A noção de identidade e, acima de tudo, de tradição, marca o Alentejo como uma região repleta de potencialidades em todas as suas áreas de atividade, desde os cereais até ao azeite. Porém, o universo do vinho sempre se destacou nesse sentido e, elevando as terras alentejanas a um novo patamar, representa um significativo contributo para a economia nacional.
Preservando costumes e inovando nas técnicas, a atividade vinícola nesta região é distinta e, assumindo-se como uma das principais guardiãs dos vinhos da talha, aqui vai poder encontrar diversidade e qualidade assentes numa missão sustentável.
Com tanto para contar, convidamo-lo a descobrir o Alentejo e conhecer mais sobre os vinhos que tanto apreciamos!
Legado e História no Alentejo
Rodeada de incertezas, a história do vinho por terras lusitanas ainda levanta muitas questões. Porém, registos arqueológicos indicam que este mundo remonta a cerca de 2 mil a.C., época em que foram cultivadas as primeiras vinhas no país.
Evoluindo de século para século fruto do incentivo dos diversos povos que por cá passaram, a arte do vinho alentejano não foi exceção e acredita-se que desde os primórdios a cultura da videira fazia parte do quotidiano dos locais.
Desta forma, o primeiro contacto do território com estas práticas partiu dos tartessos e, posteriormente, dos fenícios, introduzindo a vinha e algumas castas. Mais tarde, os gregos também imprimiram o seu contributo nestas terras, mas foram os romanos quem mais colaborou.
De facto, a civilização romana possuía técnicas agrárias revolucionárias para a época que muito contribuíram para o cultivo das vinhas. Além do mais, documentação sugere que a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma partiu das produções alentejanas.
Mais tarde, com a expansão e popularização do cristianismo, o mercado de vinho alentejano apresentou um crescimento notório, fruto da utilização destes néctares nas celebrações religiosas.
Ânforas romanas recuperadas na Catalunha (Fonte: Wikipédia)
Perante este percurso de altos e baixos, o Alentejo foi capaz de gerar um espírito de colaboração entre a população e, reconhecendo a importância do vinho, trabalhou em prol do seu crescimento e certificação. Por isso, em 1977 foi criado o Projeto de Viticultura do Alentejo (PROVA) e, mais tarde, a Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA). O culminar deste trabalho deu-se em 1989 com a criação da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) que até aos dias de hoje está em atividade e visa não só certificar e regulamentar os vinhos do Alentejo, como também proteger estas produções.
Fita Preta (Fonte: Viva o Vinho)
Características do Terroir Alentejano
Situado a sul de Portugal, o Alentejo destaca-se pela harmonia que o seu terroir representa, reunindo as melhores condições para que o clima, o solo, o terreno e as tradições trabalhem juntas na produção de vinhos singulares e de qualidade inigualável. Com terras que se estendem a cerca de 23 mil hectares, de acordo com dados do Instituto da Vinha e do Vinho referentes a 2017, o Alentejo tem vindo a demonstrar uma tendência para valorizar vinhas mais velhas posicionadas em sítios mais frescos, desenvolvendo projetos únicos pelas mãos de enólogos como Paulo Laureano e Rui Reguinga.
O momento em que o Viva o Vinho conheceu o Paulo Laureano na Tasca da Esquina
- Reguengos: a mais extensa sub-região do Alentejo, aqui pode encontrar algumas das vinhas mais antigas da região
- Borba: considerada a segunda maior sub-região alentejana, destaca-se pelos seus solos de xisto e clima mais chuvoso
- Évora: ao contrário da sub-região anterior, aqui os solos são mais áridos
- Granja-Amareleja: solos xistosos aliados a um dos climas mais quentes e secos do país
- Portalegre: aqui o clima é o elemento de destaque, já que é o mais fresco e húmido da região
- Vidigueira: sub-região mais a sul com terras essencialmente graníticas
- Redondo: nesta sub-região o fator-chave encontra-se nas estações com climas bastante contrastantes
- Moura: também com disparidade de climas entre períodos do ano, esta sub-região situa-se no interior de Portugal
Principais Castas do Alentejo
Espalhadas pelos quatro cantos do mundo, é possível contar cerca de 4 mil variedades de castas, prontas para fazerem as delícias dos amantes de vinho. Portugal destaca-se nesse sentido e assume a segunda posição como o local com o maior número de uvas próprias (atrás somente de Itália), garantindo a diversidade e qualidade das produções nacionais.
Produzindo tanto castas tintas como brancas, esta multiplicidade reflete-se diretamente na variedade de vinhos. Posto isto, entre as tintas mais produzidas na região destacam-se a Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez (ou Tinta Roriz), Cabernet Sauvignon, Castelão, Syrah, Touriga Nacional e Trincadeira. Por outro lado, as uvas brancas predominantes entre as vinhas alentejanas são a Antão Vaz, Arinto, Roupeiro e Fernão Pires.
Touriga Nacional
- A primeira exportação de vinhos portugueses para Roma partiu das produções alentejanas
- Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA)
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O que esperar dos vinhos alentejanos?
Apesar da diversidade ser inegável, existem características comuns entre os principais tipos de vinhos alentejanos. Por isso, é natural esperar que os vinhos tintos da região sejam encorpados, ricos em taninos, quentes, equilibrados e de coloração escura, ideais para serem bebidos ainda num estado jovem.
Por sua vez, os vinhos brancos opõem-se pela sua suavidade e acidez. Com algum corpo, os aromas também são um ponto a destacar, já que as frutas tropicais conseguem roubar todas as atenções.
Na sua generalidade, é crucial realçar que, independentemente da sub-região, os vinhos do Alentejo se afastam dos demais pela sua qualidade única e, muito elegantes, chegam mesmo a ser apelidados de sedutores. Despertamos-lhe a curiosidade? Então surpreenda-se com o que se segue!
Os famosos Vinhos de Talha do Alentejo
Desde o momento em que a civilização romana introduziu processos de vinificação mais aprimorados em Portugal, que o vinho de talha tem vindo a sobreviver graças a regiões como o Alentejo, que o preservam e ampliam o seu potencial. Mas afinal, o que são os vinhos de talha?
Estas produções nada mais são que vinhos produzidos em ânforas de barro com características muito particulares, assemelhando-se a vasos bastante volumosos. Apesar desta técnica possuir cerca de dois mil anos, pouco mudou no seu sistema de produção: as uvas são esmagadas, por vezes no próprio pavimento das adegas e, posteriormente, colocadas dentro das talhas nas quais a fermentação acontece naturalmente. No decorrer do processo de fermentação as cascas das uvas sobem e, após mexer, conferem mais cor, aroma e sabor ao vinho. Porém, ao contrário da maioria das ânforas, nas talhas portuguesas é possível encontrar um pequeno orifício que serve para retirar o vinho no final de todo o processo.
Ânforas de barro (Fonte: Facebook Vinhos do Alentejo)
No entanto, é importante mencionar que a denominação de vinho de talha é exclusiva do Alentejo. Sim, é verdade, outros locais produzem vinhos de ânfora, mas não lhes podem atribuir essa designação.
Mercado do vinho alentejano
Presente em múltiplos mercados ao redor do mundo, o vinho do Alentejo é reconhecido internacionalmente pelas suas características muito particulares. Porém, o notório crescimento destes néctares regionais ainda é bastante atual, sendo evidenciado principalmente a partir dos anos 90, momento em que a procura explodiu e a oferta não foi suficiente.
Representando uma exportação de cerca de 16,3 milhões de litros de vinho, ou seja, 30% da produção do Alentejo, entre os principais países de destino destaca-se o Brasil, Suíça, Polónia, Reino Unido, Austrália, EUA, China e Angola.
Reconhecidos pelas suas particularidades, os vinhos do Alentejo permanecem num esforço crescente para certificarem a sua qualidade e método de produção. Por isso, foram atribuídos selos de produção sustentável, uma certificação inédita no setor, para que a qualidade desta bebida seja não só conservada, mas também ampliada, a partir de um sistema harmonioso entre a terra, as vinhas e o produto final.
Efetivamente, a sustentabilidade pauta o trabalho desta região, não sendo ao acaso que o jornal The New York Times distinguisse o Alentejo, inserindo-o numa lista de 52 locais a conhecer fruto do seu positivo contributo para o meio ambiente.
Vinha alentejana (Fonte: Facebook Vinhos do Alentejo)
Enoturismo no Alentejo
Devido à sua popularidade internacional, o vinho do Alentejo assume um impacto positivo para a região, chamando turistas de várias partes do globo que chegam atraídos pelo sabor e história desta bebida.
Desta forma, ao longo de todo o Alentejo é possível encontrar várias adegas e espaços que se dedicam à temática e criam iniciativas de enoturismo únicas a nível nacional. Entre elas destacam-se o Torre de Palma, um wine hotel que não só recebe visitas, como também promove as suas próprias provas de vinho. Também a Herdade do Esporão segue a mesma tendência e, através do programa “Viver o Alentejo”, possui atividades como observação das vindimas, visitas guiadas quatro vezes por dia, provas cegas e workshops.
Além do mais, a região conta com a Rota dos Vinhos, um circuito turístico que promete explorar o universo vinícola ao máximo, dando a conhecer o aspeto cultural do local como o artesanato e a gastronomia.
Torre de Palma Wine Hotel (Fonte: Facebook Torre de Palma Wine Hotel – Design Hotels)