Um convite para um evento mais do que especial, em um lugar que dispensa apresentações. Assim fomos parar no Tasca da Esquina para acompanhar o lançamento dos vinhos do enólogo português Paulo Laureano, criados em parceria com um dos fundadores deste excelente restaurante, o chef Vítor Sobral. Paulo Laureano foi considerado, em 2004, o melhor enólogo pela Revista de Vinhos, a publicação da especialidade mais conhecida em Portugal
O Tasca
Um restaurante português contemporâneo. É dessa maneira simples e direta que o Tasca da Esquina se define.
Criado em 2009 em Lisboa por três grandes chefs portugueses – Vitor Sobral, Luís Espadana e Hugo Nascimento – com a proposta de ser um restaurante moderno, diferente, mas realmente ligado às tradições de sabor e qualidade da cozinha portuguesa. Em apenas dois anos desembarcou em São Paulo e é hoje considerado o melhor restaurante português da cidade.
Dono de uma adega invejável (alguém notou os três Pêra-Mancas Magnum Tinto da galeria de fotos?), possui um ambiente moderno e bem cuidado. Os detalhes de madeira, plantas e tijolos expostos remetem à ideia de construção antiga. O atendimento atencioso e prestativo. A noite tinha tudo para ser perfeita. E foi.
Iniciando um jantar para se lembrar
O cardápio apresentava um equilíbrio entre pratos tradicionais e modernos, a nossa curiosidade pelo que viria era enorme, bem como a ansiedade.
Antes de mais nada, pãezinhos, pasta de grão de bico e manteiga e quando achamos que iríamos para a entrada eis que nos trazem uma pequena panelinha com dois pastéis de carne dourados, sequinhos, e dois bolinhos de bacalhau com uma crosta crocante e interior cremoso, desmanchando e extremamente saborosos.
Os pastéis e bolinhos acompanharam o primeiro vinho da noite, Maria Teresa Laureano Verdelho 2014, um vinho refrescante com aromas cítricos e uma acidez muito interessante. Na taça um tom de palha claro, ficou bem elegante depois de abrir por algum um tempo. Excelente companhia para os bolinhos.
Logo viria a primeira entrada, uma sopa fria de pitanga, morango e queijo mantiqueira, regada por um delicado fio de azeite. Foi algo inusitado e diferente, que também harmonizou bem com o primeiro vinho.
Na sequência fomos servidos de ostras sobre um berço de creme de abóbora e com três coberturas diferentes: ouriço, cebolas picadas e broto de girassol. Para acompanhar, o expressivo Teresa Laureano Rosé 2014. Um rosé mais denso na cor, o que o deixou maravilhoso na taça, aromas de cereja e um tanto mais seco para este tipo de vinho. Uma combinação que remete à praia.
E chegou a vez dos pratos principais
Estando em um restaurante português, era natural que se esperasse que o prato principal estivesse relacionado a bacalhau, um dos maiores ícones da culinária lusitana, e fomos logo servidos de duas receitas excepcionais.
O primeiro foi um bacalhau em lascas sobre pasta de grão de bico, acompanhado de um ovo mole. Delicioso, equilibrado. Para acompanhar, recebemos o primeiro lançamento da noite, o Bacalhau Branco 2014. Um vinho untuoso que enche a boca, menos refrescante que o primeiro, gastronômico, ficou perfeito com o prato.
Ainda estávamos sob o efeito dos sabores do primeiro prato quando chegou o segundo bacalhau. Desta vez uma posta sobre um molho de caldeirada rodeada de toucinho picado muito miúdo e crocante.
Este prato mais condimentado e de sabor marcante foi acompanhado do segundo lançamento, o Bacalhau Tinto 2013, e aí vamos falar de um potente alentejano.
Na taça uma cor densa e brilhante, aromas complexos de frutas negras, ameixas em compota e um toque que denunciava o estágio em barricas. No paladar, um vinho poderoso e persistente, daqueles que te convidam para uma conversa. Um grande vinho de fato.
Para fechar…
Um jantar como este não poderia deixar de ter uma sobremesa à altura e a nossa foi uma variação sobre o pastel de Belém, coberta de amêndoas em lâminas. Uma massa folhada leve e crocante, um creme saboroso, perfeito.
A experiência ficou ainda melhor quando recebemos a visita de Paulo Laureano em pessoa.
Ele já havia estado no salão antes, quando lançou o desafio para que os presentes harmonizassem o último prato com os dois vinhos Bacalhau e escolhessem o que lhes parecesse melhor (para mim o tinto).
Agora ele voltou com mais calma e parou para conversar conosco por alguns minutos. É sempre muito especial um contato direto com alguém com o seu conhecimento, e ouvir suas impressões sobre vinhos, comida, Portugal (saudade).
São momentos únicos. Experiências como esta nos mantêm motivados e querendo cada vez mais ter o Viva o Vinho para compartilhar e motivar nossos leitores a buscá-las, pois a vida é uma só e está aí para ser curtida.