Natural da região do Tejo, Diogo Campilho nasceu e viveu durante toda a sua vida na Quinta da Lagoalva, que outrora tinha sido adquirida pela sua avó. Desde muito cedo acompanhou de perto todo o trabalho desenvolvido na quinta e, por isso, seu percurso no mundo dos vinhos já estava traçado.

Quinta da Lagoalva | Viva o Vinho

Depois de licenciar-se em enologia na UTAD, em Vila Real, Diogo embarcou numa aventura para a Austrália durante seis meses. Foi lá que se viu confrontado com as técnicas e modos de produção característicos do Novo Mundo e aprendeu e cresceu enquanto enólogo.

De volta a casa, atualmente Diogo Campilho é um dos enólogos da Quinta da Lagoalva e responsável pelo mercado nacional e internacional. Hoje, Diogo conta um pouco do seu percurso no mundo dos vinhos e revela um pouco do trabalho realizado na quinta.

Vamos conhecer um pouco mais sobre a história de Diogo? Descubra tudo na nossa entrevista!

Hoje você é o enólogo da Lagoalva, correto?

Sim, juntamente com o Pedro Pinhão. Fazemos tudo o que está relacionado com a produção das uvas e do vinho. Além disso, sou também responsável pelo mercado nacional e internacional. Ser um “bocadinho de tudo” dá-me uma certa visão e um à vontade para poder falar de tudo: preço de custo da uva, trabalho específico na adega ou, até mesmo, o gosto particular e cultural de um determinado país. Isto ajuda-nos a que, em equipa, tenhamos uma visão alargada do mundo do vinho. Não podemos estar confinados à parte comercial, nem estar só fechados na adega, temos de ter uma visão alargada de toda a área de produção e do mundo vinho.

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Como começou a sua carreira na enologia?

Nasci, cresci e vivi toda a minha vida na Lagoalva, junto ao Tejo, em Alpiarça. A quinta era da minha avó que faleceu há cerca de seis anos. Hoje, pertence ao meu pai e aos meus tios. Vivi sempre aqui, mas estudava em Lisboa, onde passava a maior parte dos meus dias. Não foi fácil, mas a verdade é que sem sacrifício não damos valor às coisas. Quando fiz o 12º ano achei que deveria prosseguir os estudos em Agronomia e o meu pai acabou por sugerir enologia, uma vez que na Lagoalva havia vinhos e era algo que ninguém da família ainda geria. E assim foi, segui enologia – uma área a desvendar – e fiz o curso em Vila Real. Depois fui estagiar para a Austrália onde fiz três vindimas seguidas com o mesmo enólogo – neozelandês – que acabou por vir comigo para Portugal.

Qual é a diferença entre produzir vinho na Austrália e Portugal?

Penso que hoje as diferenças são menores.  As diferenças do terroir, do solo, das castas e da temperatura vão existir sempre. A nível cultural, em 2003, havia uma diferença abismal entre a produção na Austrália e a que se fazia na Lagoalva. A Lagoalva era transversal ao que se passava na maioria das vinícolas em Portugal. Na Austrália, a vindima era feita à noite, temperaturas de fermentação diferentes, leveduras diferentes, o tratamento às castas brancas e tintas era feito praticamente no mesmo dia. Na verdade, tudo isso serviu para experimentar e analisar as diferenças e perceber quais as opções que queremos tomar, ou não, enquanto produtor. Primeiro, por estar fora de Portugal pela primeira vez e durante seis meses. Depois, tudo era novo e motivo de interesse, especialmente porque os aspetos culturais e modo de trabalhar dos anglo-saxónicos e latinos é muito diferente. Tudo isto me influenciou na pessoa que sou hoje e nos vinhos que faço. Hoje, considero que as diferenças são menores, temos adegas top, vindimas a qualquer hora do dia, internet e e-mails, entre outras coisas. A informação está disponível, o saber existe, mas penso que é preciso viajar, pois o conhecimento adquirido pela prática e pela experiência é fundamental.

 Há quanto tempo está na Lagoalva, enquanto enólogo?

Comecei a trabalhar na Lagoalva em 2003, mas tornei-me responsável máximo somente em 2005. Portanto, há cerca de 15 anos.

Como avalia a evolução da produção da Lagoalva durante este período?

Numa fase inicial, a Lagoalva foi pioneira a aparecer com novidades, nomeadamente o Syrah. Houve um momento alto entre 1995 e 2000 aqui na quinta. Contudo, em 2001/2002 outras vinícolas e, também, outras regiões, começaram a produzir vinhos de mesa e a Lagoalva passou um pouco para segundo plano. Mas com os prémios nacionais e internacionais, acabámos por ir conquistando novamente o mercado e, para tal, foi importante manter-se a qualidade e o preço correspondente à mesma. Além disso, passámos a oferecer um portfólio maior, que continuamos a fazer, apostando na oferta de espumante, rosé, branco, gama de entrada — todos vinhos que não existiam. O nosso objetivo era construir um portfólio que pudesse ir desde os 3,50€ até aos 50€ para que o cliente pudesse ter oportunidade de escolha. Penso que com o passar do tempo, a Lagoalva começou a ter um papel mais profissional do que já tinha, no sentido em que passou a ter dois enólogos residentes, começou a negociar diretamente com as redes de distribuição e a ter um maior controlo do negócio do vinho, que antes não tinha.

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Hoje exportam para quantos países?

Não sei precisar exatamente, mas penso que sejam 16 ou 17 países. A nível de faturação, temos uma distribuição 60/40, sendo que 60% corresponde à faturação internacional e 40% à faturação nacional. Para nós, é fundamental estarmos lá fora. A Lagoalva tem relações muito fortes com alguns países estrangeiros há muito tempo, em especial com o Brasil, Inglaterra, Alemanha e Dinamarca. Em todos estes países conseguimos estabelecer relações duradouras com as empresas de distribuição. Para mim, o mais importante é apostar na parceria no estrangeiro, e não apenas na exportação, para promover as nossas marcas.

Como curiosidade, pode dizer-nos os gostos que se diferenciam entre os países para onde exportam?

Os ingleses são os que mais se diferenciam porque estão sempre à procura das novidades. Isto porque são muito alimentados pelos vinhos da Nova Zelândia e da Austrália. Na verdade, o consumidor inglês procura vinhos tintos com graduações alcoólicas baixas, com pouca madeira. Mostram preferência por vinhos que não sejam muitos trabalhados pelos enólogos, que sejam naturais e reflexo do terroir das regiões. Já nos vinhos mais leves, a preferência recai sobre os brancos frutados e rosés mais simples. O mercado inglês, que está sempre na linha da frente, dita as preferências nos três a quatro anos seguintes. Porém, no Brasil, as castas portuguesas são as mais procuradas pelo consumidor e não se dá preferência a zonas de produção específica, pois têm confiança nas marcas de Portugal. Os brasileiros preferem tintos mais elaborados com alguma madeira, brancos frutados e rosés frutados e simples.

“(…) penso que é preciso viajar, pois o conhecimento adquirido pela prática e pela experiência é fundamental.”

Como você descreve a produção da Lagoalva? Apostam mais nos blend ou nos monocastas?

Posso dizer que 80% continua a ser de blends, que podem ter mais do que duas ou três castas. Temos, também, os varietais que são os nossos Grande Reserva. É o caso do Alfrocheiro e do Syrah – castas em que fomos pioneiros em Portugal e na região do Tejo. Depois, temos um Sauvignon Blanc, um vinho frutado e simples que tem sido um grande sucesso e, ainda, um Sauvignon Blanc fermentado em madeira. No entanto, eu e o Pedro estamos a apostar na produção de blends só com castas nacionais. Foi lançado, inclusive, há cerca de dois dias, o Dona Isabel Juliana Branco. É um lote de Viosinho, Fernão Pires e Alvarinho, que suscita algum interesse tanto a nível nacional, mas também no mercado internacional.

Algumas castas são mais conhecidas lá fora, a Alvarinho por exemplo...

Sim, a Alvarinho, mas também a Viosinho e, em especial, a Fernão Pires, cujas uvas são capazes de originar diversos estilos de vinhos. A CVR do Tejo tem feito um trabalho junto dos agentes económicos que na minha opinião vai ter frutos, mostrar a versatilidade que a casta Fernão Pires tem, desde um Late Harvest, um vinho com ou sem madeira, até mesmo um espumante. É uma casta que se adapta a qualquer tipo de vinho e isso é uma mais valia que esta região tem. Nós como agente económicos desta região e eu como enólogo, e conhecedor desta casta, vamos começar a trabalhá-la cada vez mais.

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Existe alguma casta com que goste mais de trabalhar?

Gosto muito de trabalhar com a Alfocheiro. É uma casta que adoro e por várias razões. A nível de vinha é uma casta bastante sensível na região do Tejo, pois não é produzida em grandes quantidades. A nível de vinificação requer uma certa elegância para trabalhar, precisamos usar temperaturas de fermentação baixas. Mas é um vinho que me dá algum gosto fazê-lo e, acima de tudo, bebê-lo, porque é algo único. É uma casta portuguesa que não se encontra em qualquer local, pois necessita de um microclima muito especial e de um terroir específico para poder ter o seu aroma, a frescura e taninos elegantes — muito característicos desta casa. No entanto, nesta fase da minha vida, tenho apresentado maior preferência por fazer e beber vinhos brancos. Acho que os vinhos brancos são vinhos mais naturais, ao contrário dos tintos que podemos sempre variar no teor alcóolico, na madeira e nos taninos. Os brancos são vinhos que muito facilmente desmascaram o enólogo.

Qual é sua maior fonte de inspiração?

Estar bem comigo próprio, descontraído e, acima de tudo, estar de cabeça limpa. Gosto que as coisas fluam naturalmente e considero que é preciso haver um equilíbrio emocional para que haja uma certa fonte de inspiração. Se estivermos bem connosco mesmos e se fizermos coisas que gostamos, acabamos por encontrar esse equilíbrio. No meu caso, o desporto é algo que adoro e que tento fazer regularmente, assim como estar com a minha família e amigos. São estas pequenas coisas que fazem com que tudo flua e me deixam feliz. Para mim, o mais importante é ir trabalhar feliz, pois quando isso acontece tudo se torna mais fácil. Acho que é preciso confiança, estabilidade e estarmos junto daqueles que mais gostamos. Tudo isto se torna na minha maior fonte de inspiração.

Tem algum vinho da Lagoalva que seja seu preferido?

Depende muito do dia e, até mesmo, do próprio clima. Mas como disse, o Alfrocheiro é um vinho que gosto muito e me dá prazer produzir e beber. É um vinho tão complexo, mas que ao mesmo tempo se revela tão simples. A nível gastronômico é um vinho que acompanha lindamente pratos de forno, tais como um bom borrego ou uma perna de peru, que são pratos mais condimentados, mas também acompanha muito bem carnes grelhadas e pratos mais simples. Isto por causa da sua grande versatilidade. Já no caso dos brancos, gosto muito do Talhão 1 devido à sua simplicidade e ao fato de ser frutado e de ser bebível a qualquer hora do dia. Mas também gosto bastante de um vinho que lançámos recentemente e que considero que nos fazia muita falta — o Dona Isabel Juliana Branco. É um branco sério, austero, mas ao mesmo tempo elegante e muito gourmet. Além disso, é também um vinho muito especial para todos nós, pois foi feito a pensar na minha avó.

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E novidades? O que vem por aí?

Este ano vamos lançar um abafado muito interessante e uma aguardente. Acho que é importante que uma empresa como a Lagoalva deve ter uma aguardente no seu portfólio, pois vai atender muito ao consumidor que procuramos satisfazer. São dois novos produtos que esperamos lançar em breve.


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