Delicada e elegante, a Pinot Noir é uma das uvas mais apreciadas nos dias mais quentes para aqueles que não abrem mão dos vinhos tintos. Conhecida como Pinot Nero na Itália, Spärtburgunders na Alemanha e Blauer Burgunder na Áustria, a Pinot Noir é uma das vinhas mais antigas cultivadas pela humanidade.
Originária da França, mais especificamente da região da Borgonha, a Pinot Noir é cultivada há mais de 2 mil anos e tem a reputação de produzir alguns dos vinhos mais elegantes do mundo. Os primeiros registros remetem aos gauleses, em torno de 150 a.C.. Por ser tão antiga, a Pinot Noir originou uma família de uvas, que inclui a Pinot Gris e a Pinot Blanc. Estudos recentes de DNA mostraram que 16 castas têm a Pinot Noir na sua origem, entre elas a Chardonnay, Gamay, Melon de Bourgogne (Muscadet) e Auxerrois (Malbec).
Apesar de tinta, dessa uva provêm os vinhos com borbulhas mais interessantes do mundo – os Champagnes. No século XV, a Pinot Noir começa a ser plantada na região hoje conhecida como Champagne, mais precisamente na sub-região de Epernay.
Segundo a lenda, Dom Pérignon utilizava apenas Pinot Noir, alegando que as uvas brancas tinham uma tendência latente à refermentação. Mesmo assim o vinho produzido possuía uma grande instabilidade, tendendo a interromper a fermentação com o início do frio (outono) e voltando a fermentar no calor (primavera). Dom Pérignon acreditava que guardar os vinhos em barris de carvalho fazia com que eles perdessem os aromas; portanto, ele os guardava já nas garrafas. Quando a segunda fermentação ocorria, o gás (dióxido de carbono) ficava retido na garrafa. E assim nascia o Champagne feito somente de Pinot Noir.
Vale lembrar que a polpa da fruta, tanto da uva branca quanto da tinta, é clara. Para tornar o vinho tinto é preciso que as cascas das uvas tintas descansem no mosto, processo chamado de maceração. Portanto, é possível obter um champagne ou mesmo vinho branco com uvas tintas, mas este é outro assunto.
Características da pinot noir
A Pinot Noir não se adapta em qualquer região. É uma casta muito difícil de cultivar, temperamental, susceptível a diversas enfermidades quando fora da sua região natal. Qualquer clima que se diferencie demais do fresco equilíbrio de sua terra natal resulta em um vinho adocicado e sem caráter.
Para muitos apreciadores, só existe uma região que vale a pena, a Borgonha. Para outros, menos radicais, pode-se encontrar bons Pinot Noir na Nova Zelândia, Califórnia e Chile. O cultivo da Pinot fora da França, no entanto, só começou na década de 1990.
A videira apresenta cachos pequenos e de cor violeta profunda, os seus bagos também são pequenos, redondos, delicados e de casca fina. Necessita de clima fresco bem equilibrado. Floresce e amadurece mais cedo. O excesso de frio produz vinhos pálidos e de sabores pobres. O excesso de calor amadurece demais a Pinot Noir, resultando em sabores e aromas excessivamente tostados e de geléias, afastando a elegância marcante dessa uva.
Em linhas gerais, os aromas primários mais encontrados são frutas vermelhas, florais e especiarias. Com o tempo de guarda, os melhores vinhos podem apresentar um toque amadeirado.
Na boca, a Pinot Noir é ainda mais fascinante. Alguns especialistas alegam que ela remete às boas lembranças da infância. Morangos, sumo de carne, temperos e uma deliciosa sensação sedosa. Normalmente a acidez se destaca com taninos e álcool bem equilibrados e discretos. Possui boa estrutura, intensidade, complexidade e apresenta-se marcante, apesar de seu corpo ser médio (na maioria das vezes). A passagem por madeira é bem-vinda desde que não destrua sua delicadeza.
Uma característica importante é que ela tem uma mínima concentração de antocianinas (pigmento/cor) nas células da sua pele, portanto seus vinhos sempre têm um aspecto visual claro e algumas vezes quase rosado. Isso ajuda na sua fama de produzir os vinhos mais sedosos e suaves do mundo, com taninos de textura muito aveludada e delicados.
A Pinot Noir é uma casta para ser apresentada sozinha (varietal). Como uma de suas características mais marcantes é a sutileza, ao fazer parte de um blend ela fica ocultada atrás da potência de outras uvas. Poucas experiências de corte (assemblage) deram certo. Champagne é uma delas, onde se pode cortar com a Pinot Meunier e a Chardonnay.
Essa uva pode originar alguns vinhos prontos para o consumo logo que são engarrafados. Mas os melhores precisam de alguns anos para evoluir. Os vinhos jovens devem ser consumidos em até cinco anos. Os vinhos de guarda seguem a seguinte linha: de cinco a 12 anos (Estados Unidos e Nova Zelândia), de cinco a 20 anos (Côte D’Or). No Chile encontramos o Calyptra Gran Reserva Pinot Noir, que passa por um estágio de 26 meses de barrica, resultando em um sabor marcante e delicado ao mesmo tempo.
Principais regiões produtoras de pinot
Cultivada em poucos lugares do mundo, a Pinot Noir pode ser encontrada principalmente nas seguintes regiões:
França, Borgonha (Côte de Nuits) – Começa ao sul da cidade de Dijon e se estende até Nuits-Saint-Georges. A melhor e mais espetacular região para a Pinot Noir. Seus vinhos precisam de tempo para evoluir e mostrar todos os nuances de aromas e gostos.
França, Borgonha (Côte de Beaune) – Começa na cidade de Ladoix e se estende até Santenay. Uma das melhores expressões. Vinhos menos complexos, que precisam de menos tempo para evoluir. Elegantes, perfumados e delicados.
França, Champagne – As melhores vinhas estão em Montagne de Reims e é aí que a Pinot Noir domina. Outra região produtora é o Aube. No total, ela é responsável por 35% da área plantada.
Nova Zelândia – A melhor alternativa à Borgonha. Também é excelente, porém com menos elegância e delicadeza, mas com uma competente estrutura. A Ilha do Norte mostrou-se muito quente para a Pinot Noir; a Ilha do Sul investiu nessa variedade de uva, principalmente na sub-região de Canterbury e Marlborough. A única exceção na Ilha do Norte é a sub-região de Wairarapa, onde o micro clima permite produzir Pinot Noir mais excitantes. Vale a pena.
Estados Unidos (Califórnia) – Produz vinhos deliciosos e, muitas vezes, complexos. Possuem aromas exuberantes de framboesa e cereja com toques de carvalho francês.
Estados Unidos (Oregon) – O destaque fica por conta da sub-região de Willamette Valley, excepcional produtora de Pinot Noir.
Outras Regiões:
Na Europa, há uma boa oferta de Pinot Noir na Itália, especialmente na região da Úmbria e da Toscana. A Suíça também é uma produtora em larga escala, embora seus Pinot Noir, apesar do bom custo/benefício, estarem ainda distantes da qualidade e complexidade dos da Borgonha.
A Alemanha, que conta com uma produção limitada de tintos, tem na Pinot Noir uma de suas principais uvas. Assim como a Áustria que, apesar de sua primazia nos vinhos doces, tem melhorado os seus exemplares de Pinot Noir a cada dia.
Portugal e Espanha também contam com produção dessa uva, mas seu desenvolvimento ainda se encontra em caráter experimental.
Já na América do Sul, o Chile é o principal destaque, produzindo Pinot Noir cada vez mais completos e, dia após dia, mais disputados. As principais regiões produtoras são Casablanca, Vale de Limarí, del Cachapoal e Vale de San Antonio. Este último vem apresentando talvez os mais espetaculares vinhos com base na Pinot Noir do continente. Uma quinta região, a de Manzanar, já vem sendo explorada, pois as vinhas da variedade têm se adaptado com perfeição.
O Brasil, dentre outras regiões produtoras ao redor do mundo, também vem obtendo um bom desempenho com a Pinot Noir, embora aqui as dificuldades de cultivo sejam amplificadas em virtude do clima instável. Boas garrafas provêm do Rio Grande do Sul. Santa Catarina também tem despontado com vinhos de qualidade baseados na uva.
Curiosidades sobre a pinot noir
Os vinhos Pinot Noir se expressam melhor em baixas temperaturas. Os mais frutados e simples, sem madeira, muitas vezes devem ser servidos à mesma temperatura dos vinhos brancos, em torno de 12ºC. Para se ter uma ideia, a Cabernet Sauvignon, por exemplo, é servida na faixa dos 18ºC.
Se você é fã de comida francesa, vai perceber que boa parte dos pratos combina com a uva. Alguns exemplos são coelho com mostarda, presunto cozido e Beouf (carne lentamente cozida com legumes no vinho), que fazem pares perfeitos. Os pratos simples, como carne assada e grelhada, vegetais cozidos, risotos, alguns peixes de sabor acentuado, como atum e salmão, e queijos de massa mole, também fazem boa harmonização.
Para quem quiser se divertir e conhecer um pouco mais sobre a Pinot Noir, o filme Sideways, Entre Essas e Outras, do diretor Alexander Payne, traz os vinhos feitos com essa uva como protagonistas.
Outra forma de conhecer melhor uma uva é degustando os vinhos feitos com ela. Compartilhe com a gente aqui nos comentários quais são os que você mais gosta!