Vinho português nunca decepciona, e quando acompanhado da culinária típica, fica ainda melhor. Nosso primeiro jantar harmonizado de 2017 foi uma verdadeira experiência gastronômica: o lançamento do Quinta dos Murças Minas no restaurante Tasca da Esquina. Não é a nossa primeira vez. Anteriormente havíamos estado lá para o lançamento dos novos vinhos de Paulo Laureano e a experiência havia sido igualmente fantástica.

Localizada no Douro, em Portugal, a Quinta dos Murças é uma propriedade que remonta a 1714 e foi adquirida pelo Grupo Esporão em 2008. O Quinta dos Murças Minas pertence à linha superior da vinícola e é um dos primeiros produzidos sob a supervisão do enólogo José Luis Moreira, que esteve em São Paulo para seu lançamento.

O jantar começou com o mais tradicional dos petiscos portugueses, o delicioso bolinho de bacalhau do Tasca, acompanhado por pasteizinhos e pelo vinho Monte Velho branco (castas Antão Vaz, Perrum e Roupeiro), servido bem fresco. Produzido pela Herdade do Esporão na região do Alentejo, foi o vinho de boas-vindas e era o único da noite que não veio da Quinta dos Murças.

Em seguida, uma entrada que eu adorei: uma espécie de ceviche de robalo, ameixa e gengibre. A mistura de sabores doce, azedo e picante com o peixe ficou fantástica. Foi harmonizada com o Assobio Rosé 2015, um vinho fresco e delicado, sem ser doce, e com final persistente pouco encontrado em vinhos rosés. Foi a primeira vez que provei um rosé produzido a partir de castas portuguesas – nesse entram Touriga Nacional, Rufete e Tinto Cão – e o resultado foi muito bom.

Tudo foi muito bem pensado e na sequência veio o primeiro prato, composto por uma posta alta de atum grelhado, quase crua por dentro, mexilhões e hortelã, que ficou perfeito com o Assobio Tinto 2014. Um peixe harmonizado com um vinho tinto, combinação que muitos não se arriscariam, mas o sabor marcante deste prato pedia algo assim.

O vinho já era um velho conhecido. Nós o tomamos no Taberna da Esquina, outro restaurante do mesmo grupo do Tasca que adoramos frequentar. Produzido a partir de videiras de 20 anos, com Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, tem uma acidez equilibrada, taninos maduros com corpo e estrutura. É um vinho jovem, brilhante, aromático, um tinto excelente para acompanhar o atum.

A estrela da noite

Todos esses vinhos são ótimos e o melhor ainda estava por vir. A estrela da noite realmente fez bonito. O Quinta dos Murças Minas 2015 chegou à mesa ao lado de um prato de javali com cogumelos e torresmo. Blend de castas tradicionais do Douro – Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Francisca, Tinta Roriz e Tinto Cão, o vinho já demonstra na sua cor intensa o estágio de 9 meses em barricas de carvalho.

O aroma é concentrado, com predominância de frutas vermelhas maduras e toques florais e balsâmicos. Na boca, os taninos são firmes e maduros, com acidez presente – vamos lembrar que o vinho ainda está muito jovem e que com certeza tem muito a evoluir. O final é longo e persistente, trazendo o equilíbrio tradicional da frescura da Quinta dos Murças com a maturação no carvalho.

Para fechar a noite, um doce delicioso, bem típico de Portugal, feito com gila, feijão e amêndoas, acompanhado por um Quinta dos Murças Porto Tanwy 10 anos, um vinho do Porto produzido com uvas de qualidade superior, colhidas em videiras com mais de 20 anos. Complexo, com notas de frutas secas e especiarias, fez um excelente contraste com o doce.

Experiências como essas fazem você avaliar melhor o quanto é bom fazer uma refeição com calma e transformar o momento em uma pausa na correria do dia a dia para se entregar a sensações e prazeres únicos.

Nessa noite ainda tivemos o prazer da companhia de um casal de amigos da Confraria Viva o Vinho, que encontramos por coincidência no restaurante. Compartilhar opiniões, rir e relaxar com uma boa refeição e excelentes vinhos. Tem coisa melhor?

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