Participar de feiras de vinhos é um dos programas que mais curtimos. É uma oportunidade sem igual de experimentar vinhos diferentes e entrar em contato diretamente com produtores e importadores, aprender as particularidades de cada vinho e conhecer inúmeros admiradores da bebida – muitos deles tornam-se nossos amigos.
Há cerca de um mês fomos à Feira de Vinhos do Empório Santa Maria, um supermercado gourmet aqui de São Paulo que pertence ao grupo St. Marché. Como só pudemos ir no sábado, dia aberto ao público em geral, estava bem lotado. Mesmo assim, conseguimos passar boas horas fazendo o que mais gostamos: descobrindo vinhos diferentes e, principalmente, de bom custo benefício – aqueles que a gente pode tomar no dia a dia sem culpa!
O vinho do primeiro stand que paramos era exatamente assim. A linha Maison Nicolas, da França, é vendida no Brasil por cerca de R$ 45 e apresenta vinhos super honestos, que harmonizam muito bem com as refeições. Provamos um Merlot e um Cabernet Sauvignon. São dois vinhos que não passam por estágio em barricas, o que os deixa mais leves e frutados. São vinhos para se beber jovens, sem compromisso, mas que não deixam nada a desejar. O Merlot em particular era muito redondo e tinha uma acidez interessante. Bons vinhos na sua faixa de valor.
A seguir foi a vez da linha Maison de la Cabotte, onde degustamos dois Pinot Noir e um Sauvignon Blanc. O Pinot Noir da Borgonha era levíssimo, não demonstrava ser um 2009, estava pronto para beber. Poderia muito bem ser servido à beira da piscina gelado, como se faz no Chile. O Sauvignon Blanc era frutado, leve, mas tinha características interessantes por ser produzido a partir de vinhas velhas. Já o Pinot de Gevrey-Chambertin é um vinho interessante, que vale a pena ser provado, mas bem leve também – típico de Pinot.
A terceira parada também foi em um lar de franceses e a experiência foi bem mais interessante, para quem gosta de vinhos com mais presença de boca e grande potencial de guarda.
O primeiro a degustarmos foi um Chateau de Chantegrive Graves 2009. Produzido com porções idênticas de Cabernet Sauvignon e Merlot, é um vinho gastronômico que enche a boca e tem um excelente custo benefício para um vinho de Bordeaux. Extremamente bem feito, elegante e despretencioso.
O vinho seguinte foi o Prelude Grand-Puy Ducasse Pauillac 2006. Esse vinho estava dando sinais da idade, com uma borda um tanto atijolada e aromas de frutas secas. Indagado, o responsável pelo stand degustou e também estranhou. Comentou que podia ser a garrafa em particular, já que a anterior estava bem diferente.
Para compensar essa frustração, no entanto, ele nos serviu um vinho muito, mas muito especial, um dos melhores da feira. Era o Château de Camensac Haut-Médoc Grand Cru Classé 2002. Na taça um vinho bonito, brilhante, de alo vivo, rubi e mostrando-se ainda “jovem” – mesmo sendo um 2002. Com aromas maduros que lembravam frutas negras e baunilha. Na boca, apresentava paladar persistente, corpo médio e taninos bem amaciados – excelente. Com segurança poderia esperar mais 15 anos para ser aberto.
A seguir fomos ao stand da Guaspari, que estava trazendo seu lançamento, o Vale da Pedra. O novo vinho da vinícola do Estado de São Paulo tem a missão de representá-la em uma faixa de preço mais baixa, aproximadamente metade do valor dos Syrahs Vale do Chá e Vale da Serra, mas ainda bem acima do que se poderia chamar de vinho de entrada. Mais leve que seus irmãos, não deixa nada a desejar. É um bom Syrah, de corpo médio e bastante frutado, fácil de beber, mas na faixa em que o posicionaram há vinhos superiores.
Na Guaspari também provamos o seu rosé, lançado no início deste ano. É um vinho bem aromático, produzido a partir da uva Syrah, muito fresco e leve, com um toque mineral que diferencia esse rosé. Surpreendeu por não ser muito doce, diferente da maioria dos rosés que já provamos. Não sou muito de rosé, mas este caiu bem.
No stand da Viniterra, uma vinícola argentina, um rapaz entusiasmado chamava a atenção para comprovarmos a diferença entre seus vinhos e os demais e fomos convidados a experimentar um Carménère argentino – ele garantia que o vinho não tinha aquele toque herbáceo que incomoda quando em excesso.
Era o Viniterra Select Carménère. De fato o vinho era diferente, não lembrava em nada os típicos Carmènéres chilenos. O toque herbáceo estava lá, mas apenas como uma referência à uva. Eu diria que lembrava mais um Syrah, de cor intensa, bom corpo, estrutura e complexidade – resultado dos 12 meses de barrica de carvalho francês pelo qual passa 80% desse vinho. Na boca é agradável e persistente, com taninos doces e redondos. Também passa por 12 meses de descanso na garrafa antes de ser comercializado. Muito interessante.
Em seguida foi a vez de um elegante Viniterra Select Malbec 2011. Aromático e com bom corpo, chamava a atenção por não ser pesado. De cor vermelha profunda, apresenta no nariz o típico aroma de frutas maduras da Malbec, acrescentado de especiarias e frutas secas devido aos 12 meses de estágio em barricas de carvalho francês e americano de primeiro uso. No paladar, traz taninos suaves, elegantes. O Viniterra passa também por 12 meses de descanso na garrafa antes de ir ao mercado, que fazem desse vinho um excelente rótulo de guarda. Um belíssimo vinho, sem dúvida.
Chegando à Itália e a uma das minhas vinícolas favoritas: Castello della Paneretta, que produz belíssimos Chiantis da Toscana. O que provamos nesta feira não foi o mesmo que experimentamos anteriormente – o nosso era o Riserva, esse era o clássico.
Como seu “irmão mais velho”, o Chianti Clássico é um vinho excelente. Brilhante na taça, aromático, um Chianti com tudo o que se espera dele – aroma frutado e intenso, sabor harmonioso e taninos macios. É equilibrado e tem boa persistência. Passa por 12 meses de estágio em barricas de carvalho francês, o que lhe confere também algumas notas de couro. Vale muito a pena.
Da Itália para a Espanha, mais precisamente Rioja, a terra do Tempranillo. Nesse stand encontramos o que, para nós, foi o melhor vinho do evento: do produtor espanhol Heredad de Baroja, que trouxe rótulos de 2001 e 2002 – os tais dos “velhinhos” que o Emanuel adora!
O primeiro deles foi o Heredad de Baroja Rioja Gran Reserva 2002. São 36 meses de barrica, um Rioja típico, excelente. Equilibrado, brilhante e jovem na taça. Aromas maduros e intensos, mas indicando que ele ainda poderia passar muito mais tempo na garrafa. Um Rioja típico, persistente, que enche a boca de sabores e traz um final que dá vontade de continuar a bebê-lo.
Mas o melhor ainda estava por vir. Em um cantinho só para convidados “especiais” estava guardada uma estrela: o Gran Baroja Rioja Gran Reserva 2001. Esse é um vinho de produção limitada, especial. Para quem gosta de um vinho maduro, denso, potente, está aí uma excelente pedida.
Para começar, ele passa 42 meses em barrica de carvalho e mais 24 meses em garrafa nas caves antes de ser comercializado. Só por aí é de se imaginar um vinho com grande capacidade de guarda, presença marcante de madeira e muita potência.
Mas o que se tem, de fato, é um vinho potente, mas elegante, com belo equilíbrio na madeira. Sente-se o vinho, seus complexos aromas e paladar persistente e maduro. Quanto à guarda, ele ainda tem uma longa jornada pela frente. Com certeza podendo chegar aos 20, 30 anos. Para nós, foi o melhor vinho do evento.
Sempre fazendo novos amigos
Já no final da Feira, conhecemos um português muito simpático, o Miguel de Jesus, proprietário da Quinta do Casal Monteiro, um dos produtores campeões de vendas da rede St. Marché pelo excelente custo benefício de seus vinhos. Miguel conversou bastante tempo com a gente, contando um pouco da história da vinícola, que fica perto de Santarém, na região do Tejo, em Portugal. Miguel estava acompanhado por Luis Santos, o enólogo da vinícola.
Da Quinta do Casal Monteiro, provamos o Forma de Arte Reserva, um português por excelência. Assemblage de duas castas potentes, aromáticas e marcantes – Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon. Apresenta boa estrutura com taninos presentes mas suaves, acidez equilibrada e um final de boca longo e persistente formando um conjunto complexo e agradável. Muito bem feito, para abrir com amigos e família, curtindo o momento.
Depois dos portugueses, voltamos aos italianos, com o Già Rosso Langhé 2014. Um vinho com todas as características que aprendemos a gostar, como o brilho na taça e o equilíbrio entre frutas e madeira. É produzido a partir do blend de três uvas muito tradicionais Barbera, Dolcetto e Nebbiolo. Um vinho gastronômico.
A seguir, mais dois italianos: o Calatrasi & Micciché Uomo 2014 e o Calatrasi & Micciché Syrah 2013. O primeiro é feito a partir de uvas que gostamos muito, Nero d’Avola e Merlot, e delas ganham os aromas marcantes, corpo estruturado, o toque aveludado e uma persistência marcante.
O Syrah traz características dos novos Syrahs europeus, como elegância, persistência, aromas marcantes, mas sem um certo peso de alguns sulamericanos, o que os têm tornado uma escolha certa para agradar diversos paladares.
Para fechar o dia, fomos ver como estava um velho conhecido, o Quinta do Vallado Douro Sousão 2012. De aroma muito concentrado, com notas de madeira, tabaco e frutas negras, é encorpado e tem excelente acidez – resultado dos 18 meses de estágio em barricas de carvalho francês.
Esse vinho é um daqueles que você abre quando quer ter certeza de que vai agradar a companhia. Denso, aromático, persistente, muito bem feito. Sempre uma aposta certa.
Foi a primeira vez que fomos à Feira de Vinhos do Empório Santa Maria e o evento surpreendeu pela qualidade e custo benefício dos rótulos que apresentou. Foi uma excelente seleção.