Quem vem nos acompanhando já sabe: no próximo final de semana, de 9 a 11 de dezembro, teremos o último evento do ano da Confraria Viva o Vinho, com o tema Portugal e Brasil: A Nossa História. Para nós, esse é um tema mais do que especial, porque conta as nossas origens portuguesas, ao mesmo tempo em que trata da relação desses dois países com o vinho.

No meu primeiro post sobre o tema, falei sobre a chegada das primeiras videiras ao Brasil, e também sobre nossos pais e avó imigrantes. Agora, vamos direto aos anos 1980, quando a indústria do vinho começa a passar por uma grande transformação.

Nesse período, tanto Portugal quanto Brasil sofreram uma forte mudança no cenário da vitivinicultura. Chega a ser muito interessante a coincidência das datas.

Portugal estava se preparando para aderir à CEE (Comunidade Econômica Europeia), que impunha novos padrões de qualidade, e foi necessário adotar um conjunto de medidas de pré-adesão para cumprir totalmente as regras da política agrícola europeia.

Entre as mudanças, foram definidas diversas DOCs – Denominações de Origem Controlada  – e realizada a classificação qualitativa dos vinhos por meio das categorias V.Q.P.R.D., Vinho Regional e Vinho de Mesa.

Foram também criadas Comissões Vitivinícolas Regionais responsáveis pela aplicação e regulação das normas aplicadas ao setor vinícola. A Junta Nacional do Vinho foi substituída pelo atual Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), organismo que reúne as exigências da política de mercado europeia.

Tudo isso deu um impulso para a modernização da indústria de vinhos portuguesa e fez surgir produtos que hoje são referência de mercado. Vamos lembrar que a Herdade do Esporão começou sua produção nessa época.

Pizzato - Enobrasil - Viva o Vinho

Vinhos da Pizzato no EnoBrasil 2016

Já o Brasil vivia uma realidade diferente.

Durante a década de 1980 grandes cooperativas centralizavam a produção de vinhos. Porém, em 1989 a Aurora, uma das maiores, enfrentou uma grave crise financeira e precisou reduzir ou até mesmo interromper a compra de uvas de vários produtores.

Esse cenário acabou gerando uma situação que beneficiaria todo o mercado, pois fez com que diversas famílias fornecedoras da Aurora fundassem suas próprias vinícolas. Nomes hoje bastante conhecidos, como Pizzato, Carraro, Miolo, Angheben, entre outros, uniram-se a empresas já tradicionais –como a Perini, que iniciou sua produção em 1928 – e passaram a desenvolver novos e diversificados produtos.

Lidio Carraro - Enobrasil - Viva o Vinho

Vinhos Lidio Carraro no EnoBrasil 2016

Mas não paramos por aí. Em 1990 começa o período de abertura econômica no Brasil e acontece uma verdadeira invasão de vinhos estrangeiros nas lojas e supermercados. De uma hora para outra, passamos a ter diversidade e vinhos organizados por países e tipos. Como comentei no post anterior, é nesse momento que entram em cena os vinhos alemães de garrafa azul, argentinos, chilenos e portugueses. Foi mais um grande impacto na nossa indústria.

A grande diferença era tecnológica. O Brasil estava muito atrasado na época, desde o plantio até a forma de realizar a fermentação dos vinhos. Não tínhamos, por exemplo, plantações com a técnica da espaldeira ou tanques de controle de temperatura. Foram necessários anos para que os vinhedos fossem replantados e novas máquinas e equipamentos incorporados.

Depois de muito trabalho duro e evolução, hoje podemos ver o resultado: vinhos de extraordinária qualidade produzidos em todos os cantos do país.

E nós nessa bagunça?

Nessa época eu aproveitava para experimentar tudo o que aparecesse. Eu já tinha paixão por bons vinhos, particularmente Cabernets Sauvignons e Malbecs, e comemorei meus 25 anos com queijo e vinho, algo que se tornaria uma tradição.

Cerca de cinco anos depois me reuni com um grupo de amigos no corredor do Pão de Açúcar próximo de casa para fundar o que se tornaria a primeira Confraria de Vinhos do Pão de Açúcar.

Confraria Pão de Açúcar - Emanuel - Viva o Vinho

Primeira Confraria Pão de Açúcar

Na época era uma ideia meio maluca, pois estamos falando de clientes de um supermercado que gostavam de conversar a respeito de vinhos, mas ela recebeu o apoio do sommelier da loja, Carlos Eduardo (hoje diretor de vinhos na rede Angeloni), que organizou o primeiro evento. Algum tempo depois, o então diretor de vinhos Carlos Cabral determinou a criação de confrarias em todas as lojas da rede. Foi um grande momento.

Começamos a receber visitas de produtores e importadores. Foi numa dessas ocasiões, por exemplo, que a Morandé apresentou em primeira mão toda a sua recém chegada linha ao Brasil.

Já a Renata estava na fase de beber vinho aos domingos nos almoços de família. Não era muito preocupada com as uvas ou detalhes “técnicos”, mas naturalmente diferenciava o que era bom.

Eu segui em frente. Fiz um curso de sommelier na Baco’s e procurava me aprofundar mais, apesar de sempre fugir dos rótulos de “enochato” ou “enobobo”. Sempre me preocupei em ser simples ao falar de vinhos.

Eu e meu pai Antonio, companhia para beber vinhos

Minha maior companhia era meu pai. Era com ele que eu bebia os vinhos mais especiais, sempre quando ia à casa dele aos domingos.

Como bom português, ele era bairrista e para provocá-lo era comum eu levar um vinho argentino, só para ouvi-lo falar algum termo impublicável, sempre antes de provar, claro.

Tive vários momentos em que ficávamos sentados à mesa ao final do almoço bebendo o restante do vinho acompanhado de lascas de bacalhau frito no azeite.

Nasce o Viva o Vinho

Em 2013 me casei com a Renata e ela logo se interessou em entender mais sobre este meu hobby particular. Em muito pouco tempo ela já estava definindo seu próprio estilo de vinhos, mais elegantes e aromáticos, e procurando aprender muito.

Plantação de Pinot Noir na propriedade da Concha Y Toro, no Chile

Visita à Concha Y Toro, no Chile, primeira vinícola que conhecemos “pessoalmente”

Logo no primeiro ano comemoramos meu aniversário em uma degustação seguida de jantar promovida pela World Wine, a World Wine Experience, o que rendeu o post inaugural dela em nosso site – A primeira degustação a gente nunca esquece. Foi divertidíssimo. Eu me lembro que dei a ela uma taça e falei: “Experimenta esse“. Ela provou, arregalou os olhos e disse: “Hummm esse é bom!“. Dei risada e informei que era bom que tivesse gostado, pois estava com um vinho de R$ 800 na taça.

O pai da Renata, que também é Antonio, nos acompanha nos vinhos

Nosso primeiro réveillon juntos foi em Santiago do Chile e nem preciso comentar que bebemos vinhos no almoço e no jantar todos os dias em que estivemos lá.

Paralelamente, estávamos juntando nossas competências para realizar projetos em comum. A Renata tem uma agência de comunicação e atua na geração de conteúdo e marketing digital e eu uma consultoria de TI e mais de 20 anos de Internet.

Dessa mistura de assuntos surgiu a ideia de termos uma plataforma de comunicação integrada, que juntasse um site de conteúdo com uma estratégia de redes sociais bem estabelecida. Ela seria o nosso cartão de visitas.

Foi nesse momento que percebemos que o assunto que mais nos unia era vinhos.

Assim nasceu o Viva o Vinho em 22 de junho de 2015, resultado de três meses de muito trabalho, que contou com o apoio do filho da Renata e sua namorada, Felipe e Debbie, publicitários responsáveis pelo blog de sucesso Pequenos Monstros. Tínhamos o site, a página no Facebook, perfil no Instagram, Twitter e Pinterest. Tudo trabalhando integrado.

Rapidamente o projeto evoluiu para termos um grupo de discussão no Facebook e, em dezembro de 2015, realizamos a primeira reunião de confraria virtual.

De lá pra cá, o Viva o Vinho ganhou vida própria e sua estrutura não parou mais de crescer.

Nosso debut como mídia em um evento foi em outro World Wine Experience. Nos sentimos reconhecidos e de lá fizemos também a nossa primeira transmissão ao vivo via Facebook. Foi incrível ver pessoas nos assistindo ao vivo, curtindo e interagindo por mensagens.

Revista Wine.com.br - Viva o Vinho

Revista Wine.com.br – edição setembro/2016

Passamos a frequentar a SBAV/SP, onde conhecemos pessoas incríveis, todos apaixonados por vinhos. Nas ótimas palestras praticamente semanais pudemos ir aprimorando nosso conhecimento e começamos a nos relacionar de maneira muito mais próxima com produtores, importadores, enólogos, sommeliers e outros experts desse meio.

Em junho deste ano, as degustações virtuais ganharam uma versão presencial em nossa casa, sempre com transmissões ao vivo, muita diversão e informação. São pessoas comuns, que conhecemos a partir do grupo Viva o Vinho, que querem dar sua opinião e contribuir com todos que desejam beber um bom vinho. Esses vídeos ficam disponíveis em nossa página no Facebook e, mais recentemente, no nosso canal no YouTube.

Em setembro, chegamos a ser capa da revista Wine.com.br, publicação direcionada aos assinantes do Clube W, com 230 mil exemplares. Um grande reconhecimento pelo nosso trabalho.

Hoje comemoramos o aniversário da primeira reunião da Confraria Viva o Vinho com o lançamento do VivaoVinho.Shop. O conceito dessa nova empreitada é divulgar boas opções de vinhos para pessoas que muitas vezes ficam em dúvida diante da grande variedade existente no mercado. Nosso slogan – A gente só vende o que experimenta – é a nossa garantia pessoal do que o visitante está comprando. Para comprovar esse conceito, associada ao vinho está uma foto realizada durante a degustação e a nossa avaliação escrita de maneira simples e direta.

Lançamento VivaoVinho.Shop - Viva o Vinho

Lançamento VivaoVinho.Shop

Felicidade

Nada disso seria possível se não fossem nossos avós e pais que cruzaram o Atlântico e vieram para cá em busca de trabalho, oportunidades e felicidade.

O gosto pelo vinho veio junto e está em nosso DNA.

Por tudo isso, este mês vamos homenagear todos os portugueses e seus herdeiros brasileiros abrindo vinhos dos dois países e brindando juntos!

No nosso caso, daremos preferência a vinhos do norte de Portugal.
Afinal, foi lá que tudo começou. Participem com a gente!

Comentários