Enólogo na fantástica região dos Vinhos Verdes, António Sampaio sempre esteve em contato com o mundo dos vinhos. Sua família produz vinho verde desde 1992, em Amarante. É nesse local que António explora as características únicas de algumas castas para produzir os vinhos da A.J.T.S. — seu projeto familiar.
António estudou Engenharia Química e trabalhou durante alguns anos em investigação no ISEP (Instituto Superior de Engenharia do Porto). Foi nessa mesma faculdade que, mais tarde, decidiu explorar o mundo dos vinhos e se inscreveu na pós-graduação de agronomia.
Atualmente, está encarregado de engarrafar os típicos vinhos verdes que ele descreve como frescos e leves.
Vamos conhecer um pouco mais sobre o percurso do António? Acompanhe a nossa entrevista.
Há quanto tempo está nesse ramo?
Estou a trabalhar como enólogo desde 2012. Inicialmente, decidi ingressar no curso de Engenharia Química, no ISEP (Instituto de Engenharia do Porto), em 2001. Fiz a licenciatura e o mestrado e, quando terminei, comecei a trabalhar em investigação nessa mesma faculdade. Mais tarde decidi tirar uma pós-graduação em enologia, uma vez que a minha família produz vinho desde 1992. Fiz, ainda, um estágio de vindima no Douro, na Quinta do Sol, que pertence à Symington. Depois de terminar os estudos, vim trabalhar na empresa que estou até hoje. Fiz também algumas cadeiras de agronomia para estudar um pouco mais sobre o trabalho de vinha. Uma vez que o vinho se faz na vinha, decidi aprender algumas coisas sobre viticultura. Sem boas uvas, não há bons vinhos. Essa é a verdade.
E onde ficam as suas vinhas?
Parte das nossas vinhas ficam na Quinta da Ribeira, na aldeia de Gatão, em Amarante. É lá que produzimos todos os nossos vinhos verdes. Desde verdes brancos, verdes tintos e espadeiro ou rosado, tudo é produzido aqui. Este é o local onde nasci e vivi grande parte da minha vida. Apenas estive dez anos no Porto, mas com o passar do tempo decidi regressar às minhas raízes.
Quais as características do vinho verde?
O vinho verde distingue-se dos outros, normalmente, devido à sua frescura. É um vinho bastante fresco e geralmente mais leve. Porém, ultimamente, têm surgido alguns projetos em que se tenta fazer vinhos verdes com um perfil diferente do habitual. Têm aparecido alguns vinhos com mais estrutura, que aguentam mais anos. Tradicionalmente, a ideia que as pessoas tinham do vinho verde é que este é o tipo de vinho feito para durar menos tempo e para ser consumido mais rapidamente. Agora, começa-se a apostar mais em fazer vinhos que aguentem mais anos e que já fazem estágios em barrica, com objetivo de atingir outros patamares. No fim, pretende-se fazer vinhos com mais qualidade e acrescentar outras características para além da frescura.
Existe alguma casta que você gosta mais de trabalhar?
A casta que eu mais trabalho e que me dá mais prazer é, sem dúvida, a casta Vinhão. É uma casta de tinto e inicialmente era uma casta autóctone da região dos Vinhos Verdes. Porém, mais tarde, foi transferida para o Douro com o objetivo de proporcionar mais corpo aos vinhos. Aliás, o Vinhão é conhecido como o Sousão no Douro. Acho que é uma casta que tem muito potencial, só que aqui nos Vinhos Verdes ainda não é tão explorada. Ainda não existem muitos vinhos de qualidade feitos com ela. Nós, aqui na empresa, estamos agora com um projeto que deverá ser lançado nos próximos anos. É um vinho feito com essa mesma casta e apresenta uma boa estrutura, além disso tem muita cor e é bastante concentrado.
Para você, qual é o papel do enólogo na produção de um vinho?
Acima de tudo, o papel do enólogo é não estragar as uvas. Se não estragarmos as uvas e conseguirmos exprimir todas as suas qualidades, é meio caminho andado para produzir um grande vinho. Isso é, sem dúvida, o mais importante.
Qual a decisão mais importante no processo de produção de um vinho?
Há muitas decisões… As decisões começam logo na poda e, provavelmente, só acabam no momento de engarrafar. Mas, pensando bem, talvez a data da vindima seja uma das decisões mais importantes. É o principal fator que influencia o estilo de vinho que pretendemos fazer.
E qual é o seu estilo de vinho?
Neste momento, assumo uma preferência por vinhos mais elegantes. Mas, na verdade, já passei por algumas fases. Desde gostar de bombas aromáticas, vinhos super estruturados… Agora, prefiro algo que apresente uma certa elegância. Mas, quem sabe, daqui a uns tempos isso possa mudar. Nós estamos sempre a provar coisas diferentes, em momentos diferentes, o que acaba por influenciar muito a nossa escolha.
Tem alguma história curiosa sobre algum vinho que você já produziu?
Tenho uma história, mas é do meu pai. É sobre o nosso melhor vinho que é o Vinha do Menino. Esse vinho foi feito com uma vinha que o meu pai acarinhou desde sempre e, nas primeiras vindimas que fizemos, o vinho estava tão bom que o meu pai disse logo que aquele vinho era o menino dele. Eu e o meu irmão até brincamos com a situação e dizemos que ele até gosta mais daquela vinha e do vinho, do que de nós que somos os filhos dele.
Quais são as marcas de vinhos que vocês têm?
Temos o A.J.T.S Branco, o A.J.T.S Tinto, o A.J.T.S Espadeiro e o A.J.T.S Vinha do Menino — o tinto da nossa gama superior — e vamos lançar agora o A.J.T.S Gentilis, também branco e tinto. Tudo vinho verde.
Qual é o vosso volume de produção atualmente?
Produzimos há volta de 150 mil garrafas. A maior parte é vendido regionalmente.
Se você tivesse de produzir vinhos fora de Portugal, qual a região que você escolheria?
Isso é uma pergunta difícil… Eu nunca saí da minha zona de conforto. Cresci e sempre trabalhei nesta região. Contudo, se tivesse mesmo de escolher, talvez escolheria França. Mais especificamente a zona da Borgonha.
Qual a sua maior fonte de inspiração?
Diria que é definitivamente a quinta onde estamos. É um local com uma vista fabulosa e que transmite uma paz de espírito incrível. Temos uma vista privilegiada sobre o rio Tâmega e é mesmo muito sossegado. O silêncio é bastante tranquilizador. Vivi no Porto durante algum tempo e tínhamos sempre muito barulho e confusão por todo lado. Aqui, é completamente o oposto. É muito bom mesmo.
Qual a sua sugestão para os novos profissionais de enologia?
Quem vier para este ramo tem de gostar mesmo do que faz e ser mesmo apaixonado por isto. É um trabalho que é muito exigente, mas com paixão conseguimos fazer coisas fantásticas e, quem sabe, daqui a uns anos podemos estar a degustar um vinho completamente diferente porque alguém se empenhou em fazer algo muito bom.
E quais são as novidades para esse ano?
Este ano, esperamos lançar o A.J.T.S Gentilis Branco e Tinto. Provavelmente, sairá também um A.J.T.S Vinha do Menino em barrica. Ambos os vinhos serão mesmo uma novidade da nossa empresa, pois será a primeira vez que apresentamos vinhos estagiados em madeira. O Gentilis Tinto terá, ainda, outra surpresa… Em principio, será uma mistura de Vinhão com uma casta branca.
LEIA OUTRAS ENTREVISTAS COM ENÓLOGOS:
- Ricardo Pinto Nunes
- André Palma
- Gilberto Marques
- João Cabral Almeida
- Élio Barreiros
- Patrícia Carvalho
- Patrícia Santos
- Hugo Mendes
- Bruno Seabra
- Pedro Ribeiro
- António Maçanita
- Jorge Rosa Santos
- Rui Carrelo
Se você é enólogo e quer participar desta seção, escreva para a gente em contato@vivaovinho.pt. Teremos o maior prazer em contar sua história!