Nascido em Lisboa por mero acaso, Nuno Falcão Rodrigues apresenta-se como sendo naturalmente abrantino. Foi, de fato, em Abrantes que Nuno cresceu e descobriu a sua paixão pelo mundo dos vinhos.
Desde criança a área agrícola esteve muito presente na sua vida. Tanto os pais como os avós possuíam propriedades e trabalhavam diretamente com o campo. No entanto, as vinhas e os vinhos nunca cruzaram o seu caminho até o momento da aquisição do Casal da Colheira.
Hoje, Nuno conta-nos como tudo começou e como se desenvolveu este projeto fantástico da região do Tejo, que hoje chega a produzir 350 mil litros anuais. Junto com o seu pai, José Rodrigues, é responsável por todo o trabalho desenvolvido no Casal da Coelheira.
Vamos conhecer um pouco mais sobre Nuno Falcão Rodrigues e o Casal da Coelheira? Acompanhe a nossa entrevista.
Como começou o seu percurso na enologia?
Não foi propriamente um acaso, mas foi quase. Desde criança percebi que gostaria de trabalhar em algo relacionado com a agricultura. Os meus avós sempre estiveram muito ligados a essa área e foi muito pela vivência e pelas experiências agrícolas deles que comecei a gostar do mundo rural, da agricultura, das plantas e dos animais. Por isso, rapidamente decidi que queria seguir esse caminho. Também os meus pais tinham uma exploração agrícola muito perto do Casal da Coelheira que, em certa altura, acabou por ser vendida. Mas por coincidência, a propriedade do Casal ficou à venda e os meus pais decidiram reinvestir o dinheiro da outra quinta no Casal da Colheira.
E foi nesta altura que se apaixonou pelos vinhos?
Sim, aí iniciei o meu primeiro contato com as uvas e com o vinho, por volta de 1986. Na altura nem tínhamos adega, só trabalhávamos com cerca de 8 hectares de vinha que vinificávamos na adega de um vizinho. No entanto, em 1989, surgiu a oportunidade de adquirirmos umas vinhas que estavam muito próximas das da Coelheira, assim como a adega que temos hoje. Nesse ano foi quando comecei a acompanhar mais de perto todo o percurso do vinho, desde as vinhas até o processo de vinificação. Percebi que essa viria a ser a minha paixão e felizmente fui a tempo de redirecionar os meus estudos na área agrícola para a parte dos vinhos. Acabei por terminar os estudos e fui realizar uma especialização em França. Quando regressei a Portugal, foi então que decidi tirar uma nova licenciatura, desta vez em Agronomia.
E hoje qual é o seu papel no Casal da Coelheira?
A Coelheira é uma empresa familiar gerida por mim e pelo meu pai. E sendo uma empresa familiar nós temos – forçosamente – de ser polivalentes. Em primeiro lugar, exerço enologia na quinta, não pelo fato da empresa ser pequena, mas sim por ser a minha verdadeira paixão. Também sou responsável por diversos trabalhos inerentes a uma pequena adega como a nossa. Desde a gestão do campo, a parte administrativa e toda a parte comercial, quer no mercado nacional como o mercado externo. Mas tenho o meu pai sempre comigo. Ele está quase com 83 anos, mas mantém-se uma pessoa bastante ativa, que acompanha e controla todo o trabalho de campo e da gestão da empresa.
Pode contar uma curiosidade sobre algum vinho que já produziu?
Quando comecei como produtor, tínhamos uma pessoa responsável pela enologia – o José Paulo Ligre – que me ensinou bastante no meu início de carreira como enólogo e foi um grande mestre para mim. Na altura, o único concurso de vinhos que existia em Portugal era destinado aos vinhos a granel e era um concurso de referência a nível nacional. Felizmente, por dois anos consecutivos (1992 e 1993), conseguimos ganhar o prémio de melhor vinho branco português. Isso foi um fator muito motivador e possibilitou-nos maior visibilidade no mercado. Um outro momento, mais recente, foi em 2010, quando o nosso vinho rosé conquistou um Best Wine Trophy em Bruxelas. Foi um momento muito marcante para nós e, ainda hoje, esse rosé tem a mais alta distinção em Portugal. Estes foram dois momentos que me marcaram e que me dão energia para continuar a nossa luta diária.
Que tipo de vinho você gosta mais de produzir?
O mais fácil seria dizer que são os vinhos tintos. No entanto, cada vez mais me apaixono pelos brancos. O Casal da Coelheira enquanto pequeno produtor acaba por conseguir ter uma diversidade muito interessante de estilos de vinho. Temos cerca de quatro vinhos brancos na nossa linha, como o Terraço do Tejo e o Casal da Coelheira Reserva. São vinhos com estilos um pouco diferentes e que acabam por cativar bastante. Porém, nos últimos dois anos, tenho andado a descobrir o mundo interessante dos vinhos brancos velhos. Hoje em dia, temos muito a tentação de chegar a um restaurante ou a uma loja e procurarmos pela colheita mais recente, devido à frescura característica dos brancos. Mas a verdade é que há vinhos brancos com sete, dez e 15 anos que são pérolas magníficas. Por outro lado, comercialmente, os vinhos tintos têm uma expressão muito mais abrangente e acabam por ser o nosso cartão de visita para o mercado. No nosso caso é o Mythos, que é um vinho de referência e me dá muito prazer a fazer.
E quais são as castas que gosta mais de trabalhar?
Arrisco-me a dizer que sou tradicionalmente comodista e conservador. Sinto-me muito mais confortável a trabalhar com blends, pois considero ser mais fácil aproximar-me do vinho harmonioso que todos nós idealizamos. Além disso, trabalhar somente com uma casta torna mais difícil conseguirmos uma consistência ano após ano — algo que deve ser garantido numa adega. No entanto, no que diz respeito aos brancos, tenho-me apaixonado pela casta Verdelho. É a casta mais jovem que temos nas nossas vinhas e tem dado vinhos muito interessantes e muito bem referenciados. Já no caso dos tintos, temos a incontornável Touriga Nacional, mas também gosto muito de Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon. Mas temos aqui também uma outra casta que é responsável por alguns dos melhores vinhos que o Casal da Coelheira faz — a Touriga Franca.
Qual o seu vinho preferido dentro do portfólio da Coelheira?
Como é comum ouvirmos: um pai gosta de todos os seus filhos e todos eles são diferentes uns dos outros. Não consigo escolher um preferido, é muito difícil. Por vezes, os clientes perguntam-me qual o vinho que considero ser o melhor e a minha resposta é sempre a mesma: depende. Depende da altura do ano, da companhia, da comida… O melhor vinho depende sempre de inúmeros fatores, inclusive, do nosso estado de espírito.
Até onde chega o Casal da Coelheira?
Nós estamos presentes em cerca de 18 países, com uma expressão um pouco maior na Europa. Hoje em dia o nosso mercado mais importante é o da Bélgica, mas também temos bandeirinhas espalhadas por outros continentes. Estamos presentes nos Estados Unidos, Canadá, Equador e Brasil. Também na Ásia, com a China, Macau e Taiwan.
Qual é a sua maior fonte de inspiração?
Não me considero um artista, pelo contrário. Sempre fui um homem das ciências e muito pragmático. Mas posso dizer que gosto muito da natureza e de tirar partido de tudo aquilo que ela tem para me oferecer. Gosto de conhecer as vinhas, as castas e ir tentando idealizar “aquele” vinho. Não aquele que eu gostaria de beber, mas sim aquele que o consumidor procura, obviamente sem prescindir da nossa identidade. Não tenho propriamente uma fonte de inspiração, mas a verdade é que a nossa família é a nossa âncora. São eles que nos dão apoio e força moral para que continuemos a fazer melhor.
E quais são as novidades para este ano?
Vamos lançar muito em breve uma novidade, à partida no mês de setembro. É um vinho que vai um pouco contra a nossa tendência natural e será o nosso primeiro monovarietal tinto, 100% Alicante Bouschet.
É esperar para ver!
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