Não é todo dia que você é convidada para um evento desse tipo, o jantar de 30 Anos da “Nova Era” da Quinta de la Rosa, realizado em um lugar muito bonito, a casa do embaixador do Reino Unido em Lisboa, com organização e cerimônia impecáveis.

Foram convidados apenas 18 pessoas da imprensa e especialistas para assistir uma apresentação que contou com bons vinhos e uma boa dose de emoção por parte da descendente da família que hoje administra a empresa.

Para celebrar os 30 anos da “nova era” da Quinta de la Rosa, houve o lançamento do primeiro Tawny 30 Anos da Quinta, com estreia em edição especial.

Pouco conhecida pelos brasileiros, a Quinta de La Rosa está localizada no coração do Alto Douro Vinhateiro, em zona de uvas qualidade ‘“A”, e produz anualmente cerca de 450 mil garrafas, sendo 80% delas exportadas principalmente para a Inglaterra, Canadá, Estados Unidos, Finlândia e Suíça. No Brasil, os vinhos são importados pela Adega Alentejana. Está aí uma dica interessante para quem quer sair do óbvio em termos de vinhos portugueses.

Ao longo do evento, degustamos muitos vinhos e conhecemos melhor a Quinta de la Rosa. A atual co-proprietária e gestora da Quinta, Sophia Bergqvist, e o enólogo Jorge Moreira falaram sobre a incrível história da família Bergqvist e a sua produção vitivinícola.

Ouvir a história de uma empresa a partir de um membro da família é sempre diferente. É possível ver o brilho nos olhos de quem trabalhou e sabe muito bem os sacrifícios que foram feitos para estar ali servindo o vinho — e é disso que mais gostamos.

A História da Quinta de la Rosa

Com um português praticamente perfeito, mas marcado pelo sotaque da sua origem inglesa, Sophia Bergqvist contou um pouco da história da sua família e da Quinta de la Rosa. O seu bisavô escolheu o nome da casa devido a um negócio de xerez que ele possuía na Espanha e que se chamava La Rosa; porém, Sophia garante que não possui nenhuma gota de sangue espanhol, brincando com a rivalidade amigável entre os vizinhos da Península Ibérica.

Em 1906, Claire Feuerheerd, avó de Sophia, recebeu de presente de batismo a Quinta de la Rosa. A bela propriedade no Douro, localizada a 100 km do Porto, foi herdada em 1972 por seu filho Tim Bergqvist, que também herdou da mãe a paixão pelo Douro e a cultura do vinho.

Esse fato foi lembrado pelo enólogo Jorge Moreira durante sua apresentação. Ele comentou que ficou admirado com o amor e o conhecimento da terra que Tim possuía, maior do que o demonstrado por muitos portugueses.

Até 1988, a produção da Quinta de la Rosa era vendida para outras casas, a Sandeman e a Croft. Tim decidiu, então, investir na produção vínica o dinheiro recebido pela venda de uma empresa da família e convidou a sua filha, Sophia Bergqvist, que vivia na Inglaterra, para trabalhar ao seu lado.

Foi então que, depois de muita conversa na família, eles começaram a produzir vinho do Porto com marca própria, dando início a uma nova era na Quinta. Rompeu-se com o que vinha sendo feito há mais de 100 anos.

Também foi nessa época que eles começaram a disponibilizar um quarto para o enoturismo, com o objetivo de divulgar a quinta e o trabalho que era realizado lá. Atualmente são 27 quartos e duas villas para alojamento. A quinta oferece também visitas guiadas, provas de vinhos e refeições.

Sophia deixou o seu emprego e foi trabalhar com o pai. No jantar, ela se lembrou, com humor, de quando começou a fazer os cálculos dos possíveis gastos e lucros da Quinta, a partir dos aprendizados do seu MBA em Business.

“Em cinco anos, vamos ter dinheiro”, ela revela que pensou na época. Na verdade, passaram-se 20 anos até o lucro surgir; “foi um projeto um pouco mais comprido do que pensamos”, disse ela, rindo.

Sophia também contou que, durante todos esses anos, ela e o pai se depararam com todos os problemas possíveis no projeto e que, um dia, ela pretende escrever um livro sobre o tema. Mas, segundo ela, valeu a pena: “Foi uma viagem incrível, onde eu tive uma ligação muito forte com meu pai”.

Em 1991, Tim e Sophia, com a ajuda do enólogo David Baverstock, começaram a produzir vinhos do Douro com as uvas da propriedade, tornando a Quinta de la Rosa uma das pioneiras a levar a sério a produção de vinho tinto de mesa na região.

Jorge Moreira ressalta que o feito de Sophia é ainda maior do que as pessoas imaginam, pois, como uma gestora mulher em um período em que as mulheres quase não tinham voz, ela superou obstáculos adicionais para que a Quinta de La Rosa tivesse o sucesso de que hoje desfruta.

Na Quinta, pratica-se uma agricultura sustentável, certificada pelas entidades ADVID e SATIVA. Enquanto a maior parte das casas de produção de vinho do Porto realiza o envelhecimento e engarrafamento dos vinhos em Vila Nova de Gaia, a Quinta de La Rosa decidiu manter esses processos no Douro.

O jantar e os vinhos da Quinta de la Rosa

Os vinhos da Quinta de la Rosa servidos no evento, primeiro em um momento de degustação e, depois, acompanhando o jantar, foram apresentados por Sophia e pelo enólogo Jorge Moreira.

Segundo Moreira, a Quinta de la Rosa produz vinhos com caráter e personalidade, respeitando a singularidade de cada vinha e de cada ano no Douro.

Inicialmente, provamos três vinhos brancos, três tintos e um vinho do Porto.

Ao longo do jantar, bebemos mais um branco, dois tintos e dois vinhos do Porto, sendo o último deles o tão aguardado Tawny 30 anos.

 

Vinhos da prova

La Rosa Reserva Branco 2010

  • Castas: Viosinho e Vinhas Velhas.
  • Esgotado na produção.

Vinho elegante, equilibrado, com aroma de frutas e notas cítricas, ideal para aperitivo ou para acompanhar refeições leves.

La Rosa Reserva Branco 2014

  • Castas: Viosinho e Vinhas Velhas.
  • Esgotado na produção.

Vinho equilibrado e delicado, com acidez suave e refrescante, perfeito para ser bebido como aperitivo ou com refeições leves e de peixe.

Foto: ©Quinta de la Rosa (por Vasco Neves)

La Rosa Reserva Branco 2017

  • Castas: Viosinho e Vinhas Velhas
  • Envelhecimento: até 5 anos

Para o enólogo Jorge Moreira, este vinho é um milagre, já que o verão de 2017 foi extremamente quente e os vinhos brancos são muito sensíveis à temperatura. Mesmo assim, o La Rosa Reserva Branco 2017 surpreendeu pela alta qualidade.

Trata-se de um vinho muito intenso e expressivo, que mostra bem o ano extremo que o originou. É denso e complexo, com fina acidez, mas também fresco. Ideal para ser bebido como aperitivo ou para acompanhar peixes ou refeições leves.

La Rosa tinto 2017

  • Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão e Vinhas Velhas
  • Envelhecimento: até 5 anos

Gerado no mesmo ano de intenso calor, o La Rosa tinto 2017 é robusto, estruturado e concentrado, mas equilibrado, não revelando excesso de maturação. É um bom acompanhamento para queijos e pratos de carne.

Segundo Sophia, esse vinho é o coração da Quinta de La Rosa e o mais vendido no exterior.

La Rosa Reserva tinto 2016

  • Castas: Touriga Nacional e mistura de castas provenientes de Vinhas Velhas
  • Envelhecimento: até 10 anos

Vinho de excelente estrutura, com textura complexa. Para Jorge Moreira, este vinho é a prova de que a região do Douro é especial, capaz de produzir maturações muito profundas, resultando em vinhos ricos e complexos, mas, ao mesmo tempo, mantendo elegância e frescura.

É um vinho muito aromático, que remete a ameixas pretas, mostrando todo o potencial do Douro. Acompanha preferencialmente pratos de carnes fortes, enchidos ou queijos da Serra. Envelhece muito bem em garrafa. É para comprar e guardar.

 

Foto: ©Quinta de la Rosa (por Vasco Neves)

Quinta de la Rosa Vale do Inferno 2015

Com origem na vinha mais emblemática da Quinta de La Rosa, esse vinho é macio e tem muita personalidade. Foi lançado no final de 2018 e promete ser mais um sucesso da Quinta de La Rosa.

Quinta de la Rosa Porto Vintage 2016

  • Castas: Vinhas Velhas, Touriga Nacional, Touriga Franca e algum Sousão de “letra A”, provenientes dos mais antigos patamares da Quinta de La Rosa.
  • Envelhecimento: alto potencial de envelhecimento (20 anos), mas também pode ser apreciado jovem.
  • 95 pontos na Cellar Selection da Wine Enthusiast de dezembro de 2018.

Vinho potente, elegante, muito complexo e cheio de sabores. Pode ser consumido como digestivo, sozinho ou com queijos ou chocolates. É intenso e tem muita estrutura.

Vinhos do jantar

TIM Grande Reserva branco 2015

  • Castas: Viosinho, Gouveio e Arinto
  • Envelhecimento: até 5 anos.
  • 93 pontos na Wine Enthusiast de janeiro de 2018.

A relação de Sophia com este vinho é especial. O nome TIM é uma homenagem ao seu pai e o rótulo da garrafa foi criado pelo seu filho, Mark. Com uma taça de Tim, ela propôs um brinde a Tim Bergqvist, que faleceu em junho de 2018. O vinho foi lançado no mercado no final de 2018.

Sophia falou de forma emocionada do pai e da paixão que ele nutria pelo Douro e pela Quinta de la Rosa. Segundo Jorge Moreira, Tim era um profundo conhecedor da região e de suas histórias e surpreendia até mesmo os portugueses quando falava do Douro.

O vinho, elegante, mas também complexo, beneficiou-se da alta qualidade das uvas de 2015. Apresenta fresca estrutura e excelente acidez e acompanha bem pratos de peixe, marisco, carne branca e queijo curado picante.

La Rosa Reserva tinto 2008

  • Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca e Tinta Roriz, selecionadas nas melhores parcelas.
  • 92 pontos na Wine Enthusiast de novembro de 2010.
  • Esgotado na produção.

Muito austero e complexo, mediamente encorpado, acompanha preferencialmente pratos de carne fortes, enchidos ou queijo da serra.

Quinta de la Rosa Porto Tawny 30 Anos (1988 – 2018)

O armazenamento e engarrafamento no Douro dão aos vinhos do Porto da Quinta de La Rosa um traço singular desde a apanha da uva até o vinho em garrafa.

A Quinta confecciona Portos com um estilo mais seco e trabalha para que a aguardente esteja bem integrada no lote. Os vinhos são fermentados com pisa a pé em lagares de granito e estagiados em balseiros de madeira muito antigos.

Um dos mais especiais frutos dessa produção é o Porto Tawny 30 Anos, lançado em edição especial no jantar de celebração de 30 Anos da “Nova Era” da Quinta de la Rosa. Ele é resultado da mistura de vinhos do Porto de excelência, com uma idade média de 30 anos.

Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz de letra “A” e provenientes dos mais antigos patamares.

O Porto Tawny 30 Anos apresenta enorme elegância e complexidade. Com aromas de fruta desidratada, vinagrinho, balsâmicos, café e madeira exótica, o vinho tem uma enorme intensidade de sabores. Ele pode ser servido fresco como aperitivo, ser bebido ao final da refeição ou acompanhar sobremesas ou queijos.

Comentários