A terminar, o ano de 2021 ficou marcado pela inauguração da nova adega da Lavradores de Feitoria, “consórcio” de produtores do Douro, que conta já com 21 anos de existência, 20 quintas e um consistente portefólio de vinhos – onde se destacam as marcas Lavradores de Feitoria, Cheda, Três Bagos, Meruge e Quinta da Costa – e é liderado pela CEO Olga Martins – que foi ontem, dia 14 de Dezembro de 2021, uma das porta-vozes das comemorações dos 20 anos do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. Acionistas, equipa e clientes têm agora uma “casa”, que lhes permitirá dar continuidade à pegada já deixada pela Lavradores de Feitoria, aportando ainda mais qualidade aos vinhos ali produzidos. Importa recordar que a LF foi criada em Setembro do ano 2000, sob um modelo de negócio inovador, em que produtores de pequena escala se uniram para criar uma empresa una.

A nova adega da Lavradores de Feitoria mantém-se fiel ao concelho de Sabrosa, mas agora num local privilegiado: a Quinta do Medronheiro. Com 8 hectares de área total e situada na sub-região do Cima Corgo, entre os 540 e 580 metros de altitude e exposição sul, esta propriedade já foi comprada com capital da empresa, em 2008. Um terroir ideal para a plantação de uvas brancas, onde a aposta foi nas castas Viosinho, Gouveio e Boal, ao longo de cerca de 6,5 hectares de vinha biológica.

Na concretização deste projeto, da vinha à adega, a Lavradores de Feitoria investiu cerca de 3,55 milhões de euros, entre a compra da quinta, obra, equipamento e honorários. O projeto é da autoria do reconhecido arquiteto Belém Lima, uma escolha que foi natural, por gostarem do seu trabalho e por ser da região, o que permitiria uma parceria mais estreita, com muito envolvimento da equipa da Lavradores de Feitoria. Este foi, curiosamente, o seu primeiro projeto de adega, tendo, contudo, de ficar alguns anos em stand by.

A nova adega da Lavradores de Feitoria prima pela originalidade do material de construção: a estrutura é em betão armado pré-fabricado, assim como as paredes exteriores, que são painéis com isolamento nas peças. Com um padrão texturado e onde impera a cor do xisto da vinha, o molde foi escolhido e feito em exclusivo para a Lavradores de Feitoria. Uma opção eleita pelo custo e eficiência térmica, que associada à produção de energia através de painéis fotovoltaicos e ao tratamento de águas para a vinha, avolumam o braço da sustentabilidade da empresa. Com uma área com 3775 metros quadrados, tem uma capacidade de vinificação de 1500 pipas, de engarrafar 20.000 garrafas por dia. De notar que o equipamento sempre foi de excelência, havendo sim necessidade de espaço. Assim, no que toca ao armazenamento, ronda, atualmente, os 300.000 litros. Valores passíveis de aumentar, caso seja necessário, uma vez que isso foi tido em conta na localização e na modelação do edifício. Há condições para aumentar a adega, de forma estruturada e integrada na paisagem. Esta é uma adega moderna, em que a inovação faz parte dos equipamentos. De notar a ausência dos tradicionais lagares de pedra, algo que foi pensado, na medida em que existem nas diferentes quintas dos produtores acionistas da Lavradores de Feitoria e é algo que faz sentido preservar, em atividade. Há, contudo, dois lagares em inox, que vieram das antigas instalações. Para além da parte produtiva, o edifício comporta ainda os escritórios da empresa e uma sala de provas e loja de vinhos, que estarão no ativo em 2022, passando a Lavradores de Feitoria a acrescentar a vertente de enoturismo.

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Os Lavradores de Feitoria

2019, 2020 e 2021: o retrato de três anos bastante heterogéneos

Em 2020, ano complexo e jamais repetível na história mundial, a Lavradores de Feitoria completou duas décadas e iniciou a construção da sua tão esperada adega. “Estávamos em instalações arrendadas, divididas em dois espaços. O contrato de construção desta nova adega foi assinado em Dezembro de 2019, a obra teve início em Janeiro de 2020 e terminou este ano. A mudança foi feita de forma gradual, até estar tudo a postos para a vindima. Depois de iniciada a obra e mesmo com a avalanche que a pandemia provocou, tínhamos como objetivo não parar; isso e não colocar nenhum dos 13 funcionários em lay-off, porque iria ter impacto imediato, com contenção do consumo diário e retração da economia local. A Lavradores de Feitoria nasceu com um propósito de compromisso social e queremos honrá-lo!”, afirma Olga Martins, CEO da empresa.

No que toca aos números, a Lavradores de Feitoria estava com um crescimento sustentado, em produção e vendas. No que toca à produção, em 2019 rondou os 803.000 litros, valor que caiu para os 471.500 litros, em 2020. Não se verificou, contudo, uma quebra de faturação, com o ano de 2020 a atingir quase 2 milhões de euros, em que a fatia internacional ultrapassou a barreira dos 50%. Houve mercados externos que reagiram muito positivamente: Canadá, Noruega, Brasil e Inglaterra. As perspetivas deste ano são animadoras, do ponto de vista do negócio, que deverá crescer entre 5 e 10%, mas também da produção, com um incremento de 20 a 25% face à média anual do Douro. “Para a Lavradores de Feitoria, as perspetivas são, acima de tudo, muito positivas no que toca à qualidade, dos vinhos e das condições de trabalho, o que é fundamental para fixar os nossos colaboradores e imbuí-los, ainda mais, do espírito de união que nos caracteriza. Estarmos numa casa nova, pensada ao pormenor, permite-nos isso, mais até do que pensarmos num crescimento em volume. Esta nova adega introduz um grande upgrade no estágio dos vinhos, em barrica e em garrafa. Isto vai permitir-nos cumprir requisitos necessários para determinados mercados e, por conseguinte, crescer.”, afirma Paulo Ruão, Diretor de Enologia, que anuncia a produção de vinho do Porto como outra novidade deste ano.

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