Pois bem, apesar de um cenário que desde cedo se demonstrou atípico para os mais variados mercados, afetando principalmente o pequeno e o grande comércios, o setor vitivinícola foi capaz de se reinventar e inverter a situação. Com uma agilidade e capacidade de resiliência notáveis, quebraram-se os paradigmas causados pelo COVID-19.
Vamos então entender de que forma este mercado tomou partido das adversidades para crescer.
Novos hábitos de consumo são criados
De facto, a bebida à refeição, por prazer ou lazer, sempre fez parte do quotidiano de uma grande parte da população mundial. Porém, perante as adversidades, os próprios consumidores de vinho passaram a ter outras abordagens e hábitos diferentes quando o assunto é o vinho.
Uma vez que desde o início da pandemia muitos estabelecimentos foram fechados em prol da saúde pública, o conceito de partilhar vinho enquanto momento de experiência também foi modificado. Por isso, opções como o ar livre, chamadas de vídeo com amigos e familiares e até uma bebida para acompanhar um bom filme na Netflix passaram não só a ser meras alternativas, mas principalmente novas formas de desfrutar do seu vinho predileto, que a população, por pura necessidade, descobriu e inseriu no seu dia-a-dia.
A experiência de beber um bom copo de vinho passou a ser bastante apreciada com a pandemia, mais do que o ato de acompanhar o almoço com esta bebida, e os motivos apresentam-se variados e extremamente diferentes.
A nova realidade traz consigo também distintas variantes para os consumidores e, para além de ajudar a relaxar e ajudar a aproximar pessoas, pode mesmo estar associada a questões como ansiedade e solidão.
Um outro aspeto que tem vindo justificar o novo patamar do consumo de vinhos advém da sua associação à gastronomia. Com a pandemia, e consequentemente com a quarentena, as pessoas passam mais tempo nas suas casas e aventuram-se nos seus dotes de culinária, o que se reflete diretamente no mundo dos vinhos, seja no preparo dos pratos, seja para acompanhá-los depois de prontos. Cozinhar tendo como companhia um copo de um bom vinho gera conversas e bons momentos.
Pedir Vinho Online é a nova tendência para os amantes de vinho
Embora os supermercados continuem a assumir-se como um dos espaços de eleição para comprar vinho, novas formas de comércio intensificaram-se de maneira a dar resposta às necessidades dos seus consumidores.
Entre as principais estão as compras online, que beneficiam pela segurança que conferem em termos dos riscos de contaminação reduzidos. Assim, uma vez que muitos dos espaços físicos nos quais os produtores comercializavam os seus vinhos começaram a fechar, as marcas sentiram a necessidade de se reinventarem e aderiram ao mundo do digital.
Pelo globo fora, os consumidores demonstraram um enorme interesse em adquirir os seus vinhos através de plataformas de e-commerce, que também ajudam aqueles pequenos produtores — antes direcionados à restauração — a dar outro destino aos seus produtos. Foi o caso do marketplace VivaoVinho.Shop, que em pouco tempo reuniu mais de 40 produtores de Portugal, França e Moldávia, disponibilizando ao público vinhos antes somente encontrados em restaurantes ou casas especializadas.
De acordo com a European Association of Wine Economists (EuAWE) e a Cátedra Wine and Spirits do INSEEC, nesta pandemia 5,2% dos portugueses adquiriram pela primeira vez vinho através da internet. Os outros países não foram exceção e 8,3% dos italianos, 6,6% dos espanhóis e 4,6% dos franceses também efetuaram a sua primeira compra online de vinho em período de COVID-19. Com isso, outros benefícios surgiram, como a conquista dos mercados internacionais.
Porém, não só o setor vitivinícola se rendeu ao e-commerce, mas também se moldou a novas tendências do digital, como é o caso das degustações online que atraem principalmente amantes de vinho com idades compreendidas entre os 30 e os 50 anos. Diretamente relacionado a este setor está o enoturismo, que passou a usufruir dos seus canais online e a utilizar estes recursos para divulgação e integrar os turistas nas suas atividades.
Consumo de Vinho no Brasil Aumenta e Atinge Números Surpreendentes
O vinho passou a ser uma bebida mais presente na mesa e na vida dos brasileiros com o começo da pandemia e, segundo uma pesquisa desenvolvida pela Ideal Consulting voltada para os meses de abril a junho, o consumo desta bebida alcoólica cresceu em 72%, reflexo dos cerca de 2,81 litros consumidos por pessoa. Consequentemente, a comercialização também aumentou e foram vendidos cerca de 200 milhões de rótulos, tanto importados como nacionais.
Os vinhos brasileiros destacaram-se no panorama do país e cresceram cerca de 86,4% neste período, de acordo com a Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul (ABS-RS). Dentro das produções nacionais, os vinhos finos demonstraram a maior expressão ao apresentarem um crescimento no primeiro semestre do ano de 50%, por comparação aos mesmos meses em 2019. Em segundo lugar, os vinhos de mesa também se posicionaram com força neste cenário e cresceram 39%, alcançando os 45 milhões de litros. Por outro lado, os vinhos importados representaram um crescimento de 8%, o que se reflete em 10 milhões de litros de vinho.
A exceção ficou por conta dos espumantes, que não se demonstraram tão propícios à nova realidade, já que se encontram fortemente associados a festas e celebrações, estando muito ligados ao setor dos eventos. Num contexto em que a vontade de brindar não é muita, este tipo de vinho viu-se realmente afetado na primeira fase da pandemia e o seu consumo reduziu em 2%.
Empresas como a Cooperativa Vinícola Garibaldi viram este decréscimo chegar mesmo aos 25%, o que fez com que a produtora se empenhasse ainda mais na venda dos seus vinhos.
Com isso, o cenário mudou de maneira surpreendente e no mês de setembro a cooperativa viu os seus espumantes crescerem 55% em vendas, comparativamente ao mesmo mês em 2019. Assim, a empresa estima um crescimento de 30% para o último quadrimestre de 2020, com uma visão confiante e determinada.
E por Terras Lusitanas? Exportação de Vinhos Assume um Grande Peso na Economia do País
Entre o povo português o vinho sempre marcou uma forte presença no seu dia a dia, assumindo-se como uma das opções de eleição na hora de escolher uma bebida. Perante este cenário considerado, no mínimo, particular, a European Association of Wine Economists (EuAWE) e a Cátedra Wine and Spirits do INSEEC debruçaram-se sobre o assunto.
Vinhas do Casal da Coelheira, na região do Tejo
As exportações em Portugal aumentaram de forma substancial entre os meses de janeiro e agosto, com um crescimento de 2,3% em valor e 3,4% em volume, por comparação ao mesmo período no ano anterior.
Este cenário demonstra-se otimista perante outros mercados europeus cujas exportações de vinho diminuíram, sendo o país capaz de vender mais de 67 milhões de euros em vinho internacionalmente, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Caves da Quinta do Carneiro, na região de Lisboa
No que diz respeito aos mercados tradicionais para a exportação portuguesa, destacam-se os Estados Unidos, com um aumento de 9,7% em valor e 16,9% em volume; e o Brasil, com um crescimento marcado nos 14,3% em valor e 16% em volume.
Além desses, os mercados nórdicos destacaram-se neste panorama junto dos produtores portugueses, com índices de crescimento que rondam os 40%, em valor e em volume.
A Prosperidade do Setor
Em tempos de crise para muitos setores, o universo vitivinícola está conseguindo crescer. Ainda assim temos que ter atenção aos pequenos produtores, que têm uma dificuldade maior em apresentar seus produtos sem os eventos tradicionais e não possuem volume de produção para estar presentes em supermercados ou exportar.
O fato é que as pessoas continuam a provar a sua preferência por este tipo de bebida para diferentes momentos do dia, criando igualmente novas oportunidades de beber vinho.
Diversas marcas e produtores de vinho mostram-se otimistas com o ano de 2020 e chegam mesmo a afirmar que as datas comemorativas do último trimestre do ano vão ser capazes de alavancar ainda mais este consumo.
Por conseguinte, as próprias exportações vão continuar a crescer e podem ser conquistados novos mercados, sem nunca desmerecer a importância do mercado local.