A noção de identidade e, acima de tudo, de tradição, marca o Alentejo como uma região repleta de potencialidades em todas as suas áreas de atividade, desde os cereais até ao azeite. Porém, o universo do vinho sempre se destacou nesse sentido e, elevando as terras alentejanas a um novo patamar, representa um significativo contributo para a economia nacional.

Preservando costumes e inovando nas técnicas, a atividade vinícola nesta região é distinta e, assumindo-se como uma das principais guardiãs dos vinhos da talha, aqui vai poder encontrar diversidade e qualidade assentes numa missão sustentável.

Com tanto para contar, convidamo-lo a descobrir o Alentejo e conhecer mais sobre os vinhos que tanto apreciamos!

Legado e História no Alentejo

Rodeada de incertezas, a história do vinho por terras lusitanas ainda levanta muitas questões. Porém, registos arqueológicos indicam que este mundo remonta a cerca de 2 mil a.C., época em que foram cultivadas as primeiras vinhas no país.

Evoluindo de século para século fruto do incentivo dos diversos povos que por cá passaram, a arte do vinho alentejano não foi exceção e acredita-se que desde os primórdios a cultura da videira fazia parte do quotidiano dos locais.

Desta forma, o primeiro contacto do território com estas práticas partiu dos tartessos e, posteriormente, dos fenícios, introduzindo a vinha e algumas castas. Mais tarde, os gregos também imprimiram o seu contributo nestas terras, mas foram os romanos quem mais colaborou.

De facto, a civilização romana possuía técnicas agrárias revolucionárias para a época que muito contribuíram para o cultivo das vinhas. Além do mais, documentação sugere que a primeira exportação de vinhos portugueses para Roma partiu das produções alentejanas.

Mais tarde, com a expansão e popularização do cristianismo, o mercado de vinho alentejano apresentou um crescimento notório, fruto da utilização destes néctares nas celebrações religiosas.

ânforas romanas - Alentejo | Viva o Vinho

Ânforas romanas recuperadas na Catalunha  (Fonte: Wikipédia)

Com o decorrer dos anos o universo vinícola foi assumindo a sua força nacionalmente e, desta maneira, por volta do século XX observou-se a fundação de algumas Adegas Cooperativas na região, espaços estrategicamente pensados para fomentarem a produção de vinho no local e conquistarem novos viticultores. Entre as principais adegas alentejanas criadas destacaram-se a Adega Cooperativa de Borba (1958), a Adega Cooperativa de Portalegre (1962) e, já nos anos 70, a Adega Cooperativa de Reguengos de Monsaraz.

Perante este percurso de altos e baixos, o Alentejo foi capaz de gerar um espírito de colaboração entre a população e, reconhecendo a importância do vinho, trabalhou em prol do seu crescimento e certificação. Por isso, em 1977 foi criado o Projeto de Viticultura do Alentejo (PROVA) e, mais tarde, a Associação Técnica dos Viticultores do Alentejo (ATEVA). O culminar deste trabalho deu-se em 1989 com a criação da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) que até aos dias de hoje está em atividade e visa não só certificar e regulamentar os vinhos do Alentejo, como também proteger estas produções.

Fita Preta - Viva o Vinho

Fita Preta (Fonte: Viva o Vinho)

Características do Terroir Alentejano

Situado a sul de Portugal, o Alentejo destaca-se pela harmonia que o seu terroir representa, reunindo as melhores condições para que o clima, o solo, o terreno e as tradições trabalhem juntas na produção de vinhos singulares e de qualidade inigualável. Com terras que se estendem a cerca de 23 mil hectares, de acordo com dados do Instituto da Vinha e do Vinho referentes a 2017, o Alentejo tem vindo a demonstrar uma tendência para valorizar vinhas mais velhas posicionadas em sítios mais frescos, desenvolvendo projetos únicos pelas mãos de enólogos como Paulo Laureano e Rui Reguinga.

Tasca da Esquina - Lançamento vinho Bacalhau de Paulo Laureano - Viva o Vinho - Renata Pacheco Tavares e Paulo Laureano
Tasca da Esquina - Lançamento vinho Bacalhau de Paulo Laureano - Viva o Vinho - Emanuel Alexandre Tavares e Paulo Laureano

O momento em que o Viva o Vinho conheceu o Paulo Laureano na Tasca da Esquina

De relevo predominantemente plano e pouca fertilidade dos solos, falar do Alentejo como um todo parece-nos injusto, já que se divide em oito sub-regiões com características muito particulares:

  • Reguengos: a mais extensa sub-região do Alentejo, aqui pode encontrar algumas das vinhas mais antigas da região
  • Borba: considerada a segunda maior sub-região alentejana, destaca-se pelos seus solos de xisto e clima mais chuvoso
  • Évora: ao contrário da sub-região anterior, aqui os solos são mais áridos
  • Granja-Amareleja: solos xistosos aliados a um dos climas mais quentes e secos do país
  • Portalegre: aqui o clima é o elemento de destaque, já que é o mais fresco e húmido da região
  • Vidigueira: sub-região mais a sul com terras essencialmente graníticas
  • Redondo: nesta sub-região o fator-chave encontra-se nas estações com climas bastante contrastantes
  • Moura: também com disparidade de climas entre períodos do ano, esta sub-região situa-se no interior de Portugal

Principais Castas do Alentejo

Espalhadas pelos quatro cantos do mundo, é possível contar cerca de 4 mil variedades de castas, prontas para fazerem as delícias dos amantes de vinho. Portugal destaca-se nesse sentido e assume a segunda posição como o local com o maior número de uvas próprias (atrás somente de Itália), garantindo a diversidade e qualidade das produções nacionais.

Assim, aqui podem ser encontradas várias castas autóctones que incrementam o regionalismo dos vinhos portugueses. Por sua vez, o Alentejo não podia deixar de produzir as suas uvas tradicionais e locais que, aliadas a algumas das mais famosas do mundo, resultam em vinhos ímpares.

Produzindo tanto castas tintas como brancas, esta multiplicidade reflete-se diretamente na variedade de vinhos. Posto isto, entre as tintas mais produzidas na região destacam-se a Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez (ou Tinta Roriz), Cabernet Sauvignon, Castelão, Syrah, Touriga Nacional e Trincadeira. Por outro lado, as uvas brancas predominantes entre as vinhas alentejanas são a Antão Vaz, Arinto, Roupeiro e Fernão Pires.

Casta Touriga Nacional | Viva o Vinho

Touriga Nacional

O que esperar dos vinhos alentejanos?

O vinho alentejano caracteriza-se pela sua grande variedade, capaz de satisfazer até os paladares mais exigentes. Entre um dos blends mais tradicionais da região encontramos a junção do Aragonez com Trincadeira e Castelão. Contudo, mais recentemente inseriu-se Touriga Nacional, Syrah e Alicante Bouschet nestas produções, o que fez surgir um novo caminho para este universo.

Apesar da diversidade ser inegável, existem características comuns entre os principais tipos de vinhos alentejanos. Por isso, é natural esperar que os vinhos tintos da região sejam encorpados, ricos em taninos, quentes, equilibrados e de coloração escura, ideais para serem bebidos ainda num estado jovem.

Por sua vez, os vinhos brancos opõem-se pela sua suavidade e acidez. Com algum corpo, os aromas também são um ponto a destacar, já que as frutas tropicais conseguem roubar todas as atenções.

Na sua generalidade, é crucial realçar que, independentemente da sub-região, os vinhos do Alentejo se afastam dos demais pela sua qualidade única e, muito elegantes, chegam mesmo a ser apelidados de sedutores. Despertamos-lhe a curiosidade? Então surpreenda-se com o que se segue!

Quetzal Alentejo | Viva o Vinho

Os famosos Vinhos de Talha do Alentejo

Desde o momento em que a civilização romana introduziu processos de vinificação mais aprimorados em Portugal, que o vinho de talha tem vindo a sobreviver graças a regiões como o Alentejo, que o preservam e ampliam o seu potencial. Mas afinal, o que são os vinhos de talha?

Estas produções nada mais são que vinhos produzidos em ânforas de barro com características muito particulares, assemelhando-se a vasos bastante volumosos. Apesar desta técnica possuir cerca de dois mil anos, pouco mudou no seu sistema de produção: as uvas são esmagadas, por vezes no próprio pavimento das adegas e, posteriormente, colocadas dentro das talhas nas quais a fermentação acontece naturalmente. No decorrer do processo de fermentação as cascas das uvas sobem e, após mexer, conferem mais cor, aroma e sabor ao vinho. Porém, ao contrário da maioria das ânforas, nas talhas portuguesas é possível encontrar um pequeno orifício que serve para retirar o vinho no final de todo o processo.

Vinhos de Talha Alentejo | Viva o Vinho

Ânforas de barro (Fonte: Facebook Vinhos do Alentejo)

Esta prática de produção tão tradicional ainda se encontra presente em território nacional, principalmente no Alentejo, que se tem assumido como uma figura de destaque na preservação deste sistema. Atualmente estes métodos continuam em uso na região e, cada vez mais aliados à tecnologia, várias adegas modernas produzem os seus vinhos em talhas.

No entanto, é importante mencionar que a denominação de vinho de talha é exclusiva do Alentejo. Sim, é verdade, outros locais produzem vinhos de ânfora, mas não lhes podem atribuir essa designação.

Mercado do vinho alentejano

Presente em múltiplos mercados ao redor do mundo, o vinho do Alentejo é reconhecido internacionalmente pelas suas características muito particulares. Porém, o notório crescimento destes néctares regionais ainda é bastante atual, sendo evidenciado principalmente a partir dos anos 90, momento em que a procura explodiu e a oferta não foi suficiente.

Nos dias de hoje, o Alentejo continua a dar cartas e o ano de 2021 ficou marcado por um crescimento das vendas. De acordo com dados divulgados pela CVRA, de janeiro a outubro de 2021 o valor dos vinhos alentejanos exportados foi o maior desde 2016, sendo mesmo 14% superior ao de 2020.

Representando uma exportação de cerca de 16,3 milhões de litros de vinho, ou seja, 30% da produção do Alentejo, entre os principais países de destino destaca-se o Brasil, Suíça, Polónia, Reino Unido, Austrália, EUA, China e Angola.

Reconhecidos pelas suas particularidades, os vinhos do Alentejo permanecem num esforço crescente para certificarem a sua qualidade e método de produção. Por isso, foram atribuídos selos de produção sustentável, uma certificação inédita no setor, para que a qualidade desta bebida seja não só conservada, mas também ampliada, a partir de um sistema harmonioso entre a terra, as vinhas e o produto final.

Efetivamente, a sustentabilidade pauta o trabalho desta região, não sendo ao acaso que o jornal The New York Times distinguisse o Alentejo, inserindo-o numa lista de 52 locais a conhecer fruto do seu positivo contributo para o meio ambiente.

Vinha Alentejo | Viva o Vinho

Vinha alentejana (Fonte: Facebook Vinhos do Alentejo)

Enoturismo no Alentejo

Devido à sua popularidade internacional, o vinho do Alentejo assume um impacto positivo para a região, chamando turistas de várias partes do globo que chegam atraídos pelo sabor e história desta bebida.

Desta forma, ao longo de todo o Alentejo é possível encontrar várias adegas e espaços que se dedicam à temática e criam iniciativas de enoturismo únicas a nível nacional. Entre elas destacam-se o Torre de Palma, um wine hotel que não só recebe visitas, como também promove as suas próprias provas de vinho. Também a Herdade do Esporão segue a mesma tendência e, através do programa “Viver o Alentejo”, possui atividades como observação das vindimas, visitas guiadas quatro vezes por dia, provas cegas e workshops.

Além do mais, a região conta com a Rota dos Vinhos, um circuito turístico que promete explorar o universo vinícola ao máximo, dando a conhecer o aspeto cultural do local como o artesanato e a gastronomia.

Torre de Palma Alentejo | Viva o Vinho

Torre de Palma Wine Hotel (Fonte: Facebook Torre de Palma Wine Hotel – Design Hotels)

Visite o Alentejo

Comentários