Sou um enófilo, sommelier ou enólogo? Conheça o seu papel no universo do vinho

Dos mais jovens aos mais velhos, a paixão pelo vinho é transversal a todas as faixas etárias (a partir da maioridade, claro). Contudo, tendemos a complicar o simples e, por isso, ainda são muitas as questões quando o assunto são os termos utilizados pelos especialistas e isso não é exclusividade dos vinhos, encontramos o mesmo cenário no universo dos cafés, charutos e muitos outros.

Claro que para aqueles que assim o pretendem, o vinho vai muito além do apreciar. É preciso muito estudo, pesquisa e, acima de tudo, dedicação para se tornar um profissional da área. Com isto em mente, você pode ser somente um admirador ou então ingressar numa das diversas carreiras profissionais associadas a estes néctares que, aliadas a uma paixão única, revolucionam o setor vinícola de ano para ano.

São muitos os termos para designar as suas técnicas, formas de trabalho e pessoas aficionadas. Este post tem por objetivo explicar os três mais conhecidos, mas que tendem a lançar mais dúvidas: enófilo, sommelier e enólogo. Conhece as diferenças? Sabe se se insere numa destas definições?

Sou um enófilo?

Se ama vinho, conhecimento sobre este universo para si nunca é de mais e gosta de participar em eventos sobre a temática, mas não desempenha qualquer trabalho associado, temos boas notícias para si… é um enófilo!

É verdade, a definição de enófilo não tem muito que se lhe diga: refere-se a todos os que apreciam ao vinho nas suas mais diferentes vertentes, mas que não se dedicam profissionalmente ao mesmo.

Seja a fazer anotações sobre os vinhos que degusta, a ler artigos de blogs sobre a temática ou até a assistir filmes focados em vinho, tudo influencia para que se envolva neste universo e contribua consideravelmente para a sua expansão, chegando a cada vez mais pessoas.

Por isso, se está por aqui a tentar aprofundar-se no assunto e gosta de degustar vinhos, temos a dizer-lhe que sim, você é um dos nossos… um verdadeiro enófilo!

Mas como não se tornar num enochato ou um enobobo?

Temos a certeza que numa feira de vinhos, restaurante ou até na roda de amigos, já presenciou alguém com uma opinião sobre tudo o que prova ou que quer sempre trocar de vinho porque o que lhe foi servido nunca é bom o suficiente.

Pois bem, é normal que já lhe tenha lembrado uma ou outra pessoa em específico. Famosos por tornarem qualquer contexto em que se bebe vinho desconfortável, e até desagradável, estes indivíduos são mais conhecidos por enochatos ou enobobos.

Normalmente são enófilos que não conseguem conter a sua empolgação e adoram demonstrar os conhecimentos recém-adquiridos.

Acreditamos que não queira pertencer a este grupo, por isso é importante ter em mente que não é agradável, nem correto, pedir o vinho mais caro aos produtores nas feiras, sem sequer conhecer os restantes, dizer que só bebe vinho branco para não engordar ou então que odeia determinada casta.

Também não é bacana deixar o garçom de pé plantado com a garrafa na mão, esperando apenas que diga se o vinho está do agrado para ser servido, enquanto o responsável pela prova fica ali explicando o que está sentindo para o resto da mesa.

Tenha estas dicas em consideração e usufrua de forma leve a aventura que é provar vinho. Por outro lado, agora já tem as ferramentas para detetar todos os enochatos que o rodeiam.

Subindo de nível, encontramos os sommeliers

O sommelier, também conhecido como escanção, refere-se a todos aqueles que trabalham em restaurantes, incluindo bares ou adegas, auxiliando os clientes a selecionarem qual a melhor bebida para as suas necessidades, como por exemplo de harmonização com pratos como bacalhau.

Ele também é o responsável por definir a carta de vinhos do restaurante e dar recomendações aos clientes, assumindo um papel fundamental na composição da experiência da sua visita.

Monumento ao Escanção (Fonte: Wikipédia)

A origem do sommelier

Apesar de nos dias de hoje a profissão do sommelier estar diretamente ligada ao universo dos vinhos, e até das bebidas no geral, sabia que nem sempre foi assim?

A origem do sommelier é muito mais antiga do que possa originar. Os primórdios desta profissão remontam ao século XIII na França, num momento em que se referia àqueles que conduziam os animais e, mais tarde, aos responsáveis por determinados alimentos nas viagens da realeza.

O termo só se aproximou da definição atual quando passou a existir alguém cujas funções passavam por servir e provar o vinho do rei, garantindo antecipadamente que o mesmo não continha qualquer tipo de veneno.

Com o passar dos tempos, também esta profissão foi evoluindo, chegando até aos moldes que conhecemos hoje.

Como ser um sommelier

Se o seu desejo é dar um salto e tornar-se sommelier, prepare-se para pôr mãos à obra!

Para ingressar nesta carreira é necessário muito conhecimento da área, desde aspetos mais técnicos até àqueles mais minuciosos, adquirindo um saber específico sobre este universo.

Para isso, existem diversos cursos vocacionados para esta profissão, como é o caso do curso de escanção, na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, a Formação de Sommelier, no Senac, no Brasil, ou então a certificação mais elevada do setor, a de Master Sommelier (MS).  

Hoje vamo-nos focar nos exames Wine & Spirit Education Trust (WSET), um curso com origem no Reino Unido, mas que rapidamente ganhou proporção mundial fruto da sua qualidade. Com 4 níveis de aprendizagem, este curso destina-se a profissionais e enófilos, oferecendo uma bagagem sobre vinhos muito abrangente.

No entanto, lembre-se que não precisa deste curso em específico para exercer na área. Existem diversas opções que podem responder aos seus objetivos!

O que é um enólogo?

Temos a certeza que desde criança ouve falar de ciência, seja através dos kits de experiências científicas ou até da disciplina na escola. Mas sabia que a enologia também é uma ciência?

Ainda que isto possa surpreender, enologia é a ciência que estuda o vinho e todos os processos associados, desde a plantação das vinhas até à venda do produto final, não sendo ao acaso que a constituição da palavra eno+logia signifique “estudo do vinho”. 

Desta forma, o enólogo surge como o cientista do vinho, um verdadeiro especialista na matéria. Sabemos que o termo é forte, mas não podia ser mais verdade.

Para ter uma ideia, ser-se enólogo vai muito além da profissão, requerendo não só um conhecimento profundo sobre este universo, mas essencialmente uma grande paixão. Fazendo parte de todas as etapas de produção e tomadas de decisão, este profissional necessita de conhecer aspetos como o solo, o clima, as técnicas de vinificação e de fermentação, chegando mesmo a valer-lhe o título de pai do vinho.

Por outro lado, a enologia apresenta uma forte componente agrícola, o que leva o enólogo a participar ativamente no trabalho da vinha e nas vindimas, além de definir o momento de colheita, cuidar das vinhas velhas ou criar novas áreas de vinha.

De facto, esta é uma das principais figuras deste setor, sendo responsável pela elaboração do vinho, do início ao fim.

Mas o que preciso para ser enólogo?

Se muitos acham que ser-se enólogo resume-se a provar vinho, temos a dizer que não podia estar mais enganado. Envolta em trabalho duro, para se desempenhar esta profissão também é necessário muito estudo, sendo mesmo requerida formação académica superior.

Dos primórdios até agora… os principais enólogos do mundo

Com um forte cunho histórico, a produção de vinho tem milhares de anos e, ainda que de forma totalmente diferente da praticada nos dias de hoje, já na altura existiam pessoas que se dedicavam na totalidade a estes néctares.

No entanto, os processos como os conhecemos na atualidade são graças a grandes nomes da enologia, como é o caso do cientista do século XIX, Louis Pasteur, que impulsionou por completo o setor ao revolucionar as técnicas de fermentação praticadas na época.

Alguns anos mais tarde, no decorrer do século XX, Émile Peynaud faz o seu grande contributo para a história do vinho, lançando diversas obras de referência para o setor e os seus amantes, como “Descobrir o Gosto do Vinho” e “Conhecer e Trabalhar o Vinho”.

Émile Peynaud (Fonte: Viva o Vinho)

Já nos dias de hoje, o universo da enologia encontra-se recheado de grandes figuras que, com o seu cunho pessoal, elevam esta ciência (e arte) a um novo patamar. Tanto no panorama português como brasileiro são centenas os nomes que se destacam nesta profissão que, com características mais tradicionais ou arrojadas, nos levam ao copo algumas das nossas produções de eleição. Por isso mesmo, o Viva o Vinho dedicou uma parte do seu blog a estes profissionais, revelando os benefícios e os obstáculos da profissão.

Dando o seu conhecimento e o seu trabalho em prol deste universo, e muitas vezes crescendo já entre as vinhas, os enólogos são uns dos representantes do vinho, levando não só as suas produções mais além, mas também a sua cultura. Desta forma, não é ao acaso que se celebre esta profissão mundialmente, assinalando-se a 22 de outubro o Dia do Enólogo.

A sua relação com o vinho

Com esta distinção feita, temos a certeza de que o caminho já se tornou um pouco mais claro para si. De facto, o setor encontra-se rodeado de termos diferentes e por vezes até complexos. Mas lembre-se, o importante é manter-se interessado e, acima de tudo, usufruir ao máximo deste universo e tudo o que tem para lhe oferecer.

Trabalhando ou não com vinho, o importante é divertir-se e aventurar-se neste mundo. O título de enófilo já ninguém lhe tira!