De norte a sul, cada vez mais ficamos apaixonados por Portugal e pela sua riqueza abundante não só em vinhos e gastronomia, mas também em pessoas. São tantos os locais por conhecer, mas se há algo que nos marca em cada lugar que passamos são certamente as pessoas que nos recebem. E dessa vez, em Portalegre, não foi exceção.
Depois de uns dias bem passados na Beira Interior, viajamos até ao Alentejo para conhecer algumas das joias escondidas pela região. No último fim de semana do mês de novembro, o Alto Alentejo foi o palco escolhido para a realização da feira Vinhos, Cores & Sabores, na qual marcamos presença, mais uma vez, a convite da revista Grandes Escolhas. Foram dias ricos em beber, comer e, sobretudo, saber de uma região que acolhe alguns dos melhores vinhos de Portugal.
A Cidade dos Sete Conventos
Portalegre se encontra situada em pleno Alto Alentejo, próximo da belíssima Serra de São Mamede. Conhecida como Cidade dos Sete Conventos, a sua variedade de fauna e flora, assim como seu patrimônio edificado e imaterial, concedem seu caráter único que conquista todos aqueles que a visitam. Logo nos chamou a atenção as fachadas pintadas de branco e amarelo (ou azul e amarelo) das casas, e nos explicaram que essas cores são típicas das moradias alentejanas.
Portalegre foi o local escolhido para receber a segunda edição do evento que tem como objetivo dar a conhecer a originalidade e unicidade dos vinhos do Norte Alentejo. Organizada pela Câmara Municipal de Portalegre e pela Grandes Escolhas, a feira contou com a presença de vinte produtores que mostraram aos visitantes alguns dos melhores vinhos do mundo – os vinhos do Norte Alentejo. Mas não foi só pelos vinhos que a feira foi um verdadeiro sucesso.
A Tapeçaria de Portalegre
Sua história é grandiosa, assim como seu patrimônio. Mas entre as tantas coisas que nos foram apresentadas, uma delas chamou nossa atenção: a tradição por detrás da arte da Tapeçaria de Portalegre.
A Tapeçaria de Portalegre remonta a 1948, e teve início pelas mãos do artista João Tavares. Um gênero de arte que tem como objetivo transmitir a essência de um original feito por pintores, ampliando suas ideias sobre um papel quadriculado próprio, em que cada quadrícula representa um ponto feito com a lã. É nisto que se traduz o trabalho realizado na manufatura e que pudemos constatar na nossa visita ao Museu da Tapeçaria, no qual foi possível contemplar algumas das artes realizadas por Almada Negreiros, Vieira da Silva, Júlio Pomar, entre outros tantos artistas.
Além de um símbolo da cidade, a tapeçaria constitui um símbolo de Portugal e foi assim que nos foi inicialmente apresentada por Fernanda Fortunato – uma desenhista que trabalha há muitos anos na área da manufatura. Segundo Fernanda, as desenhistas são fundamentais em todo o processo e não apenas o artista e as tecedeiras. Apenas elas conseguem captar a verdadeira sensibilidade e ver com atenção aquilo que os artistas pretendem transmitir.
A viticultura da região
Portalegre é uma região diferente e difícil no que toca à viticultura, pois tem um clima realmente diferenciador. Chove mais em Portalegre do que no resto do Alentejo, e há ainda geadas e neve que dificultam o trabalho desenvolvido. A vida pode não ser facilitada aos produtores desta região, porém os resultados são visíveis: aqui existem alguns dos melhores vinhos do país.
A diversidade de castas é única e o patrimônio de vinhas velhas também. Inclusive, a cidade recentemente contribuiu para um banco de germoplasma que existe em Pegões e Portalegre foi o maior fornecedor das castas das vinhas velhas. O trabalho desenvolvido por toda a região tem permitido preservar estas castas e replicá-las através de novos projetos. Cada vez mais há pessoas e viticultores preocupados com a questão ambiental e existem projetos integrados nos programas de sustentabilidade dos vinhos do Alentejo. Em destaque se encontra o trabalho desenvolvido para converter a produção das vinhas de um modo de produção integrada para um modo de produção biológico.
A região apresenta-nos os vinhos mais frescos, mais vivos e mais elegantes – algo que não é tão visível no resto do Alentejo. Esta frescura e juventude dos vinhos da Serra de São Mamede são, de fato, características fantásticas proporcionadas pelas diferenças de temperatura, a sua colocação do terreno e o próprio terroir.
Um jantar com o que há de melhor em Portalegre
Para descobrirmos a região, nada melhor do que um momento passado à volta da mesa, rodeado de um bom vinho, boa comida e especialmente de boa companhia. Assim foi a nossa noite de descoberta pelo melhor que Portalegre tem para nos oferecer.
Acompanhando os maravilhosos pratos apresentados por João Carlos Frutuoso —entre eles morcela assada com laranja e omelete de cogumelos —, tivemos o prazer de degustar vinhos fabulosos. Destaca-se, primeiramente, o Tapada do Chaves Branco 2017 que leva na sua composição uvas de uma das vinhas mais antigas do Alentejo – uma parcela de vinhas tintas de 1901 e uma parcela de vinhas brancas de 1903. Em seguida, o Tapada do Chaves Tinto Reserva 2014 apresentou a trilogia típica do Alentejo – as castas Alicante Bouschet, Trincadeira e Aragonês – com um perfil muito específico de Portalegre.
Mas não só os vinhos e a gastronomia ocuparam nosso estômago e despertaram nossa atenção. Terminamos em grande (como dizem os portugueses) com a boca adoçada pelos doces conventuais apresentados por Ana Tomás. Sopa dourada, manjar branco e Torrão Real foram o destaque na sobremesa. De todos os patrimônios apresentados, os doces conventuais de Portalegre são talvez os menos conhecidos, mas são simplesmente deliciosos. Na sua apresentação, Ana conta-nos que a dificuldade é escolher entre tantos doces, pois Portalegre possui um receituário riquíssimo e dois conventos com muitas receitas de doces associadas.
E para encerrar a noite? Não faltou a típica “bica”, como chamam em Portugal. A refeição deu-se por terminada com um café especialmente preparado por um aluno da Escola de Hotelaria e Turismo de Portalegre, acompanhado por rebuçados de ovo típicos da região. Estava tudo absolutamente fantástico!
Agradecemos à revista Grandes Escolhas pela oportunidade e, também, ao Município de Portalegre por nos ter recebido e nos ter proporcionado uma experiência tão única. Com certeza voltaremos em breve!