Nossa primeira visita de 2022 foi em uma das regiões que mais nos surpreendeu desde que chegamos a Portugal: fomos à Quinta da Atela, na região dos Vinhos do Tejo. Situada em Alpiarça, na margem sul do rio que dá nome à região e com muita história para contar — há até mesmo escavações arqueológicas no local —, a quinta diferencia-se não só pela sua grande experiência no setor, mas principalmente pela qualidade e inovação nos seus vinhos.
Colocando em primeiro plano a sua tradição centenária conjugada com um ADN arrojado e inovador, a Quinta da Atela entrou em 2022 com o pé direito, lançando muitas novidades, como seus quatro novos vinhos monovarietais da safra de 2020, que tivemos a oportunidade de provar.
Produzidos a partir de Gewurztraminer, Chardonnay, Arinto e Pinot Noir, pelas mãos do enólogo Antonio Ventura, os vinhos nos surpreenderam bastante. Além disso, o lançamento da Aguardente Velhíssima XO Capela da Atela foi um dos pontos altos do dia, um produto premium e carregado de afeto.
Quer saber mais sobre a Quinta da Atela e os seus vinhos? Então venha nos acompanhar nessa viagem!
Uma história marcada por figuras notáveis
Invadida por tudo o que de melhor o Tejo tem para oferecer, pode encontrar a Quinta da Atela mais precisamente em Alpiarça, uma vila situada no distrito de Santarém.
Inicialmente criada sob o nome de Quinta da Goucha, no século XIV, a Quinta da Atela chegou mesmo a pertencer ao genro de D. Nuno Álvares Pereira, uma figura emblemática pelo seu papel enquanto Conde de Arraiolos e Barcelos. Após este período de posse, a propriedade passou por uma ordem dominicana, da qual vieram a fazer parte algumas das figuras mais ilustres da história portuguesa.
Já após o 25 de abril, a Quinta da Atela permaneceu cerca de 10 anos ocupada. No entanto, o Ministro da Agricultura, pertencente ao governo do Doutor Mário Soares, restituiu os donos encontrando a propriedade com condições extremamente debilitadas. Desta forma, o espaço foi alvo de uma restituição, construindo-se uma nova adega e reconstruindo-se todos os locais de armazenagem, como era o caso das adegas com mais de um século.
Iniciando-se assim um novo capítulo para a Quinta da Atela no final dos anos 90, nos dias de hoje a quinta continua na posse da família, mas com uma identidade totalmente renovada. Foi dada uma polivalência a todos os seus espaços, sendo recuperado o palacete e reformulada toda a gama de vinhos.
O solo que dá origem a vinhos únicos
Ainda que no passado a Quinta da Atela possuísse milhares e milhares de hectares, na atualidade a propriedade conta um valor estimado de 580 hectares, dos quais 130 se destinam às vinhas que vêm dar origem às suas produções únicas.
Na verdade, para além de este produtor exercer um grande contributo para o setor do enoturismo, o foco do seu trabalho centra-se exatamente na produção de vinhos.
Também as características do terroir estão impressas nestas produções, refletindo toda a essência do Tejo. Assim sendo, os solos são essencialmente arenosos, o chamado solo de transição. Isto quer dizer que tem algum barro à mistura e, consequentemente, capacidade de retenção e de drenar.
A quinta tem plantadas mais de 20 castas, as nacionais e as principais francesas. O ex-líbris em termos vitícolas é uma vinha de 72 anos com mais de 20 hectares de casta castelão, capaz de produzir cerca de 8 toneladas de uva.
A Prova de Vinhos
Foi em 2020 que a Quinta da Atela começou a criar a sua mais recente gama de vinhos, as produções Casa da Atela. Constituída por quatro vinhos monocastas, esta linha parte da vontade de desenvolver produtos excecionais e que se diferenciam de toda a concorrência.
Surgem assim a Casa da Atela Gewzrtraminer 2020, Casa da Atela Arinto 2020, Casa da Atela Chardonnay 2020 e Casa da Atela Pinot Noir 2020. Um conjunto de três brancos e um rosé, esta gama distingue-se desde logo pela sua qualidade, sendo produzida em vinhas com a mesma idade, à exceção do Arinto que veio de uma vinha mais nova.
De mencionar que também tivemos o privilégio de provar a Aguardente Velhíssima XO Capela da Atela, um produto premium que reflete a paixão do antigo dono da propriedade por produzir grandes destilados.
Contudo, a Quinta da Atela não se vai limitar por estas quatro variedades e tem a intenção de mudar todos os anos, mesmo que algumas das castas se cheguem a repetir.
Casa da Atela Gewzrtraminer 2020
O primeiro vinho que provamos foi o Casa da Atela Gewzrtraminer 2020, feito a partir de uma casta diferenciadora e extremamente aromática.
Normalmente cultivada na região francesa da Alsácia, local onde se produzem vinhos fantásticos, esta casta tem um histórico muito interessante na Quinta da Atela. Com vinhas com mais de 20 anos cultivadas na propriedade, mesmo que a Gewzrtraminer se adapte mais facilmente a climas frios, a casta adaptou-se de forma extraordinária ao solo e clima do Tejo.
Com um perfil muito semelhante ao moscatel graúdo, envelhecendo muito bem, a Gewzrtraminer deu origem a este vinho único, bem diferente de qualquer coisa que já provamos anteriormente. Com 12 graus de álcool e uma acidez que ronda os 5.6, este é um vinho extremamente aromático, bastante seco e com um volume de boca bem interessante.
Já no que diz respeito ao método de produção deste vinho insinuante, vale mencionar que o mesmo foi vinificado com algumas horas de maceração pelicular a frio, para se conseguir extrair a componente aromática que interessa, assim como encorpar o vinho e dar-lhe mais untuosidade.
Casa da Atela Arinto 2020
Desenvolvido a partir de uma casta tipicamente portuguesa de uma vinha com três anos, o Casa da Atela Arinto 2020 é o único vinho desta gama com graduação alcoólica de 12,5%. Possuindo uma acidez de 6.2, ao contrário do vinho anterior aqui podemos encontrar uma pequena componente de madeira, já que cerca de 40% deste vinho passou por barrica nova e barrica velha.
Fermentando nestas barricas e com bâtonnage durante 100 dias, foi executada uma assemblage entre o vinho que fermentou em inox e o que fermentou em barrica. Daqui nasceu uma produção cuja madeira conferiu maior longevidade e estrutura de boca.
Já no que diz respeito ao álcool, percebemos imediatamente que o mesmo se encontra muito bem integrado.
Casa da Atela Chardonnay 2020
Uma das castas velhas mais viáveis que se encontra na Quinta da Atela, dada a sua estabilidade, a Chardonnay preserva muito bem a acidez de um vinho.
O mesmo não podia ser diferente nesta produção, cujo Chardonnay teve uma adaptação perfeita, sendo uma casta que ano após ano vai surpreendendo pela positiva, pela constância que tem de qualidade.
Por isso mesmo, para esta produção de 2020 a Quinta da Atela procurou por preservar a acidez da casta, ao invés de a deixar evoluir até à sua maturação final. Encontramos assim um vinho com 12 graus, distinto pela sua longevidade e espaço de boca
No que diz respeito ao seu método de produção, fermentou 30% em barrica velha e nova, com 100 dias de bâtonnage bissemanal e, após algum tempo, uma vez por semana.
Casa da Atela Pinot Noir 2020
Com cerca de 30% em fermentação e posterior bâtonnage em barrica nova e usada, o Casa da Atela Pinot Noir 2020 é o único rosé da nova gama da propriedade, desenvolvido a partir desta casta originalmente francesa.
Este é o vinho com mais acidez dos quatro e, com uma base de espumante, nota-se inclusivamente a presença de madeira no mesmo. Além disso, estas uvas vindimadas no início de agosto conferem-lhe notas florais, afastando-se do típico frutado.
Aguardente Velhíssima XO Capela da Atela
Com mais de duas décadas, a Aguardente Velhíssima XO Capela da Atela nasceu a partir de Fernão Pires, fruto da grande ligação familiar da propriedade com este tipo de produções.
O antigo dono da quinta, que também era proprietário do Avenida Palace, sempre deteve uma grande coleção de conhaques, chegando mesmo a selecionar e comprar tudo o que o hotel possuía em termos de bebidas.
Desta paixão nasceu esta aguardente, cuja uva foi vindimada mais cedo, por volta dos 10 graus. Foi feita assim a aguardente com duas destilações, um primeiro produto com cerca de 30 graus, e depois com 62 graus.
Na verdade, a aguardente esteve nas barricas cerca de 20 anos, sendo iniciado o processo da sua recuperação, de forma a chegar aos 40 graus apresentados.
Realmente, este produto conquista desde o primeiro momento, honrando a região e comprovando o seu contributo para a produção de grandes destilados.
Os olhos postos no futuro
A Quinta da Atela não se fica apenas pela produção dos seus vinhos únicos, levando o seu potencial mais além através de diferentes iniciativas.
De um lado encontra-se a sua crescente vocação para a exportação e, com o objetivo da internacionalização da quinta, atualmente levam as suas produções até ao Canadá, permanecendo o objetivo de conquistar o público brasileiro.
Por outro lado, um dos focos de ação da Quinta da Atela é o seu crescimento através do enoturismo, seja através dos seus espaços de lazer ou da realização de conferências, marcadas pelo pano de fundo da paisagem do Tejo.
Desta forma, são inúmeros os projetos que a propriedade tem desenvolvido nesse sentido, como é exemplo a abertura de 16 casas que irão servir para visitas e, assim, alargar a oferta de enoturismo.
Realmente, a Quinta da Atela é distinta no panorama nacional pela sua vertente inovadora, transversal a todo o seu trabalho.