Para quem é apaixonado por gastronomia e fã de programas como o MasterChef (que acompanhamos religiosamente, em várias versões), visitar um restaurante estrelado Michelin é sempre algo especial. Quando o restaurante em questão é o CURA, comandado pelo chef Pedro Pena Bastos, jurado do MasterChef Portugal, essa experiência se torna ainda mais significativa.
Um convite inesperado chegou à minha caixa de e-mail na última quarta-feira, 15 de janeiro, e com ele tivemos o privilégio de conhecer o CURA, no Ritz Four Seasons Hotel Lisboa. A noite prometia ser memorável — e superou todas as nossas expectativas.
O primeiro destaque: as pessoas
A experiência no CURA começa antes mesmo de cruzar suas portas. Logo após confirmarmos a reserva, recebemos uma ligação atenciosa do restaurante. Perguntaram sobre nossas preferências, restrições alimentares e qualquer detalhe que pudesse tornar a noite ainda mais especial. Esse gesto inicial já revelou o nível de cuidado e personalização que viria a marcar toda a experiência.
Ao chegarmos, fomos recebidos pelo nome, como se já fôssemos clientes habituais. A equipe mostrou uma atenção impecável, combinando gentileza com um profundo conhecimento sobre cada prato e cada vinho. Mais do que servir, eles nos guiaram por uma jornada gastronômica cheia de histórias. Vale destacar a excelência do sommelier David Lopes, cuja paixão pela harmonização tornou a experiência ainda mais especial, e a sous chef Marina Garcia, que nos surpreendeu com pratos cuidadosamente elaborados.
O jantar: uma festa para os 5 sentidos
Nossa experiência no CURA foi o jantar harmonizado de cinco momentos, mas a verdade é que provamos nove pratos diferentes, acompanhados por seis vinhos portugueses.
O sommelier David comentou que a parte favorita do seu trabalho é criar harmonizações. Ele estuda cada prato com o chef Pedro, experimenta combinações e busca vinhos fora do comum. Apesar de vivermos em Portugal há mais de sete anos e provarmos cerca de 800 vinhos por ano, só conhecíamos um dos seis vinhos daquela noite. Isso mostra o nível de curadoria e pesquisa envolvidos.
Uma característica comum aos vinhos servidos pode ser resumida em apenas uma palavra: elegância. Todos traziam equilíbrio e complexidade, valorizando ainda mais a experiência do jantar.
Para começar
O jantar começou com um caldinho de cereais, sementes e folha de figueira, de um sabor completamente inusitado. Foi um despertar para o paladar.
Logo depois, o desfile de pratos começou com um amuse-bouche de atum rabilho, noz pecan e lima caviar, acompanhado pelo Granito Cru 2022, da Luís Seabra Vinhos, na região dos Vinhos Verdes. Com 93 pontos da Wine Spectator, este Alvarinho não é tão fresco quanto os típicos da região, é mais sutil indo para uma linha mais elegante, trazendo notas de frutas brancas e a mineralidade do solo granítico onde são plantadas as vinhas.
O mesmo vinho acompanhou o segundo prato: salmonete com texturas de couve lombarda (super crocantes!) e um caldo fumado com óleo de hortelã. Ficamos sabendo que o segredo do sabor complexo do caldo está no fato de que as espinhas do peixe são assadas antes de serem utilizadas. Lembrei imediatamente de uma dica que o chef Pedro deu a um participante do MasterChef Portugal, dizendo exatamente isto.
Um ícone do CURA
O terceiro prato foi um dos ícones da casa: uma espécie de espaguete finíssimo de lulas, com avelã, manteiga torrada de algas, bergamota e caviar Oscietra. O prato foi acompanhado pelo Insula Vinus Verdelho 2019, dos Açores, produzido por Paulo Machado, que trouxe complexidade e uma salinidade marcante, resultado das uvas cultivadas na costa sul da ilha do Pico e de fermentações cuidadosas em cubas de inox e barricas de carvalho francês.
Pausa para pão e espumante
Após as entradas, uma pausa surpreendente: pães artesanais com manteiga, azeite (produzido na quinta da família do chef) e um espumante português simplesmente sensacional.
O chef acredita que o pão é uma parte essencial da experiência, e essa pausa foi planejada para desacelerar o ritmo da refeição. Diferente dos pratos servidos em sequência, o pão coloca o controle nas mãos do cliente, permitindo que o momento seja apreciado sem pressa. É um respiro, uma chance de assimilar os sabores já apresentados e se preparar para os pratos principais que estão por vir.
Preparados no próprio restaurante, o momento do pão incluiu um de massa madre antiga e outro brioche com gel de laranja. O espumante Família Hehn Velha Reserva 2013, da região de Távora-Varosa, encantou com suas bolhas finíssimas, elegância e complexidade em boca. Não há o fermento marcante que muitos adoram, mas um toque gastronômico e uma acidez que fazem dele uma ótima companhia para limpar o palato da gordura da manteiga e do azeite.
Foi a combinação perfeita, tanto para o leve azedo da massa madre quanto para a doçura do brioche, e preparou o paladar para o que vinha a seguir.
Os pratos principais
O primeiro prato principal foi um peixe-galo com caril de Goa, feijão-verde, berbigão e halófitas (plantas que sobrevivem em ambientes com alto teor de sal). Para harmonizar, um vinho surpreendente: Terras do Grifo Essência 2023, da Rozès, produzido exclusivamente em garrafas Magnum. Este blend de Rabigato e Malvasia Fina do Douro encantou pelos aromas florais e de frutas brancas, além de sua frescura.
Em seguida, mais um prato sensacional: porco alentejano acompanhado por trouxinhas de alface com framboesas, compota de marmelo com especiarias e arroz com cogumelos. O vinho escolhido por David Lopes foi o tinto Prior Lucas Habemus R 2021, da Bairrada. Fresco, com apenas 13% de álcool, foi servido com o objetivo claro de não sobrepor o prato, mas participar dele com a sua acidez, preparando o ambiente para a próxima garfada. Ele equilibrou perfeitamente a gordura do porco e o toque picante do marmelo.
Conversamos sobre essa forma de harmonização com o David, cujo resultado é realmente interessante, e ele propôs trazer um segundo tinto para compararmos como seria uma harmonização mais “convencional”.
Foi aí que entrou em cena o alentejano Duas Famílias 2016, da Santos & Seixo, um vinho de produção única, equilibrado, elegante e presente na boca por muito tempo. Um daqueles vinhos que o Emanuel adora e fica “conversando” a noite toda.
A experiência ficou completamente diferente. Difícil dizer qual das duas agrada mais sem colocarmos o gosto pessoal no meio. Ficamos com as duas.
Grand finale: o momento doce
Finalmente, chegamos à sobremesa — a minha parte favorita de qualquer refeição. E o CURA encerrou a noite de forma magistral.
A primeira sobremesa combinava abóbora, cacau de São Tomé, sésamo e capuchinhas, uma mistura inusitada e deliciosa. Finalizando a refeição, um trio de doces tradicionais portugueses, com a releitura do chef: bolo de bolacha com café, fartura com tangerina e uma trufa de cacau.
Para acompanhar, um Porto branco, o único vinho da noite que já conhecíamos: Dona Antônia 10 anos, da Porto Ferreira. Fechamos a noite “em grande”, como diriam os portugueses, com a certeza de que essa experiência ficará marcada para sempre.
Uma noite inesquecível
Sair do CURA naquela noite foi como despertar de um sonho. Não foi apenas sobre provar pratos e vinhos excepcionais. Foi sobre histórias, sobre pessoas que dedicam suas vidas à arte de criar momentos inesquecíveis.
O CURA não é apenas um restaurante estrelado Michelin. É um lugar onde os detalhes têm alma e onde a comida conversa com todos os sentidos. Foi uma noite que, sem dúvida, vamos guardar para sempre.
Se você ficou com vontade de vivenciar tudo o que o CURA tem a oferecer, temos uma ótima notícia! No próximo dia 29 de janeiro de 2025, o restaurante realizará um jantar vínico exclusivo em parceria com a prestigiada CARM (Casa Agrícola Roboredo Madeira). Será uma noite inesquecível, com um menu de degustação de 10 momentos harmonizados com vinhos excepcionais. Clique aqui para saber todos os detalhes e reservar a sua experiência!