Quem vem nos acompanhando já sabe: no próximo final de semana, de 9 a 11 de dezembro, teremos o último evento do ano da Confraria Viva o Vinho, com o tema Portugal e Brasil: A Nossa História. Para nós, esse é um tema mais do que especial, porque conta as nossas origens portuguesas, ao mesmo tempo em que trata da relação desses dois países com o vinho.
No meu primeiro post sobre o tema, falei sobre a chegada das primeiras videiras ao Brasil, e também sobre nossos pais e avó imigrantes. Agora, vamos direto aos anos 1980, quando a indústria do vinho começa a passar por uma grande transformação.
Nesse período, tanto Portugal quanto Brasil sofreram uma forte mudança no cenário da vitivinicultura. Chega a ser muito interessante a coincidência das datas.
Portugal estava se preparando para aderir à CEE (Comunidade Econômica Europeia), que impunha novos padrões de qualidade, e foi necessário adotar um conjunto de medidas de pré-adesão para cumprir totalmente as regras da política agrícola europeia.
Entre as mudanças, foram definidas diversas DOCs – Denominações de Origem Controlada – e realizada a classificação qualitativa dos vinhos por meio das categorias V.Q.P.R.D., Vinho Regional e Vinho de Mesa.
Foram também criadas Comissões Vitivinícolas Regionais responsáveis pela aplicação e regulação das normas aplicadas ao setor vinícola. A Junta Nacional do Vinho foi substituída pelo atual Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), organismo que reúne as exigências da política de mercado europeia.
Tudo isso deu um impulso para a modernização da indústria de vinhos portuguesa e fez surgir produtos que hoje são referência de mercado. Vamos lembrar que a Herdade do Esporão começou sua produção nessa época.
Já o Brasil vivia uma realidade diferente.
Durante a década de 1980 grandes cooperativas centralizavam a produção de vinhos. Porém, em 1989 a Aurora, uma das maiores, enfrentou uma grave crise financeira e precisou reduzir ou até mesmo interromper a compra de uvas de vários produtores.
Esse cenário acabou gerando uma situação que beneficiaria todo o mercado, pois fez com que diversas famílias fornecedoras da Aurora fundassem suas próprias vinícolas. Nomes hoje bastante conhecidos, como Pizzato, Carraro, Miolo, Angheben, entre outros, uniram-se a empresas já tradicionais –como a Perini, que iniciou sua produção em 1928 – e passaram a desenvolver novos e diversificados produtos.
Mas não paramos por aí. Em 1990 começa o período de abertura econômica no Brasil e acontece uma verdadeira invasão de vinhos estrangeiros nas lojas e supermercados. De uma hora para outra, passamos a ter diversidade e vinhos organizados por países e tipos. Como comentei no post anterior, é nesse momento que entram em cena os vinhos alemães de garrafa azul, argentinos, chilenos e portugueses. Foi mais um grande impacto na nossa indústria.
A grande diferença era tecnológica. O Brasil estava muito atrasado na época, desde o plantio até a forma de realizar a fermentação dos vinhos. Não tínhamos, por exemplo, plantações com a técnica da espaldeira ou tanques de controle de temperatura. Foram necessários anos para que os vinhedos fossem replantados e novas máquinas e equipamentos incorporados.
Depois de muito trabalho duro e evolução, hoje podemos ver o resultado: vinhos de extraordinária qualidade produzidos em todos os cantos do país.
E nós nessa bagunça?
Nessa época eu aproveitava para experimentar tudo o que aparecesse. Eu já tinha paixão por bons vinhos, particularmente Cabernets Sauvignons e Malbecs, e comemorei meus 25 anos com queijo e vinho, algo que se tornaria uma tradição.
Cerca de cinco anos depois me reuni com um grupo de amigos no corredor do Pão de Açúcar próximo de casa para fundar o que se tornaria a primeira Confraria de Vinhos do Pão de Açúcar.
Na época era uma ideia meio maluca, pois estamos falando de clientes de um supermercado que gostavam de conversar a respeito de vinhos, mas ela recebeu o apoio do sommelier da loja, Carlos Eduardo (hoje diretor de vinhos na rede Angeloni), que organizou o primeiro evento. Algum tempo depois, o então diretor de vinhos Carlos Cabral determinou a criação de confrarias em todas as lojas da rede. Foi um grande momento.
Começamos a receber visitas de produtores e importadores. Foi numa dessas ocasiões, por exemplo, que a Morandé apresentou em primeira mão toda a sua recém chegada linha ao Brasil.
Já a Renata estava na fase de beber vinho aos domingos nos almoços de família. Não era muito preocupada com as uvas ou detalhes “técnicos”, mas naturalmente diferenciava o que era bom.
Eu segui em frente. Fiz um curso de sommelier na Baco’s e procurava me aprofundar mais, apesar de sempre fugir dos rótulos de “enochato” ou “enobobo”. Sempre me preocupei em ser simples ao falar de vinhos.
Minha maior companhia era meu pai. Era com ele que eu bebia os vinhos mais especiais, sempre quando ia à casa dele aos domingos.
Como bom português, ele era bairrista e para provocá-lo era comum eu levar um vinho argentino, só para ouvi-lo falar algum termo impublicável, sempre antes de provar, claro.
Tive vários momentos em que ficávamos sentados à mesa ao final do almoço bebendo o restante do vinho acompanhado de lascas de bacalhau frito no azeite.
Nasce o Viva o Vinho
Em 2013 me casei com a Renata e ela logo se interessou em entender mais sobre este meu hobby particular. Em muito pouco tempo ela já estava definindo seu próprio estilo de vinhos, mais elegantes e aromáticos, e procurando aprender muito.
Logo no primeiro ano comemoramos meu aniversário em uma degustação seguida de jantar promovida pela World Wine, a World Wine Experience, o que rendeu o post inaugural dela em nosso site – A primeira degustação a gente nunca esquece. Foi divertidíssimo. Eu me lembro que dei a ela uma taça e falei: “Experimenta esse“. Ela provou, arregalou os olhos e disse: “Hummm esse é bom!“. Dei risada e informei que era bom que tivesse gostado, pois estava com um vinho de R$ 800 na taça.
Nosso primeiro réveillon juntos foi em Santiago do Chile e nem preciso comentar que bebemos vinhos no almoço e no jantar todos os dias em que estivemos lá.
Paralelamente, estávamos juntando nossas competências para realizar projetos em comum. A Renata tem uma agência de comunicação e atua na geração de conteúdo e marketing digital e eu uma consultoria de TI e mais de 20 anos de Internet.
Dessa mistura de assuntos surgiu a ideia de termos uma plataforma de comunicação integrada, que juntasse um site de conteúdo com uma estratégia de redes sociais bem estabelecida. Ela seria o nosso cartão de visitas.
Foi nesse momento que percebemos que o assunto que mais nos unia era vinhos.
Assim nasceu o Viva o Vinho em 22 de junho de 2015, resultado de três meses de muito trabalho, que contou com o apoio do filho da Renata e sua namorada, Felipe e Debbie, publicitários responsáveis pelo blog de sucesso Pequenos Monstros. Tínhamos o site, a página no Facebook, perfil no Instagram, Twitter e Pinterest. Tudo trabalhando integrado.
Rapidamente o projeto evoluiu para termos um grupo de discussão no Facebook e, em dezembro de 2015, realizamos a primeira reunião de confraria virtual.
De lá pra cá, o Viva o Vinho ganhou vida própria e sua estrutura não parou mais de crescer.
Nosso debut como mídia em um evento foi em outro World Wine Experience. Nos sentimos reconhecidos e de lá fizemos também a nossa primeira transmissão ao vivo via Facebook. Foi incrível ver pessoas nos assistindo ao vivo, curtindo e interagindo por mensagens.
Passamos a frequentar a SBAV/SP, onde conhecemos pessoas incríveis, todos apaixonados por vinhos. Nas ótimas palestras praticamente semanais pudemos ir aprimorando nosso conhecimento e começamos a nos relacionar de maneira muito mais próxima com produtores, importadores, enólogos, sommeliers e outros experts desse meio.
Em junho deste ano, as degustações virtuais ganharam uma versão presencial em nossa casa, sempre com transmissões ao vivo, muita diversão e informação. São pessoas comuns, que conhecemos a partir do grupo Viva o Vinho, que querem dar sua opinião e contribuir com todos que desejam beber um bom vinho. Esses vídeos ficam disponíveis em nossa página no Facebook e, mais recentemente, no nosso canal no YouTube.
Em setembro, chegamos a ser capa da revista Wine.com.br, publicação direcionada aos assinantes do Clube W, com 230 mil exemplares. Um grande reconhecimento pelo nosso trabalho.
Hoje comemoramos o aniversário da primeira reunião da Confraria Viva o Vinho com o lançamento do VivaoVinho.Shop. O conceito dessa nova empreitada é divulgar boas opções de vinhos para pessoas que muitas vezes ficam em dúvida diante da grande variedade existente no mercado. Nosso slogan – A gente só vende o que experimenta – é a nossa garantia pessoal do que o visitante está comprando. Para comprovar esse conceito, associada ao vinho está uma foto realizada durante a degustação e a nossa avaliação escrita de maneira simples e direta.
Felicidade
Nada disso seria possível se não fossem nossos avós e pais que cruzaram o Atlântico e vieram para cá em busca de trabalho, oportunidades e felicidade.
O gosto pelo vinho veio junto e está em nosso DNA.
Por tudo isso, este mês vamos homenagear todos os portugueses e seus herdeiros brasileiros abrindo vinhos dos dois países e brindando juntos!