Seja para designar a exótica ave encontrada na América Central ou a moeda da Guatemala, a palavra Quetzal reveste-se de uma certa natureza enigmática. Fazendo jus ao nome, a Quinta do Quetzal, situada na Vidigueira, bem no coração do Alentejo, vai além da atividade vinícola mais tradicional, optando por seguir o caminho da vanguarda e da inovação.
Fruto do desejo do casal holandês Cees e Inge de Bruin-Heijn, a propriedade cresce dia após dia desde a sua fundação, conquistando novos mercados e diferenciando-se pela sua faceta sustentável e pelos vinhos de excelência, além de uma forte vocação para a arte, cultura, gastronomia e enoturismo.
Conquistados pela história deste produtor, o Viva o Vinho foi conhecer de perto tudo o que a Quinta do Quetzal tem para oferecer aos seus visitantes. Junte-se a nós nessa viagem. Temos certeza que também vai ficar com vontade de conhecê-la!
O casamento de duas vontades
O casal fundador da Quinta do Quetzal sempre sentiu uma conexão muito forte com as terras portuguesas. Há muitos anos eles tinham uma casa em Silves, na região do Algarve, mas foi somente quando uma de suas filhas se casou que surgiu o projeto da Quinta. Não sabendo o que oferecer como presente de casamento, Cees e Inge decidiram juntar o melhor dos dois mundos: o gosto da filha por vinhos com o seu próprio interesse por este universo. Desta forma, o presente acabou sendo uma adega situada no Alentejo, uma das regiões vinícolas mais promissoras de Portugal.
Foi assim fundada, em 2002, a Quinta do Quetzal que, unindo as várias paixões do casal, continua a surpreender até hoje. Já no que diz respeito ao nome da Quinta, parece não haver consenso, visto que o casal atribui Quetzal a diversos dos seus projetos. Contudo, a utilização do pássaro mexicano num dos mais recentes logotipos da Quinta vem sugerir a ligação do produtor com esta ave.
As características do terroir
Se existe algo que caracteriza o Alentejo é exatamente o seu terroir, influenciado tanto pelas características do interior do país, como do litoral. Contribuindo para a produção de vinhos singulares, a escolha desta região para a implantação da Quinta do Quetzal não foi ao acaso. Situada nas encostas da Vidigueira, as vinhas da propriedade estão inseridas em solo xistoso, com diferentes exposições solares, brisas frescas e um microclima influenciado pelo Oceano Atlântico. Além disso, a construção da quinta e a plantação das vinhas foi feita em colinas, o que veio refutar a ideia de que as plantações na região só acontecem em planícies.
Desta forma, a multiplicidade de fatores que intervêm, direta ou indiretamente, na evolução destas vinhas, resulta em vinhos com características tanto únicas, como verdadeiras representantes da região.
Produção por gravidade
O método de produção dos vinhos na Quinta do Quetzal foi algo que nos chamou a atenção, sendo diferente de tudo o que já conhecíamos até então. Na verdade, quando a Quetzal começou a operar, em 2002, ainda não tinha adega, e a sua produção era feita em Évora, na Herdade Outeiro de Esquila. Só quatro anos mais tarde, em 2006, é que foi aberta a sua própria adega, em funcionamento até hoje.
Esta criação marcou não só o desenvolvimento dos vinhos Quetzal na propriedade, mas também o início da utilização de um método de produção de vinhos muito particular. Já ouviu falar de adegas que trabalham através da gravidade?
Este conceito pode parecer estranho, mas descobrimos que é utilizado por diversas adegas de todos os cantos do mundo. Apresentando benefícios do ponto de vista ambiental e produtivo, a utilização destas técnicas, também designadas de Fluxo de Gravidade pela Autoridade Vitivinícola Global Wine Spectator, relaciona-se com a utilização da gravidade como forma de mover o vinho dentro da adega nas diversas etapas produtivas. Para isso ser possível, geralmente a adega tem mais de dois pisos, de maneira a permitir que o vinho circule. Assim, o processo produtivo torna-se não só mais leve, contribuindo para vinhos de maior qualidade, mas também mais alinhado com o ecossistema, visto que não exige tanto uso de energia.
E se este método parece recente e inovador, descobrimos que não é bem assim: desenvolvido no século XIX, a utilização desta técnica tão tradicional e, ao mesmo tempo, alinhada aos valores atuais em relação ao meio ambiente, assegurou o crescimento da produção vinícola em diversas adegas mundiais, passando pelas portuguesas.
No caso da Quinta do Quetzal, a produção é iniciada através de um buraco no teto da adega, onde são despejadas as uvas para a primeira etapa. Sustentadas pela força da gravidade, as uvas são posteriormente movidas cada vez mais para baixo, atravessando os diversos pisos e etapas de produção, chegando até as caves situadas no subsolo.
Vinhos de excelência
É ao som de música clássica que os néctares da Quinta do Quetzal passam pela sua fermentação, uma vez que, segundo especialistas, esta tem a capacidade de acalmar os vinhos.
Provenientes dos 50 hectares de vinha da propriedade, dos quais 30 são de castas tintas e 20 de brancas, seus vinhos diferenciam-se no panorama nacional pela sua qualidade. Além disso, a propriedade destina 2,5 hectares do seu terreno para o cultivo de vinhas velhas, que vão dar lugar a vinhos limitados e de máxima qualidade.
Trabalhando unicamente a partir das suas próprias castas, as uvas tintas que a Quinta do Quetzal utiliza são Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Syrah, Alfrocheiro e Trincadeira. Entre as castas brancas utilizadas estão Antão Vaz (uma uva muito comum na Vidigueira), Arinto, Verdelho e Roupeiro.
É destas uvas que nascem as produções da Quinta do Quetzal, sendo a primeira criação da propriedade o vinho Bons Frades, um monocasta de Tinta Grossa, feito por Paulo Laureano em 2006.
Já no ano seguinte foi criado um dos vinhos mais icônicos da propriedade, o Guadalupe, cujo nome foi inspirado na Capela de Nossa Senhora de Guadalupe, um espaço construído no século XVII e situada perto do produtor. Na verdade, este foi o primeiro vinho que nós provamos da Quinta do Quetzal, e ficamos surpreendidos com a excelente relação entre qualidade e preço. Presente até os dias de hoje, esta linha continua a ser uma das mais famosas do produtor, contando também com a Guadalupe Winemaker’s Selection, que se caracteriza pela sua complexidade, em comparação à expressividade dos Guadalupe.
Por outro lado, a propriedade também desenvolveu um vinho com nome próprio, o Quetzal. Produzido pela primeira vez em 2008, o Quetzal Branco foi criado por Paulo Laureano e, com 12 meses de estágio em barricas novas, ganhou no mesmo ano o prêmio de melhor vinho do mundo no Vinalies em Paris.
Prometendo fazer justiça às raízes alentejanas, estes vinhos destacam-se pela sua elegância e, com estágio em barrica, apresentam-se como Quetzal Família, Quetzal Reserva, Quetzal Reserva Monocasta, Quetzal Rich e, por fim, Quetzal Brut, um espumante que tem particular sucesso em épocas festivas como o Natal. No caso do Quetzal Reserva Tinto, o vinho passa por 24 meses de estágio em barricas de carvalho.
A Quinta possui também em seu portfólio o vinho licoroso Quetzal, proveniente de colheita tardia das uvas. Com 18% de graduação alcoólica, seu processo de produção é bastante semelhante ao do vinho do Porto.
Com uma produção anual de cerca de 200 mil garrafas, estes vinhos vão além do território português e podem ser adquiridos nos Estados Unidos, Canadá, Suíça, Holanda, Alemanha, Bélgica e Lituânia.
Enoturismo de mãos dadas com a cultura
Quando falamos na Quetzal, é sempre importante lembrar que, mais do que um produtor de vinhos, esta Quinta é uma verdadeira experiência para quem a visita, dispondo não só de atividades ligadas ao setor vinícola, mas também ao mundo artístico. Com uma forte ligação à cultura, o casal Cees e Inge de Bruin-Heijn fundou um Centro de Arte na propriedade, no qual é preparada uma exposição anual com a coleção de arte privada da família.
Vocacionado essencialmente para a arte contemporânea, este Centro apresenta não só grandes artistas, mas também alguns desconhecidos, fazendo chegar ao grande público esta que sempre foi uma das grandes paixões do casal. Com 450 metros quadrados, o espaço foi fundado em setembro de 2016, e divulga as mais diversas facetas do audiovisual.
E se um bom vinho é importante, também a boa comida é fundamental. E a Quinta do Quetzal não falhou nesse aspecto, porque dispõe de um restaurante de excelência na propriedade. Considerado o Melhor Restaurante do Alentejo em 2018 e estando nomeado na Categoria de Petiscos (Pastel de Queijo de Serpa) e Cozinha Molecular (Laranja da Vidigueira) no concurso “7 Maravilhas da Nova Gastronomia”, este espaço conta com uma vista única para o terroir alentejano, assim como com diversos pratos que representam a genuína natureza da região. Saborear esta cozinha regional acompanhada de um vinho da Quetzal é realmente uma experiência, por isso não se esqueça de reservar uma mesa quando for visitar a quinta!
Por isso, tire um tempinho para visitar esta propriedade única e explorar tudo o que ela tem para oferecer. E se ainda não provou os vinhos da Quinta do Quetzal, não perca mais tempo, valem realmente a pena!