produção de Don Melchor. Lá, aprendemos a diferença entre as barricas de carvalho americana e francesa – a primeira é mais porosa, deixa entrar um pouco de ar, enquanto a segunda é muito mais blindada.
Como a visita é turística, não faltou um filme – em português, para o nosso grupo – contando a lenda do Casillero. Cansado de ver suas garrafas serem roubadas da adega, Don Melchor espalhou a notícia que quem tinha passado a tomar conta do porão era o próprio diabo e batizou o vinho como Casillero del Diablo. Com medo, os funcionários que roubavam as garrafas pararam de fazer isso.
Outra curiosidade: havia dois importadores brasileiros de Concha y Toro, porque um deles se recusava a importar o Casillero, por conta do seu nome.
A última etapa da visita foi a degustação do próprio Casillero del Diablo Reserva Cabernet Sauvignon, um bom Cabernet, que mantém uma excelente relação custo benefício. O Emanuel não se contentou com a quota da degustação, e pediu para repetir, sendo prontamente atendido.
Claro que, como todo ponto turístico, não poderia faltar a lojinha ao final da visita. Mas essa valia a pena! Compramos Casillero del Diablo Reserva Privada (o nosso preferido da linha) por cerca de R$ 25 a garrafa, e o ícone Marques de Casa Concha por R$ 45. O Don Melchor, mesmo lá na produtora, estava muito caro. Mas temos em casa uma garrafa que adquirimos em uma oportunidade super especial, e vamos abrir para uma comemoração mais que especial, que teremos em breve. Aguardem!