Conversa com o Enólogo: Bruno Seabra

Natural de Angola, Bruno Seabra conta-nos um pouco da sua aventura pela enologia. Descreve-se como sendo um homem dos Espumantes e essa é a sua verdadeira paixão, não fosse ele enólogo das Caves da Montanha.

Inicialmente queria tornar-se enfermeiro, mas acabou por se formar em Engenharia de Ciências Agrárias na Escola Superior Agrária de Castelo Branco. A enologia acabou por encantá-lo e tornou-se na sua profissão.

O seu percurso na enologia começou há 21 anos atrás e trabalhou na Companhia das Quintas, atualmente dedica-se ao que mais lhe dá prazer – os espumantes – e é Diretor de Produção e Enólogo nas Caves da Montanha. Recentemente foram motivo de orgulho e receberam o Grande Prémio da categoria Espumantes do concurso ‘Escolha da Imprensa 2019’ da revista Grandes Escolhas Vinhos & Sabores. O espumante premiado foi o Montanha Grand Cuvée Bairrada Baga & Chardonnay branco 2010.

Por que escolheu a Enologia?

Escolhi a enologia por acaso… Queria ser enfermeiro, mas passado um tempo fiquei apaixonado pela área. Neste momento vivo para a enologia, o criar e pensar o vinho de uma região única, é aquilo que mais me dá prazer.

Existe alguma casta que você gosta mais de trabalhar?

A Baga é a que eu mais gosto de trabalhar, pois é uma casta versátil e bastante criativa.

Durante o processo de elaboração de um vinho, qual a decisão mais difícil a ser tomada?

As decisões difíceis começam na vinha: o que fazer e como fazer. Depois, avaliar as características da adega e criar o protocolo para vinificar. Estas são as decisões mais difíceis e que pode definir o futuro de um vinho.

Qual o seu estilo de vinho?

Espumantes, sem dúvida.

Para você, o que é mais importante observar em um vinho?

Aquilo que temos de perceber num vinho é para quem ele é direcionado… e a partir daí criá-lo para esse fim.

Neste momento vivo para a enologia, o criar e pensar o vinho de uma região única, é aquilo que mais me dá prazer.

Qual a sua sugestão de harmonização mais curiosa?

Como sou um homem de espumantes e não é muito hábito de utilizar espumantes a harmonizar refeições do principio ao fim. Acho que aqui o que eu posso sugerir é iniciar como aperitivo ou entrada espumantes mais novos e aromáticos e levar até à sobremesa com espumantes mais complexos e com estágios longos. Durante o prato principal, ter um perfil de espumantes com boa acidez, elegantes e firmes.

Se você tivesse que produzir os seus vinhos fora de Portugal, que região escolheria?

Itália. Mais concretamente duas regiões, Franciacorta e Prosecco, pelas diferenças de métodos. Acho que são regiões que têm alcançado o mundo nos espumantes. Um dos maiores produtores e onde se consegue uma diversidade e criatividade fora do comum.

Dos vinhos que você já produziu, qual o que ficou na memória, o mais marcante?

Foi um vinho branco das castas Baga e Chardonnay para homenagear os dois avós do administrador. Onde a Baga fermentou em inox e o Chardonnay em barrica. Um vinho com um perfil excelente… Um grande vinho da Bairrada.

Outro foi um espumante Chardonnay/Baga de 2010 que a conjugação de uma casta francesa e uma casta tinta, típica da região, fizeram dele um espumante de alto nível. Uma boa representação de um espumante Bairrada.

Qual a sua sugestão aos novos profissionais da Enologia?

Trabalho em enologia há 21 anos e o que quero agora é fazer vinho para um cliente exigente e a um preço acessível.

Temos de olhar a enologia como um todo, de forma a poder valorizar a casa e fazer produtos que movam massas e que procure consensos. A enologia não é só ter as melhores condições e o resto faz-se… A enologia mais do que ter tudo, é ser capaz nas adversidades e nos diferentes meios disponíveis numa adega e poder criar algo que possa surpreender. Temos de ter sentido crítico e, muito importante, sermos humildes… A vida de um enólogo é surpreendente mas nunca podemos pensar que somos mais que a empresa que representamos. É mais importante valorizar a marca que propriamente o enólogo.