Os vinhos italianos estão ganhando espaço no Brasil. Depois do Top Italian Wines Road Show, promovido em abril pela Gambero Rosso, agora foi a vez da World Wine reunir os seus parceiros do país da bota para o World Wine Experience Italia 2016. Foram realizadas duas versões do evento: uma no sábado, dia 7 de maio, na Casa da Fazenda do Morumbi, para consumidores; e outra na segunda-feira, dia 9 de maio, no hotel Grand Hyatt, para imprensa e profissionais. Nós participamos do evento na segunda-feira, dia 9, mas como estávamos viajando de férias, o post demorou um pouco para sair.

World Wine Experience Italia 2016

Toda a estrutura do evento estava muito bem organizada: havia mais de 100 rótulos para degustar, a maioria de vinhos top de linha dos produtores participantes.

Para acompanhar, os visitantes tiveram à sua disposição frios diversos da marca Ceratti, queijos da Tirolez e produtos La Pastina (proprietária da World Wine), como patês, antepastos, geléias, massas e molhos. Um excelente pit stop para os intervalos entre um vinho e outro.

O foco desta edição foram os vinhos da Itália, com a presença de 21 marcas consagradas de diversas regiões, como Piemonte, Toscana, Vêneto, Friuli, Abruzzo, Sicília, e até mesmo pequenas regiWorld Wine Experience Italia 2016ões produtoras, como Campania, Lombardia e Trentino. Entre as 20 vinícolas participantes, dez delas estavam representadas diretamente por seus produtores – fossem eles proprietários ou enólogos, e as demais por seus embaixadores e sommeliers.

“Acreditamos que a forma mais efetiva e prazerosa de conhecer um vinho ainda é provando. Foi pensando nisso que passamos a promover este evento, que possibilita aos nossos clientes o contato direto com quem os produz para conhecer as suas histórias e novidades”, comenta Celso La Pastina, sócio-proprietário da World Wine.

Os vinhos

World Wine Experience Italia 2016

Os produtores procuraram trazer ao evento seus vinhos mais especiais. Nas mesas era difícil escolher o que provar, em função da variedade e qualidade que encontramos.

Nós procuramos localizar os destaques e priorizá-los, pois iríamos participar de duas Master Classes e isso limitava um pouco o tempo disponível para circular no evento.

Dessa maneira, fugimos à ordem pré-estabelecida e iniciamos por um Zenith Vigne Vecchie Primitivo di Manduria D.O.P. Vigneti di Theo 2014, da região de Puglia. Um vinho muito, mas muito frutado, com aromas de cerejas e anis. Jovem. Apesar disso, muito redondo e com excelente persistência no paladar. Eu diria que demanda mais uns cinco anos para atingir a maioridade e demonstrar todo o seu potencial.

Na mesa ao lado encontramos os vinhos da Feudi de San Gregorio, uma vinícola que ficou famosa por utilizar um método pouco ortodoxo no período de afinamento de seus vinhos: eles descansam ao som de cantos gregorianos!

Ali experimentamos o Fiano di Avelino DOCG e o Greco di Tufo DOCG. Os dois são vinhos brancos da região de Campania. O primeiro, feito da uva Fiano, é bastante fresco e cítrico, lembrando um espumante sem as tradicionais “bolhinhas”. Já o segundo, bem mais interessante para o meu paladar, tem um toque mineral diferente.World Wine Experience Italia 2016

Entre os tintos desta vinícola, provamos o Rubrato IGT e o Taurasi DOCG. O primeiro não passa por madeira. Feito a partir da casta Anglianico, é frutado, aromático e possui acidez e persistência bem interessantes. Pode parecer um tanto adocicado para alguns. O segundo é mais meu estilo. Passa por 18 meses em barricas de carvalho, o que lhe confere uma personalidade marcante. É um vinho maduro, para ser apreciado com calma.

A próxima parada foi em uma das vinícolas mais interessantes da Sicília: a Donnafugata. Muitos dos seus vinhos têm nomes que remetem às histórias das mil e uma noites, em homenagem aos mouros que viveram na região da Sicília no século IX – Sedára, Sherazade, Mille e Una Notte.

World Wine Experience Italia 2016

Somos grandes apreciadores de vinhos produzidos a partir da uva Nero D’Avola e neste evento creio que degustamos os melhores exemplares que já tivemos oportunidade. Foram dois vinhos de estilos bem distintos, mas excelentes: o Mille e una Notte e o Sherazade.

O Sherazade é mais descompromissado, sem estágio em barricas, mas está longe de ser um vinho simples. Muito aromático e convidativo. Um vinho muito bom, que logo me fez lembrar de uma bela pizza Margherita.

Já o Mille e una Notte é notoriamente um top de linha. Um vinho complexo e marcante. Muito aromático e gastronômico, não passa despercebido na mesa e acompanha muito bem carnes vermelhas, massas com molhos condimentados e uma belíssima lasanha. Para a Renatinha, foi o melhor vinho do evento. Para mim, um vinho que mostra todo o potencial da casta.

World Wine Experience Italia 2016

Após a Master Class sobre Barolos, tivemos a oportunidade de provar alguns vinhos da vinícola Travaglini Gattinara que ainda não são comercializados no Brasil. A região de Gattinara, no Piemonte, é a quinta DOCG da Itália, uma das mais antigas do país, famosa por seus vinhos com uvas Nebbiolo.

Os vinhos que provamos foram Tre Vigne, Riserva e Il Sogno.

São três vinhos dignos de nota, muito equilibrados. O primeiro a ser degustado, Tre Vigne, é muito bem feito. Lembra um Barolo um pouco mais delicado, com toque de especiarias e é consideravelmente melhor que os tradicionais vinhos do Langhe. De acordo com a vinícola, tem de 15 a 20 anos de potencial de guarda.

Na sequência tivemos o Riserva, bem mais complexo e interessante. É produzido com uvas de vinhedos diferentes e passa por cinco anos de maturação antes de ser comercializado. No paladar, é notória sua persistência, com notas de eucalipto e alcaçuz. Possui uma acidez equilibrada e um toque mineral marcante. Um senhor vinho, muito elegante.

Para fechar, um vinho produzido com um processo semelhante aos Amarones. O Il Sogno é feito a partir de passificação das uvas por três meses e traz com isso todas as características de fruta e elegância. Seu processo de produção é único no Piemonte, com colheita prematura, realizada de 10 a 15 dias antes do normal. O Il Sogno é um vinho único.

Ainda degustamos mais alguns vinhos no evento, como um belo Valpolicella Superiore, um espumante bem bacana e um excelente Chianti Riserva.

Você pode conferir nossas impressões nos vídeos do evento em nosso canal no YouTube.

Vinho é fazer amigos

Já tem um tempo que notamos que um casal muito simpático, ativos participantes da Confraria Viva o Vinho, tem frequentado ótimos eventos, muitas vezes os mesmos que nós, mas nunca nos encontramos. Pois dessa vez aconteceu. Em pleno evento da World Wine surge o casal Artur e Fernanda.

World Wine Experience Italia 2016A risada foi imediata e nos pusemos a conversar a respeito dos eventos, gostos de cada um e, claro, dos vinhos.

Eles são proprietários de uma padaria, onde comercializam vinhos. Por serem do ramo, são convidados para diversos eventos sobre os produtos e sempre curtem muito.

Passamos bons momentos conversando. Pena que na hora em que estávamos gravando ao vivo, não encontramos o casal para dar um “alô” aos seguidores da página do Viva o Vinho. Eles estavam na sacada, apreciando a noite fresca e tomando um Barolo. Bom, é com certeza um programa imperdível, não acham? O vídeo fica para a próxima!

Poucos hábitos unem mais as pessoas do que abrir uma garrafa de um bom vinho e apreciá-lo.

Aprendendo sobre Barolos e Brunellos

Master Class Barolos - World Wine Experience Italia 2016

Durante o evento, tivemos a oportunidade de participar de duas Master Classes: uma sobre Vinhos do Piemonte, com a Gianni Gagliardo; e uma sobre Vinhos da Toscana, com a Castello Banfi.

Master Class Barolos - World Wine Experience Italia 2016A Master Class sobre Barolos foi conduzida pelo próprio Gianni Gagliardo, quinta geração da família que hoje conduz a vinícola com seu nome. Ele contou um pouco da história da vinícola, falou sobre os terroirs onde são produzidos os Barolos – são três na propriedade – e realizou uma degustação vertical do seu melhor vinho, o Barolo Preve, das safras 2009, 2010, 2011 e 2012.

Durante sua apresentação, Gianni deixou claríssima a preocupação com qualidade. Os vinhos são produzidos a partir de uvas colhidas de uma área específica da propriedade, que começou a ser implantada entre os anos de 2000 e 2001. Um fato interessante é que somente a partir de 2010 os vinhos foram produzidos a partir de uvas exclusivamente originárias dessa área, pois foi quando as plantas atingiram a robustez necessária. Ele nos convidou a perceber a diferença durante a degustação.

A produção é pequena e controlada. Segundo Gianni, a vinícola pratica um procedimento de poda da parte inferior dos cachos, com o objetivo de utilizar somente as uvas com a maior concentração de nutrientes, localizadas próximas ao cabo. Isso aumenta a qualidade do vinho. Master Class Brunellos - World Wine Experience Italia 2016Indagado se outras vinícolas realizavam o mesmo procedimento, ele não teve constrangimento em falar que de mais de 300 produtores do Piemonte, somente umas três ou quatro famílias o realizavam, buscando um produto diferenciado. O resultado são vinhos elegantes, macios, que dão um enorme prazer ao serem degustados.

Na Master Class seguinte foi a vez dos Brunellos. Apresentada por Phillippe Marconi, diretor de Exportações para as Américas, conhecemos a Castello Banfi, produtora de Brunellos com rigoroso controle de qualidade. A vinícola é muito conhecida por seu esplendoroso castelo, que também funciona como um hotel.

Master Class Brunellos - World Wine Experience Italia 2016Foi uma apresentação muito interessante. Um dos pontos abordados é que, ao contrário do que muitos podem pensar, não há um só estilo de Brunellos. Na própria degustação fomos apresentados a dois tipos distintos da Banfi, o Clássico e o Alle Mura. O Clássico é bastante conhecido por nós, já o Alle Mura passa por um estágio maior em barricas de carvalho francês, que lhe conferem mais corpo, taninos e elegância. É um vinho com maior complexidade.

Phillippe destacou que os produtores de Brunello devem seguir uma legislação específica, que determina que os vinhos têm de ser 100% Sangiovese, porém não há outros requisitos. Por conta disso, os Brunellos têm sofrido uma perda de imagem ao redor do mundo, por conta da irregularidade da qualidade. Segundo Phillippe, isso não acontece com os vinhos da Banfi, que tem um controle rigorosíssimo: seus vinhos devem ser sempre aristocráticos e elegantes. Um vinho que deve ser aberto e apreciado acompanhado de alguém especial, amigos e família.

Master Class Brunellos - World Wine Experience Italia 2016

Fotos: Emanuel Alexandre Tavares

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