Se há uma palavra que define esta propriedade familiar é essência, tanto na sua origem e produções, como no trabalho diário e valores que representa. Inserida na sub-região de Monção e Melgaço, a Quinta de Soalheiro já está na quarta geração e distingue-se não só pela qualidade inigualável dos seus vinhos, como também pela sua forte vocação para a solidariedade.
Entre as suas últimas ações destaca-se o projeto social Germinar que, além de ter sido materializado através de um vinho com o mesmo nome, promete impactar diretamente a vida das pessoas da região.
O Viva o Vinho foi comprovar a excelência destes néctares e, num evento promovido no dia 31 de maio, tivemos o prazer de fazer parte de uma prova que incluiu o Soalheiro Clássico 2020, o Alvarinho Soalheiro Granit 2020 e, claro, o novo Germinar Soalheiro 2020 em um local sensacional — uma fazenda de ostras!
Fica com a gente para saber como foi a nossa experiência.
Uma referência em vinhos verdes
Reconhecida nacional e internacionalmente pelas suas produções de Alvarinho, sendo pioneira na introdução desta casta em Melgaço, a Quinta de Soalheiro foi fundada pela paixão familiar por estes néctares, inserindo-se entre serras e vales no ponto mais a norte de Portugal, em Melgaço.
Na verdade, foram nomes como o pai António Ferreira e o seu filho João Cerdeira que iniciaram a jornada deste local. Tudo começou com a plantação da primeira vinha de Alvarinho, em 1974 e, oito anos mais tarde, a produção do primeiro vinho desta casta.
Os vinhos Soalheiro diferenciam-se pelas suas características marcantes, resultado do solo fértil da região que, além da proximidade ao Rio Minho, também influencia positivamente o crescimento das vinhas, a quantidade das uvas, assim como os propulsores aromáticos.
Por outro lado, as serras que envolvem o terroir e as boas condições climáticas interferem favoravelmente nestes vinhos, impactando a maturação das uvas.
Unindo a inovação e a tradição na harmonia ideal, a Quinta de Soalheiro preza pela consistência e é o produto do amor e da dedicação de todas as gerações familiares que por ali passaram.
Assumindo a sua parte em todas as fases do processo produtivo, esta propriedade não é só o reflexo do trabalho, da técnica e da perícia, mas também da paixão por vinhos no seu estado mais orgânico.
Projeto Germinar – a solidariedade num rótulo
Apesar da prova de vinhos ter terminado com o Germinar Soalheiro – Loureiro Vinhas Velhas 2020, no que diz respeito a este artigo não podia fazer mais sentido começarmos com este vinho. Além das suas qualidades inigualáveis, o Germinar transporta valores tão importantes consigo que vêm comprovar que um vinho é bem mais que uma simples bebida.
Em toda a sua história, a Soalheiro apresenta uma forte ligação com a componente social, mas foi só há cerca de três anos que a ideia de criar um projeto assinado pela propriedade surgiu. É aqui que o nome António Matos surge, um elemento crucial nesta história e um dos principais motivadores que fizeram esta ideia ganhar forma.
António sempre teve uma ligação com a Quinta de Soalheiro e, sendo um viticultor e assistente social, sugeriu à equipa da propriedade apostar no desenvolvimento do seu próprio projeto. Proposta prontamente aceita, já que este também era um sonho da Quinta.
Nasceu, assim, o projeto Germinar, que conta atualmente com quatro pessoas diretamente envolvidas no seu crescimento diário, duas das quais apresentam graves dificuldades cognitivas.
Desmistificando e inovando, este projeto é realmente transformador e o seu grande objetivo passa por ganhar e ajudar a ganhar. Visando que pelo menos 5% do lucro da Quinta de Soalheiro se destine a esta iniciativa, a propriedade decidiu ir mais além e começou a trabalhar em prol de um projeto autossustentável. Com isto em mente, alugaram por 25 anos um antigo apeadeiro de uma estação de comboios, de forma a transformá-lo numa loja que ajudará na subsistência do projeto.
Resultado desta iniciativa é o vinho Germinar Soalheiro, um retrato da inovação e da empatia. Um verdadeiro representante da região do Minho e feito exclusivamente a partir de Vinhas Velhas de Loureiro, o processo de produção deste vinho é a representação de tudo aquilo que ele significa.
Luís Cerdeira, enólogo da Quinta de Soalheiro, explica que a vinificação foi feita de forma inteiramente manual. “Já a fermentação decorreu numa cuba de inox e em dois depósitos em forma de ovo, um de inox e outro de cimento. A utilização dos ovos não foi pensada ao acaso já que, devido ao seu impacto nas borras, conferiu uma grande profundidade ao vinho através de uma acidez angulosa”, comenta Luís.
Demonstrando o claro propósito de valorizar todas as potencialidades da Loureiro — uma casta que afirmam ser muito estreita, de PH baixo, com pouco corpo, mas muito elegante — a Quinta de Soalheiro optou pela produção a partir de Vinhas Velhas porque, como têm menos quantidade de uvas por hectare, produzem uvas mais concentradas e menos frutadas.
Foi graças a uma vasta experiência com Loureiro, casta com a qual a propriedade trabalha desde 2007, que o vinho Germinar ganhou uma dimensão um pouco diferente, sendo capaz de transformar muitas ideias preconcebidas acerca desta casta.
“É um vinho um pouco mais largo na boca, com muita verticalidade, ácido, seco, sem nunca perder a essência e elegância que tanto caracterizam a casta”, diz Luís Cerdeira.
Apesar de não ter sido feito para ser consensual, mas sim para casar com uma determinada gastronomia — como as ostras que provamos no evento —, o Germinar Soalheiro chamou de imediato a nossa atenção com sua excelente acidez e o toque floral.
Alvarinho Soalheiro Granit 2020
Na seleção de vinhos da Quinta de Soalheiro, não podia faltar um Alvarinho. O que provamos no evento foi o Alvarinho Soalheiro Granit 2020 que nos revelou o lado mais mineral desta casta.
Produzido a partir de vinhas de Alvarinho com 20 anos, plantadas acima dos 300 metros de altitude, este vinho da sub-região de Monção e Melgaço passou por uma fermentação em cubas de inox a uma temperatura mais elevada que o habitual, de maneira a trabalhar de forma precisa os seus aromas.
Apresentando-se como um vinho mais vertical, o Soalheiro Granit revela bastante salinidade, consequência de um solo pouco profundo na zona da encosta, o que leva a que as raízes das vinhas fiquem em contato direto com as rochas, o que confere uma concentração de sais minerais mais elevada à uva.
Assim, temos um vinho com poucos propulsores aromáticos devido à baixa fertilidade dos solos, mas que se distingue por limpar a boca, ser elegante e persistente e ainda se ligar muito bem com a gastronomia.
Soalheiro Clássico 2020
Na prova que realizamos, o vinho do meio foi o Soalheiro Clássico, seleção que não foi ao acaso.
De acordo com Luís Cerdeira, qualquer vinho que esta propriedade faz tem de ser comparado com esta produção, considerada o barômetro da marca.
Reconhecido como a expressão aromática do território em que esta Quinta se insere e demonstrando o grande potencial da região, a expressividade e horizontalidade dos aromas do Clássico derivam dos compostos que estão no vale do Rio Minho.
Com grande intensidade aromática, muito fresco e cítrico, este vinho é muito redondo e possui um açúcar residual de 3 a 4 gramas.