No último final de semana de maio estivemos em Vila Nova de Foz Côa para o 9º Festival do Vinho do Douro Superior. De sexta a domingo, visitamos três adegas, avaliamos 34 vinhos cada um e provamos mais algumas dezenas na feira. O melhor de tudo? Encontramos os amigos que não víamos há muito tempo (a 8ª edição do concurso foi em 2019) e ouvimos histórias de cada um dos vinhos que amamos.
Acompanhe aqui a nossa cobertura completa do evento — do concurso e feira de vinhos do Douro até a nossa visita aos produtores. Ao final, a lista dos grandes vinhos portugueses que ganharam o Concurso de Vinhos do Douro Superior 2022.
O concurso e a feira de vinhos
Logo que chegamos à Foz Côa, no fim de tarde da sexta-feira, já demos uma passada rápida pela feira de vinhos, no Centro de Exposições de Vila Nova de Foz Côa —EXPOCÔA. Neste ano, a feira reuniu 90 expositores, a grande maioria produtores de vinhos, mas também alguns de comidas regionais, como amêndoas, doces e enchidos. Nos três dias do evento, o público chegou às 6 mil pessoas.
No sábado pela manhã, eu e Emanuel fomos jurados do Concurso de Vinhos do Douro Superior, promovido pela revista Grandes Escolhas. Cerca de 50 avaliadores — entre jornalistas, bloggers especializados e representantes de restaurantes e garrafeiras — provaram às cegas os 180 vinhos que estavam no concurso, entre vinhos brancos, vinhos tintos e vinhos do Porto. Cada mesa de jurados provou 34 vinhos, dando uma pontuação para cada amostra.
Gostamos muito de fazer prova às cegas, porque inevitavelmente temos grandes surpresas quando, dias depois, a organização nos envia a planilha com a pontuação que demos para cada vinho. Se você nunca participou de uma prova às cegas, experimente reunir os amigos e promover uma. Além de divertido, é um excelente aprendizado para quem quer aprender mais sobre o mundo dos vinhos.
No sábado à tarde, pudemos aproveitar um pouco da feira de vinhos, revendo velhos conhecidos e descobrindo grandes novidades. Alguns destaques entre os muitos vinhos bons que provamos:
- O novo rosé Bons Ares, da Ramos Pinto, que está chegando agora ao mercado;
- O Quinta Daniel branco, da H. Abrantes;
- Os vinhos Zip branco e tinto, novidade da Quinta Vale d’Aldeia;
- As novas colheitas do Iter, projeto da enóloga Filipa Pizarro;
- O novo Zom rosé, da Barão de Villar, produção da enóloga Raquel Santos;
- A linha completa da Ávidos Douro, disponível no VivaoVinho.Shop;
- Os excelentes vinhos da Vineadouro, produtor que descobrimos nesta edição da feira;
- Os vinhos Permitido e Proibido, de Márcio Lopes;
- e muito mais!
Veja na galeria de fotos abaixo os nossos destaques do 9º Festival do Vinho do Douro Superior.
Jantar com javali e vinhos na adega da Família Polido
Nosso primeiro jantar do final de semana do Douro foi em meio às cubas de inox da adega da Família Polido, produtores dos vinhos Móos. Fomos muito bem recebidos pelas três gerações da família, com um jantar que trouxe pratos típicos da região do alto Douro. Além dos enchidos, tábuas de queijos e doces diversos, tivemos um javali caçado pelo patriarca e preparado pela sua esposa — refeição mais familiar impossível.
O jantar foi harmonizado, claro, com toda a linha de vinhos Móos. Com o lema “vindimado a mão pela família” e enologia de Luís Leocádio, os vinhos nos surpreenderam. O vinho branco de entrada é leve, muito fresco, com boa acidez, e ficou perfeito com os queijos. O vinho rosé chamou a nossa atenção, por ser um vinho bastante gastronômico, sem perder o perfil aromático. Se beber de olhos fechados, não vai saber se é um branco com barrica ou um tinto leve.
Já o Grande Reserva branco, com passagem por madeira, é um vinho muito mais complexo, que segurou bem a carne de javali. O final do javali foi acompanhado pelo Grande Reserva tinto — um vinho para beber de joelhos, como costuma dizer o Emanuel. Extremamente bem feito, com muito equilíbrio entre a madeira e a fruta, entrega notas de condimentos, baunilha e compota de frutas negras. Excelente trabalho da família Polido.
Gerações de Xisto: a fusão de duas famílias do Douro
Frederico Lobão e Paulo Grandão são amigos de longa data, que em 2010 iniciaram um projeto para levar adiante o que as suas famílias produziam de melhor no Douro Superior: vinhos e azeites. Daí surgiu as Gerações de Xisto, que tem o trabalho de enologia sob responsabilidade de Rui Carrelo.
Com 40 hectares de vinhas, as castas Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Roriz, Rabigato e Arinto crescem em parcelas diferentes, com tipos de solos e exposições solares diversas. Segundo Rui, seu trabalho como enólogo é respeitar a matéria-prima e tratá-la bem, resultando no que de melhor o terreno pode dar.
O projeto conta hoje com quatro vinhos: Gerações de Xisto branco e tinto, e Vinhas Dona Amélia branco e tinto. Aliás, o Vinhas Dona Amélia branco, com passagem por madeira, está sendo agora lançado ao mercado e já ganhou medalha de prata no Concurso de Vinhos do Douro.
Quinta da Ervamoira: um ícone do Douro Superior
Assim que o nosso ônibus (ou autocarro, como se diz em Portugal) entrou na Quinta da Ervamoira, no final da tarde de sábado, já sabíamos que estávamos em um lugar muito especial. As vinhas todas alinhadas, a perderem-se de vista e por todos os lados, compunham uma paisagem de perder o fôlego. À porta da casa, nos esperavam Jorge e Sónia Rosas, da casa Ramos Pinto, que nos receberam com muita simpatia e hospitalidade.
Jorge contou que a quinta era um sonho de seu pai, José António Ramos Pinto Rosas, um homem profundamente ligado ao Douro. “Durante toda a minha infância vi-me cercado por mapas militares, onde se viam as curvas de nível, porque ele tinha o sonho de encontrar a quinta perfeita — um lugar plano no Douro Superior, algo praticamente inexistente. Estudava os mapas de segunda a quinta, na sexta passávamos três horas e meia na estrada para vermos os locais que ele tinha encontrado no mapa. E andamos nisso durante anos!”, conta Jorge.
No início dos anos 1970, José António finalmente encontra a quinta perfeita. Contata a família proprietária, que no entanto não quis vendê-la. Quando, com a revolução de 25 de abril de 1974, várias propriedades começaram a ser expropriadas, ele faz nova oferta à família e finalmente a Ramos Pinto compra a quinta — praticamente um deserto na época. Hoje a propriedade tem cerca de 150 hectares e é considerada um museu a céu aberto, pelas modernas técnicas de vitivinicultura empregadas ali por José António e o sobrinho João Nicolau de Almeida, que atraem visitantes do mundo inteiro.
O risco de ficar debaixo d’água
No início dos anos 1990, o governo português anuncia a construção da barragem de Foz Côa, que deixaria a Quinta da Ervamoira totalmente debaixo d’água. Começaram a construção da barragem e a família fez de tudo para parar o processo: enviou vinhos para concursos no mundo todo, ganhando inúmeras medalhas para comprovar a qualidade dos seus produtos; trabalhou junto com arqueólogos e descobriu até mesmo um túmulo romano, além de outros objetos com cerca de 2 mil anos — mas nada demovia o governo da construção da barragem.
Até que descobriram as centenas, milhares de gravuras rupestres com idade de até 30 mil anos — as agora famosas gravuras do Côa. Foram elas que pararam a construção da barragem e salvaram a Quinta da Ervamoira da inundação. Também por conta dessas gravuras todo o Vale do Côa foi classificado pela UNESCO como patrimônio da humanidade.
Toda essa história está contada no museu que existe hoje dentro da quinta, e que percorremos junto com o Jorge, enquanto ouvíamos todas as suas lembranças. Além de fotos e mapas, o museu apresenta várias descobertas arqueológicas — incluindo o túmulo romano e os objetos encontrados pelo pai de Jorge.
Momento de provar os vinhos da Ramos Pinto
Depois de conhecermos todo esse percurso histórico, chegou o momento de provarmos os vinhos da Ramos Pinto, durante o jantar no terraço com vista para a quinta. Simplesmente sensacional, ainda mais por ser o momento do pôr do sol.
Acompanhando o cabrito do jantar, pudemos provar o tinto Quinta de Ervamoira, lançamento da Ramos Pinto produzido exclusivamente com uvas desta quinta, além de diversos outros vinhos da família RP (de Ramos Pinto), um porto branco, um 10 anos e um 20 anos, e os excelentes Duas Quintas branco e tinto.
Essa foi uma experiência daquelas que guardaremos para sempre!
Museu e Palato do Côa: um pouco mais de história e vinhos
No domingo pela manhã, fomos visitar o Museu do Côa, criado para mostrar ao mundo a riqueza arqueológica da região. Fomos recebidos por Aida Carvalho, presidente da entidade que gere o Museu e o Parque Arqueológico do Côa. Aida fez conosco uma visita guiada por todo o museu, contando detalhes muito interessantes sobre as gravuras e a própria vida dos primeiros habitantes do Vale do Côa.
A partir do museu, seguimos para um almoço na Quinta da Saudade, onde são produzidos os vinhos Palato do Côa. Adquirida em 2008 pelo enólogo Carlos Magalhães e cinco amigos que tinham paixões em comum — o vinho, as vinhas e o Douro — a quinta fica em Muxagata (concelho de Vila Nova de Foz Côa) e é considerada um dos melhores terroirs do Douro Superior.
Atualmente a quinta tem 17 hectares de vinhas, sendo 7 hectares de vinhas velhas, com mais de 50 anos, e produz entre 100 e 120 mil garrafas anuais, apenas com uvas próprias. Os solos são calcáreos, o que dá mais acidez aos vinhos. “É esse solo que torna nossos vinhos diferentes. Temos vinhos com oito ou dez anos que estão frescos ainda”, diz Carlos Magalhães.
Depois de uma caminhada entre as videiras, almoçamos na adega, junto às cubas de inox. O prato principal foi um arroz de forno delicioso, acompanhado da linha completa de vinhos Palato do Côa. Pudemos experimentar em primeira mão os vinhos Vinha da Migalha branco e tinto, provenientes de videiras com mais de 50 anos, de castas variadas, que produzem somente dois a três cachos cada uma — ou seja, migalhas! Também nos chamou a atenção o Grande Reserva Tinto, um vinho untuoso, elegante, que enche a boca, e tem grande equilíbrio entre frutas e especiarias.
Realmente foi um final de semana memorável e só temos a agradecer à revista Grandes Escolhas, que nos permite participar como jurados de suas avaliações e nos proporciona momentos incríveis como estes. E que venham muitos mais!
Conheça agora todos os vinhos do Douro premiados no Concurso de vinhos do Douro Superior
Prémio Melhores Vinhos
- Quinta da Extrema Edição II (Colinas do Douro Sociedade Agrícola)
- Quinta do Vesúvio 2019 (Symington Family Estates, Vinhos)
- Burmester Tawny 20 anos (Sogevinus Fine Wines
VINHOS BRANCOS
Medalhas de Ouro
Cadão PM Vinhas Velhas 2019 (Mateus & Sequeira Vinhos)
Crasto Superior 2020 (Quinta do Crasto)
Duvalley Grande Reserva 2014 (Quinta Picos do Couto)
Palato do Côa Reserva 2020 (5 Bagos)
Quinta da Sequeira Grande Reserva 2020 (Quinta da Sequeira)
Soulmate Curtimenta Grande Reserva 2020 (Cortes do Tua Wines)
VINHOS TINTOS
Medalhas de Ouro
Anónimo 2015 (Ávidos Douro)
Quinta da Leda 2018 (Sogrape Vinhos)
Castello D’Alba Superior 2020 (Rui Roboredo Madeira, Vinhos)
Crasto Superior 2018 (Quinta do Crasto)
Dona Emerenciana Grande Reserva Sousão 2018 (Adão e Filhos)
Duorum Reserva 2018 (Duorum Vinhos)
Estrela do Peredo 2019 (Pedro Bustorff Ferreira)
Insuspeito Grande Reserva 2018 (Vinilourenço)
Quinta da Touriga Chã 2019 (Jorge Rosas)
Burmester Quinta do Arnozelo Grande Reserva 2017 (Sogevinus Fine Wines)
Quinta Vale D’Aldeia Grande Reserva 2019 (Quinta Vale D’Aldeia)
Soulmate Grande Reserva 2019 (Cortes do Tua Wines)
Valle do Nídeo Superior tinto 2015 (Miguel Abrantes Vinhos)
ZOM Colecção 2016 (Barão de Vilar Vinhos)
VINHOS DO PORTO
Medalhas de Ouro
Amável Costa White 20 Anos (Agostinho Amável Costa)
Quinta de Ervamoira Vintage 2017 (Adriano Ramos Pinto Vinhos)
Quinta do Grifo Vintage 2019 (Rozès)
Cockburn’s Quinta dos Canais Vintage 2010 (Symington Family Estates)
Medalhas de Prata
Apaixonado Reserva 2020 (Ávidos Douro)
Bairro do Casal Reserva 2021 (José António Porfírio Ferronha)
CARM Gouveio 2019 (CARM)
Fraga Alta Reserva 2015 (Maria Lucinda Todo Bom Damião Cardoso)
Mapa Vinha dos Pais 2017 (Pedro Mário Batista Garcias)
Moinhos do Côa 2020 (Artur Adriano Proença Rodrigues)
Muxagat 2021 (Muxagat Vinhos)
Quinta da Silveira Colheita 2019 (Sociedade Agrícola Vale da Vilariça)
Quinta dos Castelares Reserva 2020 (Casa Agrícola Manuel Joaquim Caldeira)
Rebelo Afonso Reserva 2019 (Casa Rebelo Afonso)
Usufrui Lote 2 2020 (Recantos do Vinho)
Vale Marianes 2019 (Rui Saraiva Caldeira)
Vales Dona Amélia 2021 (Gerações de Xisto)
Vineadouro Rabigato 2020 (Vineadouro Boutique Wines)
Medalhas de Prata
Quinta de Ervamoira 2019 (Adriano Ramos Pinto Vinhos)
Quinta do Couquinho Reserva Touriga Nacional 2019 (Quinta do Couquinho – Sociedade Agrícola)
Móos – Vinha Sambado Grande Reserva 2019 (Família Polido)
Salgados Douro Reserva 2019 (Mário José Pinto Salgado e Maria de Lurdes Pinto Maximino Salgado)
Pai Horácio Grande Reserva 2018 (Vinilourenço)
Remisi´us Grande Reserva 2019 (Valley Co)
Quinta da Pedra Escrita Reserva 2017 (Rui Roboredo Madeira, Vinhos)
Golpe Reserva 2019 (Manuel Carvalho Martins)
Vale da Veiga Reserva tinto 2016 (Vale da Veiga)
Quinta da Sequeira Grande Reserva 2017 (Quinta da Sequeira)
Dona Berta Tinto Cão Reserva 2018 (H. & F. Verdelho – Vinhos Dona Berta)
Quinta do Ataíde Vinha do Arco 2016 (Symington Family Estates, Vinhos)
Rebelo Afonso Grande Reserva 2015 (Casa Rebelo Afonso)
Selores Premium 2017 (Viniselores)
Palato do Côa Reserva 2018 (5 Bagos)
Xaino Selection 2019 (Quinta Vale D’Aldeia)
Villarôco Grande Reserva 2018 (José Carlos Pereira Côrte Real)
Duvalley Grande Reserva 2015 (Quinta Picos do Couto)
Quinta da Silveira Reserva 2015 (Sociedade Agrícola Vale da Vilariça)
Quinta Morena Colheita 2017 (Quinta Morena, Sociedade Agrícola)
Quinta dos Romanos 2017 (Maria Lucinda Todo Bom Damião Cardoso)
Quinta das Mós Grande Reserva 2019 (Mikael Monteiro Cabral)
Gerações de Xisto 2019 (Gerações de Xisto)
Medalhas de Prata
Burmester Quinta do Arnozelo Vintage 2019 (Sogevinus Fine Wines)
Quinta da Silveira Ruby Reserva (Sociedade Agrícola Vale da Vilariça)
Amável Costa Vintage 2017 (Agostinho Amável Costa)
Vale da Teja Ruby Reserva (Adega Cooperativa do Vale da Teja)
Maynard’s Organic Wine LBV 2017 (Barão de Vilar Vinhos)