A pergunta pode soar esquisita, afinal vinhos e rolhas são facilmente associados, mas existe uma característica que pode fazer um vinho ser “arrolhado” e, para algumas pessoas, isso pode deixar a experiência do vinho um tanto quanto desagradável.
De acordo com a renomada revista Wine Folly, a estigma da cortiça não é de fácil identificação e isso dificulta um bocado na distinção entre um vinho que já não era tão bom de um vinho que deixou de ser bom.
Uma coisa é certa: com cerca de 2 a 3% de vinhos com rolhas, não é raro que um apreciador de vinhos típico encontre uma boa quantidade destes exemplares em sua vida. A porcentagem parece pouca, mas sua representatividade não é. Nesta estatística, uma pessoa adulta poderá encontrar cerca de 100 vinhos arrolhados.
O que faz isso acontecer?
O grande responsável por tudo isso é conhecido como TCA — para os conhecedores de química, o 2, 4, 6, Trichloroanisole (por aqui, vamos manter a simplicidade e chamar apenas de TCA).
Há um método que pode ajudar a identificar a existência desse problema. O cheiro poderá dar pistas sobre o estado da garrafa, mas não é possível reconstituir o que foi afetado, infelizmente.
Um vinho com altos níveis de TCA vai apresentar odores que, logo de cara, causam uma torção de nariz – o que já é um sinal de que algo não vai tão bem. Se você sentir cheiros que lhe remetam mofo, cachorro molhado, papel ou jornal molhado ou mesmo o porão da casa da sua avó nas tardes quentes de verão, é bastante provável que você esteja com um exemplar de vinho com rolha em mãos. No entanto, nem sempre um vinho nestas condições irá apresentar os aromas desagradáveis que citamos acima, completamente opostos àqueles aromas que buscamos em nossas taças. Mesmo que você não encontre estes odores, um vinho cujos níveis de TCA são baixos poderá, simplesmente, não demonstrar os aromas frutados e florais, bem como apresentar um sabor empobrecido. Talvez aquele vinho que você tomou noutro dia não era chato… Ele só estava arrolhado.
De onde veio o TCA?
É difícil imaginar que essas substâncias possam afetar nossos tão queridos vinhos. O TCA acontece em razão do transporte de pequenos fungos e bactérias por correntes de ar que, por sua vez, entram em contato com cloro e compostos fenólicos ao mesmo tempo.
Bem, se considerarmos que as vinícolas fabricam compostos fenólicos e muitas adegas tinham o costume de limpar seus equipamentos fazendo uso de soluções de cloro, não é preciso fazer contas exorbitantes para compreender a origem do problema.
A boa notícia é que podemos ficar tranquilos, pois essa prática de higiene já é conhecida como algo nada recomendável. Muito embora cessar o uso de substâncias em cloro não seja suficiente para eliminar o TCA, uma vez que este entra no vinho por meio das rolhas. Quando isso acontece, o TCA é de fungo reagindo a um fungicida comum de plantas que contém… cloro.
Talvez com essa informação você queira deixar de usar produtos a base de cloro para limpar a casa — com certeza irá ajudar a preservar seus vinhos!
Identificando uma garrafa com rolha
Para saber se o seu vinho se encaixa no conceito de vinho com rolha, basta conferir algumas questões de rápida observação.
A primeira delas é verificar se a vedação da garrafa foi feita com uma rolha de cortiça. Ora, se não houver rolha na garrafa e a experiência não foi tão agradável quanto você esperava, o problema é certamente outro.
Você buscou resenhas ou ouviu elogios que não se alinham em nada com aquilo que está repousando na sua taça? Bem, este é um sinal de que o problema pode residir no seu caso. Se o seu paladar também está agindo de forma atípica, tente beber um pouco de água, cheire seu antebraço e volte a cheirar o vinho para ver se o problema passa.
Se a dúvida persistir e você estiver acompanhado, converse com quem está desfrutando deste vinho com você para saber se essa pessoa também acha que há algo de estranho. Pode ser que vocês não cheguem à raiz do problema logo de cara, pois aprender a identificar o sabor da rolha no vinho exige um pouco de prática, principalmente considerando que é mais difícil identificar um vinho tinto com sabor de rolha do que um vinho branco.
Mas aqui vai uma dica: se o seu sommelier tentar retirar a garrafa de rolha, você pode pedir-lhe para experimentar um ou dois goles para aprender como fazer essa diferenciação.
Meu vinho tem gosto de rolha. E agora?
Bem, se você comprou a garrafa em um restaurante, você ainda pode enviá-la de volta alegando o que sentiu. Mas, se você comprou o vinho online, aconselhamos fortemente que você guarde seus recibos. Os varejistas online poderão, muitas vezes, reembolsá-lo ou enviar uma nova garrafa caso você seja sorteado com um vinho com rolha.
Porém, no mundo em que vivemos, nem todos se contentam com as respostas simples para problemas frustrantes. Existe um truque conhecido como Saran Wrap (o famoso papel filme que usamos na cozinha) que, segundo algumas pessoas, seria capaz de consertar o vinho arrolhado.
A explicação dizia que as moléculas de plástico do Saran Wrap aderem às moléculas de TCA e as “sugam” para fora do vinho. Por um tempo, a engenhoca deu certo, mas infelizmente, não funciona mais. Isto porque a fabricante da Saran Wrap alterou sua fórmula por conta da descoberta de um possível problema de transmissão de cloro para a comida.
Mesmo assim, fazemos uma ressalva muito importante: um vinho com rolha não vai fazer mal à sua saúde, ou seja, não é preciso se livrar de uma garrafa só por conta disso. No máximo, essa característica só irá amenizar a experiência do vinho. Para algumas pessoas, isso pode ser bem chato. Mas não é preciso levar tudo a ferro e fogo, certo?